Nos últimos anos, muitas empresas se viram obrigadas a ativar o modo "sobrevivência". A instabilidade na geopolítica mundial, a pressão da inflação sobre as cadeias de suprimentos, as mudanças no mercado de trabalho e o forte impacto da alta dos preços no custo de vida da população tornaram o mercado volátil e cada vez mais incerto.
Tamanha imprevisibilidade assusta muitos líderes empresariais, que se sentem tentados a fechar as escotilhas para se resguardar em meio à tempestade. Para eles, é melhor proteger o que se tem até que os tempos melhorem, deixando toda e qualquer ambição de crescimento em espera. Uma postura compreensível quando pensamos que grandes investimentos podem trazer um risco maior, porém não tão indicada ao considerarmos que os negócios não podem parar e precisam sempre seguir melhorando frente à concorrência. Parar significa colocar a organização em uma posição vulnerável e em uma trajetória arriscada da qual pode-se nunca mais sair.
Em meio à análise, entre a cruz e a espada, o caminho do meio reluz como ouro. Nele, não é preciso gastar para fugir do perigo e nem enfrentá-lo sem o preparo necessário. Se você olhar para o que tem, poderá descobrir que detém tudo aquilo que precisa para enfrentar as mais fortes tormentas. Basta olhar ao redor para encontrar exemplos contundentes que seguem essa lógica, como foi o caso recente das instituições de ensino. Quando começou a pandemia, elas foram obrigadas a fechar as portas, mas a educação não podia parar - e não parou. As escolas analisaram o que tinham: laptops, softwares de comunicação e, praticamente da noite para o dia, nasceu a educação remota em massa.
Conheça o que você possui
Para conseguir encontrar a melhor saída para seguir crescendo mesmo em meio às adversidades, o primeiro passo é ter calma e buscar entender todo o stack de tecnologia e software que a empresa tem à disposição. Em tempos de bonança, nem sempre usamos todo o potencial das ferramentas que temos no portfólio. Compramos as soluções para implementar em determinada situação e, em muitos casos, deixamos vários de seus recursos sem uso. É preciso reavaliá-las e maximizar o que já se pagou.
É simples: se você comprar TI por subscrição, por exemplo, como um serviço de nuvem, você sabe quais outros recursos estão incluídos? Suporte técnico, atualizações de segurança, consultoria de negócios, educação e treinamento, networking, análise e contribuições para a jornada de um fornecedor podem (ou talvez devam) ser alguns dos recursos dessa assinatura. Muito facilmente, esses elementos podem ser considerados acessórios e ficar esquecidos. No entanto, aproveitá-los pode ser a resposta para otimizar o stack tecnológico e executar a TI de maneira mais econômica.
Envolva as pessoas
O próximo passo seria olhar para um dos seus principais ativos: sua equipe. As empresas podem ficar excessivamente obcecadas com os cargos, mas os títulos contam apenas parte da história: o que uma pessoa faz, não o que ela pode fazer. As habilidades de auditoria são um exercício valioso: talentos previamente desconhecidos sempre são descobertos e podem ser realocados para funções mais importantes para o negócio.
Depois, há o seu ecossistema. Você pode nem perceber que faz parte de um. Mas pense em todas as empresas com as quais você está em contato, sejam elas clientes, fornecedores, agências ou parceiros de tecnologia. É provável que todos sintam as mesmas pressões que você. Aproveite esses relacionamentos. Ao estender a mão e perguntar como pode ajudar, você ativa o princípio da reciprocidade. A recompensa pode vir por meio de contratos mais favoráveis, contribuições para o desenvolvimento de produtos ou com um par de olhos a mais para ajudar a superar os desafios. Quando colaboramos, coisas incríveis acontecem.
O poder de ser aberto
Tudo isso é mais fácil a partir de uma abordagem aberta, baseada em pessoas, processos e tecnologia, que torna o caminho muito mais simples e seguro, conduzindo a melhores decisões e mantendo as organizações na vanguarda da inovação e da experiência do cliente. As empresas que investem nesse modelo veem uma evolução significativa, superando desafios por meio da colaboração e com processos muito mais integrados. A combinação de tecnologias open source com uma cultura aberta cria um espaço efervescente, propício à criatividade, à troca de ideias e à inovação de forma ágil e eficiente.
Inclusive as instituições de ensino estão encontrando no open source uma forma para democratizar o acesso à educação e de criar um espaço de inovação educacional que visa diminuir o gap existente entre as demandas do mercado e a oferta de profissionais especializados nas tecnologias em expansão. Há um movimento crescente para introduzir alternativas de código aberto no ambiente universitário, que vem trazendo resultados bastante positivos em várias partes do mundo.
Um stack de código aberto é maleável, permitindo que você alterne nitidamente entre diferentes ambientes de infraestrutura e explore novas integrações entre softwares interoperáveis. Em uma cultura aberta, a mudança e a colaboração são valores obrigatórios. Comunidades não são um conceito etéreo, mas ecossistemas altamente organizados com processos definidos de engajamento.
Recente relatório da IDC sobre o valor das assinaturas da Red Hat, fornecedora líder mundial de soluções open source corporativas, mostra que as organizações reduziram seus custos operacionais em 35% em três anos, suas equipes de infraestrutura de TI ficaram 38% mais eficientes e as equipes de desenvolvimento foram 21% mais produtivas. Além disso, as empresas que investiram em tecnologia de código aberto e na cultura que a acompanha estavam mais bem preparadas para enfrentar tempos difíceis: 92% acreditam que as soluções foram importantes para enfrentar seus desafios relacionados à pandemia.
Os problemas que as empresas enfrentam são múltiplos, complexos e cíclicos. Não faz muito tempo, tiveram que lidar com o colapso financeiro global mais severo desde a Grande Depressão. Do nada, apareceu a COVID-19 para mudar completamente a vida como conhecemos. Se somarmos a isso as crises "locais" (quedas de governos, perda de força das moedas, inundações e incêndios florestais) às quais a América Latina sempre esteve mais exposta, a lição é que sempre é preciso esperar o inesperado e estar preparado. E, para isso, é necessário buscar encontrar valor dentro de casa, nas coisas que você já tem e que podem oferecer ainda mais potencial. É identificar e construir uma base sólida agora para a agilidade que inevitavelmente será fundamental no futuro.
*Paulo Bonucci é SVP e General Manager da Red Hat para a América Latina