Códigos de conduta raramente são formalizados numa lista de “pode e não pode”, e o que é aceitável tende a flutuar bastante ao longo do tempo.
O resultado é que volta e meia nos exasperamos com um comportamento absurdo que, para o vizinho, é apenas natural – e isso fica explícito nas plateias de cinema e teatro.
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Portanto, nessa era das listas, vamos a uma que promete ser bem útil a qualquer espectador:
1. Celular
O que dizer desse apego simbiótico que criamos com nossos aparelhos móveis? A qualquer momento alguém pode mandar uma mensagem incrível! Assistir a duas horas de filme sem se comunicar com alguém, hoje em dia, parece o quê? Solidão, reclusão, um exílio. O problema é que, mesmo no silencioso, esses trequinhos digitais emitem luz, gente. E a luz atrapalha no escuro. Tente se conter, respire fundo, olhe para a frente. Você vai até se surpreender como a concentração faz a obra de arte parecer melhor.
2. Broncas
Pois é, mas sempre tem alguém que esquece de desligar o aparelho – e ele toca. Nesse caso, o ideal é que a vergonha por si só opere o efeito “semancol”. Quando se ergue, na sequência, uma sinfonia de “shsss” e “desliga!”, está rompido para sempre o clima de fruição da obra de arte. Cai a quinta parede – aquela erguida entre os membros da plateia.
3. Gripe braba
Não sei se é a tensão pré-espetáculo ou o ar-condicionado, mas várias bronquites e rinites se liberam assim que as luzes do auditório de apagam. Tosse seca, comprida, espirro sequencial e fungação generalizada. Às vezes, o ato é involuntário e nem percebemos que está sendo ouvido pela pessoa ao lado. Mas tente evitar, ou, no mínimo, cobrir a boca e o nariz... (Confesso que já estendi um lencinho para uma senhora que não parava de fungar.)
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4. Piquenique
A maioria dos teatros não permite a entrada com comida, enquanto os cinemas são mais flexíveis – especialmente com a pipoca que eles mesmos vendem. A ideia é tentar passar despercebido. Aproveite os trailers para abrir todo e qualquer plastiquinho do qual pretenda extrair algum alimento durante o filme. Se for inevitável mastigar algo mais crocante, utilize as cenas de batalha ou com trilha sonora ensurdecedora.
5. Cheirinhos
Muita gente se arruma para ir ao cinema ou teatro, e não há nada de mal nisso. Mas exagerar no perfume é uma gafe de alto risco, especialmente para vizinhos de fileira com rinite potencializada por fragrâncias doces ou amadeiradas. Há relatos até de dores de cabeça e enxaqueca detonadas pela convivência forçada com um cheiro forte. Enfim, maneire. Pelo ângulo oposto, ir direto da academia no verão também não é uma boa ideia.
6. Aplauso
Essa é especial para as plateias de teatro. Nem todo black-out significa que a peça acabou. Portanto, não se apresse em bater palmas. A dica é esperar um pouquinho pelo “efeito manada”, quando todos decidem aplaudir. É verdade que muitos espetáculos com final aberto acabam com um longo silêncio constrangedor em que ninguém sabe se já pode bater palmas, mas, em geral, essa é uma dúvida deixada no ar de propósito pelo grupo. O pior é que, em algumas performances, existe a tradição de não se aplaudir, porque a obra apresentada deseja se afastar da formalidade de um show. .. melhor esperar. Digo por experiência própria.
7. Interação
Vencida a dúvida existencial – “ser ou não ser?”, digo, “ir ou não ao teatro?” –, surge outra ainda mais inquietante. Obedecer ou não aos apelos dos artistas quando chamam alguém ao palco ou pedem para se sentar no seu colo? Era hilária, na apresentação do saudoso “Tangos e Tragédias”, a brincadeira que os artistas gaúchos faziam com a plateia. Após chamar alguém, e quando alguém realmente subia ao tablado, explicavam: “Olha, era só representação, não precisa obedecer”. Por outro lado, muitos grupos têm se esmerado num contato bastante sutil e poderoso com a plateia. Desejo que você experimente um em 2016!
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