As pessoas mais poderosas em Hollywood não se chamam mais Weinstein, não têm o poder de aprovar a produção de filmes e não têm Brad Pitt na sua lista de contatos mais frequentes. Não são pessoas ricas e famosas; não promovem festas em Cannes nem coquetéis na temporada do Oscar.
Nada disso. Os novos poderosos de Hollywood são de um tipo muito mais simples. Você nunca deve ter ouvido falar da maioria deles. Na verdade, eles não passam muito de pontos de dados.
Isso mesmo: os críticos que compõem o site Rotten Tomatoes são os maiores e piores vilões que Hollywood criou desde Darth Vader (e eu sou um deles). E, assim como aconteceu antes com Alderaan, daqui a pouco “La La Land” pode ser reduzida a poeira espacial.
Pelo menos é isso o que os executivos que conversaram com Brooks Barnes, do “New York Times”, querem que você pense. Sim, é claro que alguns dos filmes eram ruins de fato, admitem alguns executivos. Mas, disse Barnes, “a maioria dos dedos dos estúdios aponta para o Rotten Tomatoes, que analisa centenas de críticas para então dar notas de ‘fresco’ ou ‘estragado’ em seu Tomatômetro”.
Brett Ratner falou em um festival no ano passado que o site agregador de críticas “vai acabar com o nosso negócio”, e os maiores representantes da indústria do cinema parecem concordar com o diretor de “A Hora do Rush 3” e produtor de “Santa’s Slay”.
“A opinião de Ratner foi reiterada quase diariamente nas salas de jantar de estúdios durante o verão todo, embora ninguém quisesse ser citado, por medo de dar mais credibilidade ao Rotten Tomatoes”, escreveu Barnes.
“Durante um almoço no mês passado, o executivo-chefe de uma grande empresa de cinema me olhou nos olhos e declarou sem pestanejar que sua missão é destruir o site agregador de críticas.”
É claro que queixas de cineastas contra o poder dos críticos não constituem novidade. Em “Complete History of American Film Criticism”, Jerry Roberts destacou o poder crescente de Robert Ebert e Gene Siskel nos anos 1980 e a angústia que isso causou aos cineastas. “De mãos dadas com o sucesso vinha o poder inusitado da crítica de cinema”, escreveu Roberts. Eddie Murphy comentou em 1987: “Basta Siskel e Ebert dizerem ‘filme horrível’ e garanto a você que eles podem enterrar um filme”.
Por outro lado, os dois são vistos como responsáveis por “salvar” filmes pequenos que enfrentavam dificuldades nas bilheterias. Tom Sherak, executivo chefe da Twentieth Century-Fox, certa vez descreveu um sinal de “positivo” de Siskel e Ebert como “um selo de aprovação de filmes, no estilo da revista ‘Good Housekeeping’”.
O Tomatômetro é um pouco como uma versão amplificada do sistema patenteado de classificação criado por Ebert e Siskel, com polegares para cima ou para baixo. O site provavelmente tem alcance ainda maior que a dupla de Chicago: Barnes observou que 13,6 milhões de pessoas passaram pelo site Rotten Tomatoes em maio, enquanto Roberts escreveu que, em seu auge, Siskel e Ebert atraíam “entre 8 e 11 milhões de espectadores por semana”.
É certo que essa estação plenamente operacional de crítica de cinema possui o potencial de destruir as esperanças e aspirações de sonhadores que trabalham em estúdios e só querem oferecer ao público um pouco de entretenimento sob a forma de sequências ou prequelas ao cubo de “Transformers” e “Piratas do Caribe”. Certo?
Na verdade, não.
Redução das ideias
Em um estudo publicado no site Medium, Yves Bergquist, diretor de Dados e Projeto de Analítica do Centro de Tecnologia do Entretenimento da USC, demoliu completamente a ideia de que notas negativas do Rotten Tomatoes estejam tendo efeitos deletérios sobre as bilheterias totais de filmes. Bergquist não encontrou virtualmente nenhuma correlação entre as arrecadações totais e as notas no Rotten Tomatoes e uma correlação ainda menor entre as notas no RT e as bilheterias dos fins de semana de estreia de filmes – que seriam o momento em que a opinião crítica deveria ter o maior impacto sobre as bilheterias, já que o público potencial ainda não pode se pautar por comentários boca a boca ouvidos de amigos ou colegas de trabalho.
Na realidade, contrariando as queixas de executivos, a nota média dada pelo Rotten Tomatoes vem subindo nos últimos anos. “Ao todo, as notas do Rotten Tomatoes para todos os filmes que renderam mais de US$2 milhões mundialmente estão bastante estáveis desde 2000: a nota média foi 51 na década de 2000 e 53, até agora, na década de 2010. Ela subiu significativamente entre 2015 (46,5) e 2017 (71).”
Bergquist observa que as avaliações do público e dos críticos estão começando a coincidir, escrevendo: “Não há virtualmente diferença entre as notas dadas pelos críticos e o público, e, quanto maior o sucesso de bilheteria de um filme, menor é a diferença”. Ele sugere que isso seja porque os espectadores estão mais inteligentes em relação ao que vão assistir; é provável que esteja mais ligado ao fato de o RT ampliar suas fileiras e incluir um tipo de crítico com menor discernimento, mais sintonizado com o gosto do grande público.
Seja for o motivo da alta de notas “frescas”, porém, não há razões para pensar que o Rotten Tomatoes esteja puxando as bilheterias para baixo porque os críticos ganharam influência cultural maior.
A verdadeira razão dos problemas de Hollywood parece ser algo muito mais simples: as plateias estão entediadas.
Bergquist entende isso quando nota que os filmes cheios de efeitos especiais vêm tendo retornos minguantes nas bilheterias.
Mas não é apenas a multiplicação de efeitos especiais, é a redução das ideias.
O verão americano que acaba de passar trouxe um fluxo interminável de sequências de franquias que já deveriam ter morrido (os filmes acima mencionados “Transformers” e “Piratas do Caribe”; mais um filme “Velozes e Furiosos”; mais um “Alien”), além da tentativa de dar à luz franquias que não têm razão de ser (“A Múmia”; “Baywatch”; “Kong – a Ilha da Caveira”). O público não se incomoda com efeitos especiais ou franquias, desde que sejam acompanhados de histórias sólidas, fato que as notas no RT e as cifras de bilheteria do Universo Cinematográfico Marvel já deixaram claro.
É fácil colocar a culpa no Rotten Tomatoes. É muito mais difícil criar um filme que as pessoas queiram ver. Logo, o argumento que os executivos resolveram promover não surpreende.
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