O debate sobre melhorias e avanços na infraestrutura do transporte de cargas no Paraná vai além de trazer melhores condições para escoar a produção das empresas e cooperativas paranaenses. A evolução da malha rodoviária e da malha ferroviária, 85% concentrada na Malha Sul, cuja concessão vence em menos de três anos, é fundamental também para o País.
Destaque no cenário nacional da produção de alimentos, o Paraná é um dos pilares que tornam o Brasil cada vez mais peça-chave no cenário mundial. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), o Brasil é o maior exportador de alimentos industrializados do mundo em volume e o 5º em valor. Foram US$ 62 bilhões em exportações no ano passado, representando 18,3% do total brasileiro.
O País é o maior produtor e exportador de suco de laranja e açúcar, segundo maior produtor e maior exportador de carne bovina e carne de aves, e segundo maior exportador de café solúvel e óleo de soja. Cerca de um terço das aves exportadas no mundo saem do Brasil e o Paraná já representa mais de um terço da produção nacional, por exemplo. Tudo isso sem esquecer do mercado interno, que consome 73% do total da produção da indústria de alimentos. O setor é responsável por 25,7% dos empregos da indústria de transformação e representa 10,8% do faturamento no Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
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Contudo, mesmo com a importância de ser o ‘supermercado do mundo’, as condições para levar os produtos para fora estão longe das ideais e bem distante das primeiras posições que ocupa, como no setor de alimentos. No último Índice de Desempenho Logístico (LPI – Logistics Performance Index), divulgado em 2023 pelo Banco Mundial, o Brasil ficou na 51ª posição em um ranking com 139 países analisados. O levantamento foi feito três anos após as disrupções sem precedentes na cadeia de abastecimento durante a pandemia da Covid-19, quando os prazos de entrega dispararam.
Esse índice mede a capacidade dos países transportarem mercadorias através das fronteiras com rapidez e confiabilidade, desde a facilidade de estabelecer conexões confiáveis na cadeia de abastecimentos e os fatores estruturais que o tornam possível, passando pela qualidade dos serviços de logística, as infraestruturas relacionadas aos transportes, ao comércio e os controles fronteiriços.
A coautora do relatório do LPI e economista sênior do grupo de Prática Global de Macroeconomia, Comércio e Investimento do Banco Mundial, Christina Wiederer, destaca que ‘embora a maior parte do tempo seja gasto no transporte marítimo, os maiores atrasos ocorrem em portos marítimos, aeroportos e instalações multimodais. E as políticas direcionadas a essas instalações podem ajudar a melhorar a confiabilidade’.
Entre as políticas citadas pelo relatório estão o investimento em infraestrutura e o incentivo à logística ambientalmente sustentável, mudando para modos de frete menos intensivos na emissão de carbono e armazenamento mais eficiente em termos energéticos. No caso do Paraná, a expansão do modal ferroviário, seja em sua extensão, bem como uma maior utilização da atual malha, vai ao encontro das sugestões do estudo. E o Brasil, de uma maneira geral, pode se espelhar no modelo de um país ao norte para se inspirar.
“A matriz norte-americana, até pela característica territorial brasileira, é a que mais reflete o que deveríamos ter. Nos EUA, a matriz de transporte tem a participação ferroviária de 43%, e rodoviária de 52%, com os demais modais completando. Aqui, mais de 60% é rodoviária e a ferroviária chegou recentemente a 27% [dois terços do total de minério de ferro], é pouco [e maior que no Paraná]. Então se nos basearmos em uma matriz mais bem distribuída, eu diria que o Brasil não precisa chegar a tanto, mas a participação rodoviária tem que ficar por volta de 50%, com uma matriz ferroviária de uns 38% a 40%, seria ótimo”, analisa o Coordenador do Núcleo de Infraestrutura, Supply Chain e Logística da Fundação Dom Cabral, Paulo Tarso Vilela de Resende.
Esse ‘desequilíbrio’ estrutural impacta diretamente em prazos e custos. A própria Dom Cabral apresentou um estudo pré-pandemia mostrando que o custo do transporte, considerando todos os diferentes modais e setores da economia, consumia o equivalente a 12,37% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O pior resultado entre as 20 maiores economias do mundo e bem acima dos 8,5% dos EUA, ou seja, 45% superior.
“É importante aumentar a participação de ferrovias de 12% e 15%. Temos que mirar essa redistribuição mais ou menos como nos Estados Unidos, porque nós temos condição de fazer isso. Lá tem rio, aqui tem rio, lá tem ferrovia, aqui tem menos, lá tem rodovia, aqui tem demais. A comparação é essa, não precisa ser os mesmos números, mas andar nessa direção”, diz Resende.
Presidente da Coopavel, Dilvo Grolli também cita os EUA como exemplo para o Brasil e o Paraná se espelharem, pelo fato do alto uso do transporte férreo e uso superior do fluvial. “O transporte fluvial é o mais barato, mas aqui no Paraná os principais rios correm do leste para o oeste e outros no sentido oposto tem hidrelétricas, então o mais viável seria o ferroviário. Quando o produto dos EUA é vendido no exterior, não é porque nós pagamos uma logística mais cara que o nosso produto vale mais, o preço do exterior é um só. E aí os EUA tem mais competitividade do que nós. Nosso maior entrave hoje é a área de logística para produção”, resume.
Resende também defende uma maior presença ferroviária no Paraná. “Em termos de ferrovia, eu vejo um risco para o Paraná. A ferrovia está se consolidando muito do Centro-Oeste para Santos, antes ele era muito [do granel agrícola] de lá para Paranaguá, vejo como um risco de ser perdido. A mesma integração do Centro-Oeste com Santos tem que ter do Centro-Oeste com Paranaguá, a mesma visão”.
O projeto da Nova Ferroeste, que hoje faz apenas o ramal Cascavel-Guarapuava, propõe um corredor ferroviário de 1,5 mil quilômetros desde Maracaju, no Mato Grosso do Sul, até o Porto de Paranaguá, que faria essa ligação com o Centro-Oeste. Pelo cenário atual, a intenção do Governo do Paraná é fazer a concessão com esse projeto na B3 em 2025.
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