“Sou um luxo.” A frase estampa o suéter que Ilona, uma top model russa casada com um bilionário do ramo de transporte de cargas, escolheu para vestir num retrato ao lado de sua filha, uma loirinha impaciente, montada em seu pônei de pelúcia.
“Quando você ganha muito dinheiro, você precisa ter uma casa grande, uma bela mulher com diamantes enormes e uma bolsa Birkin de pele de crocodilo, carros caros, um jatinho, um iate. É isso que mostra que você é bem-sucedido”, afirma a modelo.
Lauren Greenfield, a fotógrafa do outro lado da lente, passou as últimas duas décadas dissecando a dor e a delícia – e verdades e mentiras – dessa receita de sucesso.
Suas fotografias juntas agora no International Center of Photography, em Nova York, constroem um panorama vertiginoso de joias lustrosas, plásticas assustadoras, injeções de botox e dólares chovendo sobre strippers.
É um dos mais potentes ensaios visuais sobre a chamada era do “bling”, a ostentação vulgar e desmedida que varreu o mundo numa bolha de especulação financeira.
Foram anos de bonança que forjaram uma classe de novos-ricos e terminaram com uma crise sem precedentes em Wall Street e a ascensão do populismo de Trump.
“Não é só sobre os ricos, é sobre nossa crescente aspiração à riqueza, que se torna cada vez mais uma meta irreal”, afirma Greenfield, sobre o seu trabalho.
“O sonho americano significava que cada um de nós teria uma oportunidade igual para se sair bem. Agora aquele sonho virou uma fantasia inatingível.”
Ou pesadelo. Uma ala da mostra escancara os excessos – meninas que querem parecer princesas da Disney, um empresário que não sai de casa sem quilos de joias sobre o corpo, um rapper com adornos de diamante nos dentes, uma motorista de ônibus que torrou as economias de toda a vida em cirurgias plásticas para reinventar o seu corpo.
Outra ala se refestela sem dó no desespero do fracasso financeiro. Uma mulher é retratada à beira da piscina da mansão que perdeu para o banco e casas novinhas apodrecem em Dubai depois da fuga em massa de devedores.
Entre tudo e nada, numa ilustração tocante de como o dinheiro pode escravizar, uma dançarina de boate aparece pelada, no fim do dia, engatinhando no chão para recolher todos os dólares arremessados por seus clientes.
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