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A sociedade dos escritores megamilionários. E existe um brasileiro na lista

Nicholas Sparks dá autógrafo a leitora: os escritores mais bem-sucedidos vão até onde os fãs estão | Astrid Riecken/For The Washington Post
Nicholas Sparks dá autógrafo a leitora: os escritores mais bem-sucedidos vão até onde os fãs estão (Foto: Astrid Riecken/For The Washington Post)

O livro, contrariando o que se diz, não morreu. Ele está é muito vivo, aliás.

O autor brasileiro Paulo Coelho tem legiões de leitores. Seu livro mais conhecido, “O Alquimista”, a história de um jovem pastor andaluz numa busca pessoal, passou quase oito anos – ou dois mandatos presidenciais inteiros – nas listas de best-sellers, tendo sido traduzido para 81 idiomas.

Mas “O Alquimista” é apenas um dos mais de 30 livros de Coelho. “A Espiã” saiu agora em novembro. Ao todo, estima-se que o escritor tenha vendido 350 milhões de livros.

Sim, livros, esses objetos de várias páginas, feitos de árvores mortas, que se esperava que as pessoas teriam há muito tempo abandonado pelas telinhas e telonas.

E Coelho não está sozinho.

O mestre do horror Stephen King, autor de mais de 50 títulos, também vendeu uma estimativa de 350 milhões de livros. Dan Brown tem milhões de leitores, igualmente. “O Código Da Vinci” – que é muito provável que você mesmo tenha na sua estante – sozinho vendeu 80 milhões de exemplares.

Livros como “The Whistler”, de John Grisham, agora no topo das listas de best-sellers, e “Último Turno”, de King, sem dúvida estarão debaixo dos pinheirinhos de toda a nação este ano, junto das edições de bolso dos livros mais antigos desses autores, colocados dentro das meias penduradas para o natal.

Astros do rock

Existem autores de best-sellers, e aí existem autores de mega-best-sellers – escritores que venderam 100 milhões de exemplares ou mais. Escritores como Ken Follett, Nora Roberts, James Patterson e Stephanie Meyer. E pode ser que eles sejam mais abundantes hoje do que nunca.

Vivemos numa época de turbulências na indústria do entretenimento, em que muitas pessoas já não vão mais ao cinema, nem compram CD ou assistem à TV nos televisores, e as gerações mais jovens buscam se entreter quase que inteiramente via celular. Porém, há pessoas ainda que compram incontáveis livros, muitas vezes de autores que não só visitam as listas de best-sellers, como moram nelas.

Autores de mega-best-sellers não têm apenas leitores. Eles têm fãs, assim como astros do rock têm fãs. Seus leitores são colecionadores, determinados a ter cada título em sua biblioteca pessoal. Até fazem peregrinações para eventos com esses autores – muitas vezes aos prantos, no caso de figuras como Nicholas Sparks.

Os livros desses autores são vendidos por toda parte. Lojas de departamento. Farmácias e mercados. São um elemento das lojas de aeroportos quase tão comum quanto aqueles travesseirinhos estranhos.

Os números assombrosos de vendas se dão, em parte, por conta dos avanços tecnológicos – os e-books e a velocidade de impressão e distribuição. Há não muito tempo, os vendedores e leitores precisavam esperar – o horror! – pelas reimpressões de um novo sucesso. Hoje, se você quiser um exemplar de “Cross the Line” ou “Two by Two”, os livros mais recentes de Patterson e Sparks, respectivamente, e a livraria local estiver sem estoque, dá para baixar o e-book em minutos ou comprar uma edição de capa dura da Amazon para que ela chegue à sua porta já no dia seguinte. Ou a sua livraria da vizinhança também, no geral, deve conseguir arranjar um exemplar novo até o fim da semana.

O sucesso dessas obras pode ser atribuído ainda ao poder cumulativo do mercado internacional, apesar de que, por conta das múltiplas filiais internacionais e formatos variados de publicação (capa dura, brochura, e-books), é difícil arranjar dados das vendas mundiais totais mais precisos do que uma estimativa aproximada.

Sucesso após a morte

O grupinho dos mega-best-sellers inclui autores de romances de amor (Roberts, Danielle Steele, Debbie Macomber), um contador de histórias assustadoras para crianças (R. L. Stine), um laureado da paixão (Sparks, que recusa o rótulo de “romance de amor”), uma bruxa britânica (J. K. Rowling, que vendeu uma estimativa de mais de 450 milhões de livros), uma provocadora dos vários tons do fetiche (E. L. James) e, mais do que qualquer outro gênero, adeptos do suspense e da adrenalina (Grisham, King, Brown, Dean Koontz, Jeffrey Archer, David Baldacci e Mary Higgins Clark).

Os leitores de elite podem torcer o nariz para esses autores que estão consistentemente nas listas de best-sellers, poucos dos quais algum dia ganharão prêmios de prestígio ou constarão em listas de melhores do ano. Mas os autores comerciais são os motores poderosos que mantêm vivas as editoras, que lucram com eles o suficiente para poderem publicar autores aclamados, mas que não necessariamente atraem muitas vendas.

Como que alguém se torna um autor desse porte? Só escrever não basta, apesar de muitos desses livros certamente darem essa impressão. A qualidade e o tipo das narrativas variam tremendamente, mas há algumas semelhanças entre os autores de sucesso.

No geral, o principal é que eles são de uma produtividade extraordinária, publicando com uma regularidade de relógio suíço – uma vez por ano, duas vezes por ano, ou até mensalmente no caso de Patterson, que é em si uma indústria toda à parte, com vários escritores trabalhando para ele. Ou Robert Ludlum, que continua publicando sua série “Bourne” e outros livros muito após sua morte em 2001, graças a múltiplos autores que escrevem sob seu nome.

Fâ-clube

“Você não pode ser um sucesso de um ou dois livros só”, diz Jamie Raab, presidente e editor da Grand Central Publishing, que adquiriu o “Diário de uma Paixão”, de Sparks. Autores como Sparks “costumam atrair muitos leitores no começo e então os capturam”, diz Raab, cujo selo também publica os livros de David Baldacci. “Eles dão aos leitores aquilo de que eles gostam”.

Além do mais, Sparks é “muito estratégico. Sabe como manter bem o seu fã-clube principal”, diz Raab. “Ele cria personagens mais jovens, o que atrai leitores jovens”.

Nessa mesma veia estratégica, “Charlie the Choo-Choo”, de King, a série Theodore Boone: Aprendiz de Advogado, de Grisham, e a série Caçadores de Tesouros de Patterson visam os leitores mais novos – que têm uma tendência de continuarem comprando os livros depois de adultos.

Os escritores grandes raramente dão de barato sua popularidade. Eles vão até os leitores e continuam fazendo aparições muito depois, inclusive, de se tornarem superastros bem estabelecidos (e tremendamente ricos). Em junho, para “Último Turno”, King fez uma turnê por Dayton, Ohio, Tulsa e Salt Lake City, lugares geralmente ignorados por autores mais literários. Os mega-best-sellers mantêm sites atualizados e uma presença imensa nas redes sociais. Brown, por exemplo, tem 6,5 milhões de curtidas na sua página do Facebook.

Davi x Golias

Mais do que tudo, porém, os autores que mais vendem sabem mesmo é como contar uma história incrível. Em seus romances, especialmente os thrillers e de ficção científica, o enredo é fundamental. Os heróis costumam ser figuras com as quais os leitores podem se identificar – figuras tímidas, desajeitadas, ansiosas, míopes, em recuperação, de pavio curto, de classe média, falidas –, mas suas histórias são fantásticas, incríveis, uma viagem selvagem e uma fuga bem-vinda da vida cotidiana do leitor. Nas histórias de amor, o amor é eterno, predestinado, o oposto do casual. A história não tem empecilhos como o desafio das louças sujas e declarações de imposto de renda.

“Você não pode subestimar o valor do entretenimento que esse pessoal oferece”, diz Suzanne Herz, vice-presidente executiva da Doubleday, que publica Grisham e Brown. “Geralmente há um tema de Davi-versus-Golias. Você quer que o herói saia por cima”.

Isso é porque essas histórias têm heróis pelos quais vale a pena torcer. Nan Graham, editora da Scribner, é quem edita os livros de King. “Uma das coisas que faz com que Stephen seja tão excepcional é que ele transita pela linha entre o comum e o sobrenatural, mas sempre começa com o homem comum”, ela diz. “Muitos de seus heróis são da classe trabalhadora. Eles pertencem absolutamente ao coração dos EUA”.

Reagan Arthur concorda, editor da Little, Brown, cujos autores incluem Patterson, Meyer e Michael Connelly (60 milhões de exemplares, e crescendo). No caso dos escritores mais famosos, seus “heróis têm uma familiaridade à qual os leitores sempre voltam, ao mesmo tempo em que contam uma história que é fonte de escapismo”, ela diz. “Você nunca deve subestimar o poder de um vilão bem feito, alguém para o leitor poder torcer contra”.

Isso é fácil de executar? Não, não é.

Sem garantia de sucesso

Se fosse, mais autores venderiam milhões de livros. Mark Stay, um autor pouco conhecido, e Mark Desvaux, que se descreve como “aprendiz de escritor”, estão, no momento, tentando produzir um livro de sucesso em 52 semanas, um sonho que você pode acompanhar passo a passo no seu blog e podcast de entrevistas (no qual eles conversam com autores mais conhecidos), “The Bestseller Experiment”.

O sucesso nem sempre vem já com um primeiro livro. Gillian Flynn publicou dois livros de mistério antes do seu sucesso estrondoso que foi “Garota Exemplar”, vendendo mais de 15 milhões de exemplares. Tampouco existe qualquer garantia de que esse sucesso irá se repetir. Os editores estão ansiosos para ver se o novo thriller de Paula Hawkins, “Into the Water”, a ser publicado no dia 2 de maio, repetirá o sucesso de “A garota no trem”, que vendeu mais de 18 milhões de exemplares.

“Não acho que seja realista a expectativa de que um autor possa duplicar um momento singular da sua vida”, diz Jason Kaufman, editor de Brown. “É como se um astro do beisebol ganhasse o prêmio Cy Young e a World Series. Você pode ter 20 anos de carreira e nunca conseguir isso”.

Rei dos best-sellers

Mas, também, às vezes acontece.

King “está determinado a não decepcionar”, diz Graham. “Em 20 anos trabalhando com ele, nunca não tivemos um livro de Stephen King na lista”. Aos 69 anos, ele continua escrevendo sem parar.

Seus 350 milhões de livros não foram vendidos com a mera força do pensamento ou se escorando no sucesso anterior de “Louca Obsessão” ou “À Espera de um Milagre”. Este ano, King publicou uma quantidade de material que demoraria uma década ou mais para qualquer outro autor produzir: um romance, uma contribuição para uma coletânea de ensaios, um livro infantil e dois contos. Ele terá um romance novo para o ano que vem também. São todos eles modos garantidos para King continuar como o rei entre seus leitores, dançando no topo das listas de best-sellers, que é o seu lugar de direito.

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