Nas últimas décadas, ninguém cresceu mais do que a China. Depois da morte do líder da Revolução Chinesa, Mao Tsé-Tung, em 1976, o gigante país asiático foi gradualmente aderindo ao capitalismo e à economia de mercado. Aos poucos, os resultados também começaram a aparecer, principalmente a partir da década de 1990, quando o planeta começou a observar o maior crescimento econômico do mundo, muitas das vezes na casa dos dois dígitos e de forma consistente.
De 1992 a 2011, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês teve uma alta média anual de 10,5%, com dez dos 20 anos acima dos 10% e picos acima dos 14% tanto em 1992 quanto em 2007. De 2012 para cá, Pequim segue em expansão, mas em menor ritmo, principalmente após a pandemia (embora em 2023 tenha crescido 5,2%, acima da meta de 5%). Na eclosão da Covid-19, em 2020, o país ainda conseguiu crescer 2,2%, enquanto as economias brasileira e norte-americana, por exemplo, ‘encolheram’ mais de 3% cada.
Leia mais sobre o Sistema Fiep:
Nem todos sabem, no entanto, que uma região do Paraná cresce há mais de uma década em patamares superiores que o chinês em seu auge, e longe da capital Curitiba. No que tange ao PIB Industrial, o Paraná como um todo cresceu 110% no período acumulado de 2011 a 2021, segundo levantamento da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) e do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social), mas na região Oeste esse percentual foi ainda maior, de 178,6% – média anual acima dos 16%.
“Todas as regiões do Estado apresentaram crescimento no PIB Industrial superior a 80% nesse período. E no Oeste, que hoje já responde pelo segundo maior PIB Industrial do Paraná, esse crescimento de 178% foi muito ancorado nos investimentos das cooperativas na transformação daquilo que é produzido no campo”, explica o presidente da Federação das Indústrias do Paraná, Edson Vasconcelos. Em 2021, por exemplo, a região era a que tinha o maior peso da indústria na composição do seu próprio PIB, 33% do total, à frente inclusive de Curitiba e Região Metropolitana, com 32%.
“Nós industrializamos 90% da nossa produção. Na área de grãos para exportação, nós industrializamos 100% e ocupamos 100% das nossas indústrias. A Coopavel tem 14 agroindústrias em funcionamento, ela agrega o valor nos grãos em torno de 90%, então ela não exporta grãos (commodity) in natura”, exemplifica o presidente da Coopavel, sediada em Cascavel, Dilvo Grolli, sobre as unidades como as de esmagamento de soja, rações e bioinsumos.
Em 2023, a Cooperativa Agroindustrial de Cascavel recebeu mais de um milhão de toneladas (entre soja, milho e trigo) e, em outro pilar de suas atividades, pela primeira vez ultrapassou a marca de 60 milhões de aves abatidas, da qual exportou cerca da metade da produção. “Quando você vai exportar uma tonelada de soja em Paranaguá, por exemplo, seria em torno de 500 dólares. Já uma tonelada de carne de frango custa em torno de 2.000 a 2.500 dólares, o que quer dizer isso? Você agrega quatro, cinco vezes o valor em relação aos produtos primários, que nem soja e milho”, diz Grolli.
Vasconcelos lembra que atualmente o setor de fabricação de alimentos já responde por quase 40% do faturamento da indústria do Paraná e isso também se reflete no emprego. No Oeste, o crescimento ‘chinês’ fez a expansão do emprego industrial da região ser a maior do Estado, com avanço de 45,2% ante 11,8% da média estadual de 2010 a 2022, que teve crescimento em todas as regiões exceto a de Curitiba e RMC, até em virtude da descentralização industrial ocorrida no período.
Segundo a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2022, do Ministério do Trabalho e Emprego, 39% dos empregos, ou mais de 53 mil postos, eram somente no segmento de abate de suínos, aves e outros pequenos animais. Somando os demais segmentos da indústria alimentícia, o percentual ficou próximo da metade das vagas.
Para Grolli, todo esse crescimento exponencial pode ser afetado caso não haja um avanço logístico que seja acompanhado pela redução do preço do frete. “De 2020 a 2023, a Coopavel investiu mais de R$ 1 bilhão e os investimentos programados para os próximos quatro anos serão na casa de R$ 1,2 bilhão. Temos que ter economia de escala, logística eficiente, se não vai comprometer a rentabilidade. Se tivermos rentabilidade menor, nós perdemos poder de investimento. Não é que vai parar de ter investimento, mas te deixar menor margem para isso. O lucro faz parte dos futuros investimentos e se o custo afeta sua margem, isso é fator de menos investimentos no futuro”, explica.
Esse avanço passa, entre outros fatores, pelo maior uso do modal ferroviário na região Oeste, que tem não só a demanda com um potencial de aumentar ainda mais sua produção, como também está distante em média 600 km do litoral mais próximo (ou no caso o Porto de Paranaguá), distância na qual as ferrovias se tornam mais competitivas e uma opção de transporte mais barata que o modal rodoviário. É nesse cenário que o fim da concessão da Malha Sul no início de 2027, malha que representa mais de 2 mil dos quase 2,3 mil km dos trilhos do Paraná, se faz importante para contemplar as necessidades atuais e futuras.
Atualmente, no entanto, mais de 90% das 12 milhões de toneladas movimentadas por trilhos ao Porto de Paranaguá, atendido pela Malha Sul, foram na linha que vai ao norte e ao noroeste do Paraná. Ou seja: muito pouco no Oeste, por onde a malha também vai utilizando o trecho pertencente à Ferroeste (de Guarapuava a Cascavel).
Também atual presidente do conselho administrativo da Cotriguaçu, formada pelas cooperativas filiadas Copacol, Lar, C. Vale e Coopavel, Grolli ilustra essa diferença no preço. “Numa distância de 1.000 km, o custo do transporte de uma tonelada de soja via ferrovia seria em torno de uns R$ 200, mas no rodoviário isso vai para R$ 300. Fazendo essa conta na nossa realidade de 600 km, ficaria R$ 120 a tonelada de soja no trem de Cascavel a Paranaguá, enquanto R$ 180 no caminhão, ou seja, R$ 60 de diferença. Transformando isso em saca de 60kg, são R$ 3,60 a mais por saca de soja. Todas essas quatro cooperativas do Oeste têm o foco muito idêntico: insumos, grãos, carnes e outras agroindústrias. A dor só muda de endereço: uma tem sede em Cascavel e as outras em Medianeira, Palotina e Cafelândia”, diz.
Clique aqui para acessar todos os conteúdos do Sistema Fiep!