Como qualquer premiação decidida pelo voto livre, o Oscar pode acertar ou errar mais ou menos a cada uma de suas edições. Muitas vezes, os melhores filmes de um ano são preteridos pela escolha de outros, evidentemente piores, ou que, com alguma perspectiva, se mostram escolhas equivocadas. Mas há casos em que o Oscar passa tão longe de reconhecer os méritos de filmes importantes da história do cinema que a impressão é que os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas não sabem distinguir entre filmes bons de medíocres.
Leia também: Atores desperdiçados em filmes de super-herói
Entre os casos mais clássicos de injustiças cometidas pelo Oscar estão os dos diretores Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock, reconhecidamente dois dos maiores cineastas da história. Kubrick ainda foi nomeado em múltiplas categorias por cinco filmes diferentes, mas venceu somente o Oscar de Melhores Efeitos Visuais por “2001: Uma Odisseia no Espaço”. Hitchcock, no entanto, indiscutivelmente um dos maiores mestres do cinema, foi nomeado como Melhor Diretor em cinco ocasiões, mas não venceu nenhuma vez. Ou melhor: em 1968 recebeu o Prêmio Memorial Irving G. Thalbert, entregue fora da festa principal do Oscar, dedicado a produtores que tiveram uma produção constante de qualidade.
A Academia não se pronuncia a respeito das razões das escolhas de seus membros, mas é sabido que Hitchcock, ainda que um gênio do cinema, era uma personalidade detestada por boa parte de Hollywood, principalmente pela maneira como tratava seus atores. São fatores que podem influenciar a simpatia ou a antipatia dos votantes, que nem sempre fazem suas escolhas motivadas por razões cinematográficas. Assim, a lista de bons filmes ignorados pelo Oscar é tão grande que tivemos que dividi-la em categorias:
Filmes que não concorreram a nenhuma categoria do Oscar
M, o Vampiro de Dusseldorf (1931)
Ignorado pelo Oscar, o diretor austríaco Fritz Lang fez do filme noir “M” seu mais importante manifesto antifascista, em que um grupo de maníacos ajuda a polícia a caçar um assassino de crianças.
Diabo a Quatro (1933)
O mais importante filme dos Irmãos Marx, uma hilária sátira geopolítica em que Groucho é nomeado presidente/ditador de um país falido e declara guerra ao país vizinho para chamar atenção de uma mulher rica.
Tempos Modernos (1936)
O libelo de Charlie Chaplin contra a mecanização das relações de trabalho e sua desumanização. Um clássico.
Johnny Guitar (1954)
“O cinema é Nicholas Ray”, disse Jean-Luc Godard sobre o diretor deste filme que tem Joan Crawford em um de seus mais marcantes papéis no cinema.
Rastros de Ódio (1956)
Tido por muitos como o melhor filme de John Ford e a melhor interpretação de John Wayne, o filme que eternizou a paisagem faroeste de Monument Valley não concorreu a nenhum Oscar.
A Marca da Maldade (1958)
Quem eram os membros da Academia em 1958 que sequer indicaram o filme mais importante de Orson Welles depois de “Cidadão Kane” a sequer uma categoria do Oscar?
Acossado (1960)
Este é um dos mais importantes filmes da história do cinema. O filme que melhor representa toda uma escola cinematográfica, a Nouvelle Vague. Não foi indicado nem a Melhor Filme Estrangeiro.
Era Uma Vez no Oeste (1968)
O maior épico do Western? A direção de Sergio Leone, a trilha de Ennio Morricone e a interpretação de Henry Fonda não foram suficientes para sensibilizar a Academia.
Caminhos Perigosos (1973)
Antes de “Taxi Driver” e “Touro Indomável”, Martin Scorsese já filmava sua visão de uma Nova York decadente.
O Iluminado (1980)
Se Kubrick não venceu o Oscar por “Dr. Fantástico”, “2001: Uma Odisseia no Espaço” e “Laranja Mecânica”, não seria por um filme de horror que ele levaria a estatueta.
O Exterminador do Futuro (1984)
O primeiro filme talvez não seja sequer o melhor da série (título que cabe a “O Exterminador do Futuro 2”). Mas isso não significa que ele não merecesse nenhuma indicação.
Ajuste Final (1990)
Só anos mais tarde, com “Fargo”, os irmãos Coen entraram no radar da Academia. Isso não diminui a qualidade deste que é um dos primeiros filmes da dupla.
Cães de Aluguel (1992)
Quentin Tarantino já mostrava de todas as formas o diretor que se consagraria com “Pulp Fiction”. Mas como “Cães de Aluguel” não ultrapassou o circuito alternativo, acabou esquecido pelo Oscar.
Feitiço do Tempo (1993)
Esta pequena obra-prima de Harold Ramis, com Bill Murray em um dos maiores papéis da sua carreira, foi completamente ignorada pelo Oscar, mas nunca será pelos nossos corações.
O Profissional (1994)
Luc Besson sabe criar imagens marcantes e o filme em que Jean Reno interpreta um assassino profissional obrigado a conviver com uma menina de 12 anos (Natalie Portman) é prova disso.
Fogo Contra Fogo (1995)
Al Pacino e Robert De Niro juntos num filme policial dirigido por Michael Mann. Fim.
O Grande Lebowski (1998)
Talvez os próprios irmãos Coen não apostassem em “Lebowski” como um filme para disputar o Oscar, mas isso não impediu que o título se tornasse um dos maiores cults do século 20.
Três Reis (1999)
David O. Russel foi indicado a Melhor Diretor por “O Lado Bom da Vida” e “Trapaça”, mas não por “Três Reis”, superior a ambos.
Amor à Flor da Pele (2000)
O espetáculo visual do diretor coreano Wong Kar-Wai seria “artístico” demais para disputar Melhor Filme de 2000. Mas naquele mesmo ano a Academia preferiu conceder o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro a “O Tigre e o Dragão”.
Zodíaco (2007)
O brilhantismo técnico de David Fincher é a maior qualidade de “Zodíaco”, um filme que sofreu com a miopia dos integrantes da Academia.
Leia também: 5 sotaques ridículos em filmes americanos
Filmes que foram nomeados a alguma categoria mas não ganharam nada
Janela Indiscreta (1954), Um Corpo que Cai (1959), Psicose (1960)
Terá sido a antipatia por Hitchcock que fez com que três dos maiores filmes do século não tenham ganhado nenhum prêmio da Academia?
Dr. Estranho (1964), Laranja Mecânica (1971)
Difícil entender como esses dois cânones do cinema moderno dirigidos por Stanley Kubrick não tenham vencido nenhuma de suas indicações ao Oscar.
Taxi Driver (1976)
Não é fácil escolher o melhor filme de Martin Scorsese, mas “Taxi Driver” sempre será um candidato. O Oscar, no entanto, não o achou bom o suficiente para ganhar uma única estatueta.
Um Sonho de Liberdade (1994)
O catártico filme de Frank Darabont estrelado por Tim Robbins e Morgan Freeman foi indicado a nada menos que sete categorias do Oscar. Venceu um total de zero.
Além da Linha Vermelha (1998)
Um filme de guerra denso, angustiante e com pouca ação. Um clássico moderno do gênero, dirigido por Terrence Malick. Novamente, sete indicações ao Oscar. Novamente, zero prêmio.
Cidade dos Sonhos (2001)
Esta perturbadora obra-prima moderna dirigida por David Lynch e estrelada por Naomi Watts recebeu um total de 46 prêmios do cinema, mas nenhum deles dado pela Academia.
O Lobo de Wall Street (2013)
A prova cabal de que a Academia não é capaz de premiar os melhores filmes feitos em um ano. Fecha a lojinha.
Menções honrosas:
Filmes que não concorreram a Melhor Filme
“Cantando na Chuva” (1951)
“Um Corpo que Cai” (1958)
“Spartacus” (1960)
“2001: Uma Odisseia no Espaço” (1968)
“Serpico” (1973)
“Manhattan” (1979)
“Nascido para Matar” (1987)
“Os Intocáveis” (1997)
“O Show de Truman” (1998)
“Magnolia” (1999)
“Cidade de Deus” (2002)
“O Labirinto do Fauno” (2006)
Performances não indicadas a Melhor Ator ou Atriz
Anthony Perkins, por “Psicose”
Bill Murray, por “Três É Demais”
Christian Bale, por “Psicopata Americano”
Edward Norton, por “O Clube da Luta”
Jeff Bridges, por “O Grande Lebowski”
Malcom McDowell, por “Laranja Mecânica”
Mark Whalberg, por “Boogie Nights”
Naomi Watts, por “Cidade dos Sonhos”
Natalie Portman, por “O Profissional”
Sasha Baron Cohen, por “Borat”
Clima e super-ricos: vitória de Trump seria revés para pautas internacionais de Lula
Nos EUA, parlamentares de direita tentam estreitar laços com Trump
Governo Lula acompanha com atenção a eleição nos EUA; ouça o podcast
Pressionado a cortar gastos, Lula se vê entre desagradar aliados e acalmar mercado