O Museu Nacional abrigava peças raras da história brasileira e mundial. Era referência para pesquisas acadêmicas e um eixo fundamental para entender a nossa trajetória política e cultural. Foi palacete real e um esforço inicial do País em preservar a sua identidade e o seu patrimônio. O prejuízo causado pelo incêndio da noite deste do domingo (2) é imensurável. Em meio aos gritos de revolta e às promessas de ocasião, evidencia-se, com uma constrangedora clareza, o largo talento nacional para a depredação de seus bens culturais — ou secundarismo de tudo aquilo que esteja ligado à cultura.
Abaixo, elencamos sete números que demonstram como o que aconteceu no Museu Nacional não é fruto do mero acaso, e sim de uma política deficiente em proteger a história do país.
Orçamento anual: R$ 550 mil
Há três anos, o Museu Nacional estava operando com orçamento reduzido. O repasse previsto à instituição era de R$ 550 mil, porém, há três anos, o museu recebia somente 60% deste valor, insuficiente para atividades básicas de pesquisa e de manutenção de serviços internos. Como resultado imediato, inúmeros espaços de exposição foram reduzidos. Nos últimos anos, diversos projetos de repasses de verba para recuperar o espaço ficaram na promessa.
R$ 3,6 bilhões: propaganda eleitoral
A reforma política do ano passado criou o Fundo Especial de Financiamento de Campanha — no valor de R$ 1,7 bilhão. A ideia era compensar, com dinheiro público, a extinção das contribuições de empresas privadas. Entretanto, as torneiras ficaram maiores. Ao todo, chegarão a R$ 3,6 bilhões os gastos públicos com as campanhas dos candidatos a presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais. Com limite de gastos, os postulantes ao cargo de presidente da República, por exemplo, podem gastar apenas 70 milhões para o primeiro turno das eleições, com acréscimo de R$ 35 milhões na hipótese de realização de segundo turno.
R$ 919 milhões: auxílio-moradia para juízes
Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão de controle externo do Judiciário, o custo de um único juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) pode chegar a 500 mil reais ao ano. Somente com auxílio-moradia, o Brasil gasta R$ 919 milhões por ano para 17.094 magistrados. Desse montante, R$ 98 milhões são para juízes federais.
R$ 700 mil por mês: estádio de futebol fantasma
O Estádio Mané Garrincha, construído em Brasília para a Copa do Mundo de 2014, custa mensalmente aos cofres públicos R$ 700 mil de manutenção. Erigido numa cidade em que o futebol tem menos força que a bolinha de gude, é a síntese do fenômeno dos elefantes brancos — construções pouco lógicas para as dinâmicas locais. Os clubes do modesto Campeonato Brasiliense fogem do estádio em virtude dos custos de aluguel. Mesmo nos casos de estádios em praças esportivas fortes, como o Rio de Janeiro, a premissa do teto ilimitado de gastos se mantém: o Maracanã custou ao erário mais de R$ 1 bilhão, segundo dados oficiais. O Ministério do Esporte divulgou, no início de 2015, o balanço final dos valores dos 12 estádios da Copa: R$ 8,3 bilhões foram investidos na construção ou reforma das arenas.
R$ 200 bilhões: o custo da corrupção
Em 2017, a Organização das Nações Unidas (ONU) levantou que o Brasil perde, por ano, aproximadamente R$ 200 bilhões em esquemas de corrupção. Os desvios estimados na Petrobras são da ordem de R$ 40 bilhões. Com aquilo que o Brasil poderia economizar se tivesse menos ladrões, dava pra manter, ao custo médio de 1 bilhão por museu, mais de 200 espaços.
60 anos: a última visita de um presidente da República
O projeto brasileiro de desestímulo à importância dos museus também pode ser entendido pela ótica da representatividade política. O último presidente a pisar no Museu Nacional foi Juscelino Kubitschek. Desde então, foram 15 presidentes a passar batido pelo espaço e mais de 60 anos de descaso. O orçamento anual da pasta de Cultura também é assustadoramente baixo: 2,7 bilhões de reais.
1910: última reforma significativa
Em junho, o Museu Nacional completou 200 anos, com diversas salas fechadas, necessidades estruturais urgentes e praticamente implorando por reformas, com direito à vaquinhas virtuais. A última reforma significativa no espaço foi em 1910.