Em 2023, o Paraná passou o Rio Grande do Sul e se tornou o quinto maior exportador do Brasil, puxado pela soja e a carne de frango
Em 2023, o Paraná passou o Rio Grande do Sul e se tornou o quinto maior exportador do Brasil, puxado pela soja e a carne de frango| Foto: Divulgação
  • Por Sistema Fiep
  • 05/06/2024 11:24

Além de bater um novo recorde de exportações em 2023, com US$ 25,2 bilhões em receitas, 13,7% a mais que o ano anterior e bem acima da média do país, que teve alta de 1,7% no mesmo período, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Paraná segue com ritmo forte neste ano. Em janeiro, o estado ficou entre os três maiores exportadores do agronegócio (atrás somente de São Paulo e Mato Grosso), reforçando sua vocação de ‘alimentar o mundo’.

Foram US$ 1,4 bilhão em exportações do agronegócio, representando 12,62% de todas as vendas para fora do país, um aumento de cerca de 35% em relação ao mesmo mês do ano anterior (acima da alta de 14,8% nacional), de acordo com levantamento realizado no sistema Agrostat, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Encabeçando esse resultado, os principais destaques foram o setor do complexo soja, que representou 43,7% de todas as vendas externas do estado, com um montante de US$ 643,1 milhões; o setor de carnes, com US$ 305,3 milhões, sendo o frango responsável por quase 90% do todo (US$ 269,2 mi); e o setor de produtos florestais, que somou US$ 210,7 milhões.

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Em 2023, o Paraná passou o Rio Grande do Sul e se tornou o quinto maior exportador do Brasil, puxado justamente pela soja e a carne de frango. Mas o crescimento e o apetite, tanto de outros setores da alimentação quanto de clientes mundo afora, é grande.

A Frimesa, central de cinco cooperativas paranaenses que atua na cadeia industrial de carne suína e lácteos, é uma das que está de olho na abertura de novos mercados. “O Paraná está batalhando para ter mais habilitações em países que não temos acesso atualmente devido à vacinação aftosa de bovinos suspensa há três anos. Os negócios demoram a se concretizar devido à habilitação e aceitação do mercado que vai receber os produtos, mas isso está avançando e novos países devem entrar em breve e ampliar nosso mercado de carne suína para nações como Filipinas, Chile, México, Coreia do Sul e Japão. São grandes consumidores sem acesso hoje”, explica o presidente da Cooperativa Central Frimesa, Elias José Zydek.

Atualmente a cooperativa sediada em Medianeira exporta 25% do volume produzido, mas o plano é aumentar esse percentual. A esperança de Zydek é que o estado tenha um plano logístico robusto para suportar o crescimento do setor produtivo. “Estamos no Oeste, e o esforço de logística é muito grande tanto para o mercado nacional quanto para a exportação devido à distância. A Frimesa e diversas empresas da região cresceram na ordem de 10% ao ano na última década e a logística cresceu 0%”, diz.

Quase que totalmente sustentada pelo modal rodoviário para transportar seus contêineres de produtos congelados e resfriados, a cooperativa faz apenas testes esporádicos no ramal ferroviário mais próximo, em Cascavel. “Uso muito pouco, tenho produtos congelados, perecíveis e necessito de uma malha ferroviária mais rápida, eficiente. Nós fizemos alguns testes, mas é demorado. Nosso contêiner não pode ficar 10, 12 dias nos trilhos, precisa chegar lá [no Porto] em 48h, ou no máximo três, quatro dias. Tenho uma programação de navios e dessa forma é impraticável”, resume.

Com crescimento galopante, abatendo 13 mil suínos por dia contra oito mil diários há três anos, e com planejamento de chegar a 23 mil cabeças abatidas em 2030, a empresa admite que pode colocar o pé no freio se nada significativo for feito nos próximos anos. “Se tiver gargalo, eu vou atrasando esse projeto. É indispensável avançar, estamos falando de um projeto com visão de médio e longo prazo, com todos os modais em conjunto. Não adianta fazer estrada sem melhorar o porto, ou melhorar o porto sem ferrovia, ou rodovia boa”, analisa Zydek.

A Coamo Agroindustrial Cooperativa, de Campo Mourão, com mais de 31 mil asssociados e líder no ranking de exportadores dos Portos do Paraná em 2023, sendo responsável por mais de 14% de todo o volume embarcado por Paranaguá, vê alguns sinais de avanço na região, com novos leilões de áreas para armazenagem e movimentação, expectativa de novos espaços para atracação na baía, além do Moegão, estrutura em execução pelo próprio porto que dará maior celeridade nas descargas dos trens.

Só em 2023, a Coamo obteve volumes recordes de exportação, especialmente de soja, farelo de soja e milho, atingindo 4,86 milhões de toneladas de produtos (crescimento de 131% em relação a 2022) e faturando US$ 2,23 bilhões, 88% a mais que no ano anterior (e mais de 35% da receita total da cooperativa). Com três fábricas de processamento de soja esmagando 8,1 mil toneladas/dia, dos quais 80% são exportados, o diretor de Logística e Operações da Coamo, Edenilson Oliveira, ressalta a importância de todo o sistema logístico, destacando a velocidade do crescimento da produção. “Há seis anos, uma produção de 50 sacas de soja por hectare era considerada boa, mas hoje isso já está na casa das 70. Com tecnologia e novas práticas cresceu a produtividade na mesma área e maior produção implica em maior necessidade de infraestrutura, seja no porto ou nas rodovias e ferrovias”.

Oliveira lembra que para certos produtos, como grãos, não há momento exato para venda. Segundo ele, com o alto volume, na virada do ano vários navios esperaram mais de três meses para embarcar a carga. Um chegou a 105 dias de espera. “O cara que está comprando do outro lado também tem uma necessidade, ele está esperando. A hora que tem atrasos inesperados nessa cadeia você perde credibilidade. É um problema muito sério quando acontece isso, pois além de todo o custo da espera do navio [que o produtor paga], outro custo mais difícil de mensurar é esse da credibilidade”.

Em um cenário de pouca melhora no futuro próximo, o diretor logístico diz que a cooperativa e os produtores vão seguir buscando alternativas para crescer. “Vai se buscar naturalmente outras alternativas. Com a infraestrutura atual, o porto [de Paranaguá] atingiu basicamente o teto, bateu o limite. Você vai segurar o agro com isso? Acredito que não. Temos outras questões de mercado, como o preço da commodity, mas se eu tenho um porto estrangulado, vai ser preciso ir cada vez mais atrás de outros. Se a alternativa mais próxima não for viável, vai acabar indo mais longe. É uma ineficiência que todo mundo paga a conta”, alerta Oliveira, que além do Paraná, precisou escoar a produção da cooperativa de 2023 pelos portos de Santos (SP), São Francisco do Sul e Imbituba (SC) e Rio Grande (RS).

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