Personagens insuportáveis, falas sofríveis ou enredos condenáveis: as obras a seguir conseguem unir o pior de tudo.
Leia também: Por que os estúdios de cinema gostam tanto de remakes?
Entre as comédias, foram escolhidas apenas aquelas com orçamento considerável, ou no mínimo um ambiente bastante profissional. Todas as quantias estimadas têm como fonte o Internet Movie Database (IMDb).
“Táxi” (2004, 25 milhões de dólares)
Para se fazer uma feijoada, não adianta ter em mãos tomates, salmão e doce de leite. Pois uma grande modelo (Gisele Bündchen), uma excelente rapper (Queen Latifah) e um ótimo comediante (Jimmy Fallon), juntos, são uma tragédia adaptando o competente “Táxi”, longa francês de Gerard Pirès e roteiro de Luc Besson. O “Táxi” americano beira o simpático, mas com o tipo de simpatia que você confunde com pena: os diálogos tanto remetem a uma produção de ensino médio, e não há como defender seus 96 minutos de um protagonista bobo à procura de carisma.
“Todo Mundo em Pânico 5” (2013, 20 milhões de dólares)
Os filmes “Todo Mundo em Pânico” são como o palmtop: há não muito tempo, até tinham seu lugar no mundo, ainda que não fizessem falta a ninguém. Hoje, porém, parecem só anacronismo. Na quinta película da franquia, Charlie Sheen, Snoop Dogg, Ashley Tisdale e Lindsay Lohan ganharam dinheiro suficiente para manter um envolvimento desprovido de esforço.
Nada contra humor flatulento e grosseiro – o problema não está aí. No entanto, não há o que salvar quando qualquer tentativa preguiçosa de sátira é por si só caricata e previsível. As piadas rastreáveis não favorecem atuações comparáveis às de um filme pornográfico.
“Super-Heróis: A Liga da Injustiça” (2008, 25 milhões de dólares)
Claro, dá para ser pior que “Todo Mundo em Pânico 5”. Dá para ser cinco vezes pior que “Todo Mundo em Pânico 5”. É difícil conceber como e por quê, mas Jason Friedberg e Aaron Seltzer, possíveis estudiosos infiltrados na busca da fórmula perfeita do lixo, deram um jeito.
Tão engraçado quanto uma criança esperneando no chão do mercado, “Super-Heróis: A Liga da Injustiça” é constrangedor como… uma criança esperneando no chão do mercado.
Para exemplificar, uma cena tem Amy Winehouse com dentes caninos imensos arrotando por 38 segundos. São exatos 15 arrotos, cada qual esvoaçando os cabelos do homem das cavernas que os escuta — caso você não tenha entendido, nesses 38 segundos, que eles são realmente desconfortáveis.
“The Hungover Games” (“Se Beber, Não Entre no Jogo”, 2014, orçamento desconhecido)
Um elemento comum entre comédias execráveis consiste no impulso arrebatador de misturar referências da cultura popular de qualquer maneira, batendo o esterco no liquidificador e oferecendo-o com refil.
“The Hungover Games” supera os dois itens anteriores, até pelo maior capricho ao satirizar (algumas de) suas fontes, embora isso passe longe de salvá-lo. Em uma das cenas, o sósia de Zach Galifianakis urina em uma árvore até avistar uma personagem de Avatar seminua — subitamente, sua micção bate na própria barba. Misturando qualquer-franquia-famosa com qualquer-outra-franquia-famosa, a película faz a trilogia “Se Beber, Não Case” parecer Monty Python, e Monty Python parecer a Pedra de Roseta.
“Uma Festa no Ar” (2004, 16 milhões de dólares)
Todo grupo de amigos tem algum sujeito responsável por contar histórias, repassar notícias, aquele ou aquela a quem todos se referem como “com ele falando, é engraçado”.
“Uma Festa no Ar” é o suicídio desse amigo. Kevin Hart e Sofia Vergara participam de 80 minutos de Tom Arnold se comportando como um imbecil, enquanto Snoop Dogg interpreta o capitão de um avião — porque ele é irresponsável, entendeu? Ha Ha Ha. Contém cena de humor com toque retal.
“Legally Blondes” (“Legalmente Loiras”, 2009, orçamento desconhecido)
Juntando a fome com a vontade de comer, “Legally Blondes” une uma sequência desnecessária – é o terceiro da franquia –, com o nascimento envergonhado de uma produção feita diretamente para a televisão.
Sem a personagem de Reese Witherspoon, que aguentou até o segundo filme (mas ajudou a produzir esse), o longa-metragem é irritante a ponto de conter duas personagens principais adolescentes que completam as respectivas falas, quando não pronunciam frases inteiras ao mesmo tempo.
Ainda que receba um desconto pela menor pretensão, segue divertido como a ata de reunião do condomínio.
“Norbit” (2007, 60 milhões de dólares)
“Depois de ser forçado a se casar com uma mulher controladora, o bem-educado Norbit conhece a garota de seus sonhos nesta comédia romântica”. Eddie Murphy, por quê? Todos os personagens negros lembram caricaturas dos Looney Tunes na década de 40, e a “mulher controladora”, interpretada pelo próprio Murphy, é obesa. Dessa forma, você pode rir incansavelmente quando ela se vê entalada em uma catraca, ou guarda rosquinhas nos dedos, ou explode um castelo inflável. Por sua vez, a “garota dos sonhos” (Thandie Newton, belíssima), traída pelo noivo (Cuba Gooding Jr.), tem o desejo de comprar um orfanato (*-*), para que não haja dúvidas quanto à sua benevolência.
“Dotado para Brilhar” (2011, 10 milhões de dólares)
“Vamos fazer um filme sobre um caipira ingênuo que tenta se tornar ator pornô!”, disse alguém em algum momento da história. “Nós podemos fazer esse caipira com cabelo ridículo e dentes bem grandes, assim ele fica ainda mais engraçado!”, disse outro alguém, ou o mesmo alguém, que ainda acrescentou: “o personagem principal pode ter um pênis minúsculo!!!”, e você quase ouve as risadas maléficas ecoando pelo cômodo.
Com roteiro de Adam Sandler, Allen Covert e Nick Swardson, esse último também protagonista, “Dotado Para Brilhar” é tão ruim, mas tão ruim que atinge a sonolência. Os outros nomes da lista ao menos causam desconforto, fazem ranger os dentes — você consegue imaginar alguém rindo, mesmo com muito esforço. A existência do filme em questão é um erro transcendental.
“Cada um Tem a Gêmea que Merece” (2011, 79 milhões de dólares)
Quando é que Adam Sandler simplesmente desistiu? Em que altura da vida ele chegou em casa estressado, desabotoou sua camisa de manga curta, esfregou as mãos em sua bermuda larga e disse para si mesmo: “de agora em diante, tanfo faz”?
“Cada um Tem a Gêmea que Merece” é um cataclismo, uma paella apodrecida. Nem a presença de Al Pacino redime uma película que apresenta um casal de irmãos gêmeos vivido pelo próprio Sandler. De alguma maneira, ele também conseguiu arrastar Katie Holmes, ainda que o envolvimento de Al Pacino seja a verdadeira trama a ser resolvida. Indesculpável.
“Deu a Louca nos Bichos” (2010, 35 milhões de dólares)
Os animais se rebelam, as animações são amadoras e o protagonista grita “Miley Cyrus!” como expressão equivalente a “Meu Deus!”… Ou será que estou delirando? Não é saudável ser exposto a tanta melancolia de uma só vez. Chega.
Leia também: Sete filmes nacionais tão ruins que até o trailer dá vergonha alheia
Número de obras paradas cresce 38% no governo Lula e 8 mil não têm previsão de conclusão
Fundador de página de checagem tem cargo no governo Lula e financiamento de Soros
Ministros revelam ignorância tecnológica em sessões do STF
Candidato de Zema em 2026, vice-governador de MG aceita enfrentar temas impopulares