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Em “1984”, John Hurt é o responsável por trazer o personagem Winston Smith à vida
Em “1984”, John Hurt é o responsável por trazer o personagem Winston Smith à vida| Foto: 20th Century Studios/Reprodução

Obras clássicas editadas para se adaptar aos novos ideais, músicas feitas por máquinas, o controle da liberdade de expressão e o cancelamento de pessoas. Estes quatro exemplos são tirados de diferentes notícias que aconteceram em 2023, porém já eram vislumbrados com temor em 1949, quando o escritor George Orwell lançou sua obra-prima: 1984. Neste romance distópico, acompanhamos Winston Smith, um trabalhador forçado a viver em uma sociedade controlada pelo tirano Grande Irmão e seu Socing (Socialismo Inglês).

A história do livro é muito bem conhecida e referenciada por aqueles que se preocupam com as liberdades individuais. Agora, pode ser consumida por brasileiros no formato audiovisual. O filme homônimo, lançado em nosso 1984, chegou ao streaming da Brasil Paralelo e ajuda a dimensionar as crueldades descritas no texto de Orwell.

“Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado.” Esta frase abre o longa-metragem e dá o tom da produção, marcada por seu cenário cinzento e opressor. A tensão ganha ainda mais vida no filme com a atuação de John Hurt como Smith. O ator, indicado ao Oscar em duas ocasiões, sabe demonstrar muito bem os conflitos internos de um homem que deseja manter sua liberdade de pensamento.

Sua aparência também ajuda na imersão para entender como o personagem tem seu espírito destruído pelo trabalho de editar a história. Smith está ciente de sua capacidade para impactar negativamente o mundo ao seu redor, comprometendo pessoas a partir da visão de um sistema corrompido.

Adaptação respeitosa  

Momentos importantes do livro como Os Dois Minutos de Ódio ou os encontros secretos com Julia são adaptados com maestria, ressaltando a importância destes acontecimentos para o protagonista. Enquanto a revolta acontece em ambientes frios e recheados de propaganda política, os momentos de amor e intimidade exibem elementos coloridos como árvores, um vestido e até um objeto misterioso com mais de 100 anos.

Em 1984, no mundo real, a Grã-Bretanha, onde o filme foi produzido, não passava por nenhum dos horrores vividos durante os regimes socialista ou nazista. Por isso, um dos recursos utilizados pelo diretor Michael Radford para adaptar o livro de maneira convincente foi o estudo de documentários que possuíssem cenas de opressão e até execuções realizadas em ditaduras históricas e outras partes do mundo. Vale lembrar que, nos anos 80, países como a Coréia do Norte e Nicarágua já eram afetadas por governos tirânicos.

“O fascismo era baseado na repressão física, e o totalitarismo de esquerda era sobre esmagar o espírito, por assim dizer”, comparou Radford, numa entrevista ao portal Little White Lies, em 2017. “O objetivo era fazer as pessoas se sentirem culpadas por si mesmas, fazer as pessoas acreditarem que eram traidoras.”

Como em toda adaptação ao cinema, há pequenas alterações para dar ritmo ao roteiro, agilizando acontecimentos importantes. Mas nenhuma dessas mudanças compromete a mensagem de 1984, reforçando seu status de obra atual, mesmo 39 anos após seu lançamento nas telonas.

Radford também enxerga esse potencial atualmente, porém ressaltando um detalhe arrepiante na comparação do livro com o mundo real: “A diferença entre a vigilância em 1984 e hoje é que eles querem fazer isso secretamente, sendo que no livro é avisado que você estava sendo observado. Isso é o que assusta todo mundo.”

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