Emily Blunt vive a protagonista em busca de respostas em “A Garota no Trem”| Foto: Divulgação/

Durante muito tempo, coube geralmente às mulheres o papel de vítima nos filmes de suspense. Não que elas tenham deixado essa condição. Muito pelo contrário, já que a realidade se encarrega de reforçá-la: segundo estatísticas da ONU, uma em cada três mulheres já sofreram algum tipo de violência física ou sexual. O que o cinema e a literatura têm feito com cada vez mais frequência nos últimos anos é tentar deixar de lado o estereótipo da mulher indefesa, que sofre calada e precisa ser salva por um herói do sexo masculino.

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Em tempos de empoderamento feminino, essa pode ser uma das explicações para o sucesso de “A Garota no Trem”, best-seller da britânica Paula Hawkins lançado em 2013, que agora chega aos cinemas estrelado por Emily Blunt. A narrativa é protagonizada por três mulheres: Rachel (Emily Blunt), Megan (Haley Bennett) e Anna (Rebecca Ferguson), ligadas por suas histórias de vida e por um crime.

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Rachel ocupa seus dias percorrendo o mesmo trajeto dentro de um trem. Pela janela observa duas casas em particular: a de um casal aparentemente feliz, que alimenta suas fantasias, e a do ex-marido Tom, casado com outra mulher e com uma filha pequena. Pois bem: a mulher do casal feliz é Megan, cujo relacionamento não está tão bem assim, e trabalha de babá para Anna, esposa de Tom. Assim, as três personagens estão ligadas em um primeiro momento.

Acontece que Rachel é alcoólatra e não consegue deixar de procurar o ex-marido. Certa noite, ela desce do trem próximo à casa dele e apaga. Ela acorda com um ferimento na cabeça, sem lembrar do que aconteceu. Logo, recebe a visita de policiais, que investigam o desaparecimento de Megan naquela mesma noite. Suspeita de envolvimento e com apenas alguns flashes em mente, Rachel tenta descobrir o que se passou com ela e com a garota desaparecida.

Desbancando conceitos

Já à época de seu lançamento, “A Garota no Trem” foi comparado com outra obra de sucesso que foi parar nas telas, “Garota Exemplar”, de Gillian Flynn, cuja versão cinematográfica foi dirigida por David Fincher. De fato, ambos têm características em comum: são tramas de suspense iniciadas em um ambiente familiar, que narram o desaparecimento de uma mulher e, à medida que se desenrolam, vão revertendo as expectativas apresentadas inicialmente ao leitor/espectador.

“Tentei escrever sobre pessoas que eram ambivalentes sobre casamento e filhos, e evitar escrever como se um homem e uma criança fossem suficientes para nos fazer felizes. Acho que colocar todas suas esperanças em um relacionamento é, provavelmente, uma péssima ideia.”

Paula Hawkins autora de “A Garota no Trem”
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O ponto principal das histórias, no entanto, está na força de suas personagens femininas, que mantêm uma fragilidade apenas aparente, capazes desbancar os homens e o que de pior eles têm. Nesse aspecto, se soma a outro suspense best-seller adaptado com sucesso para o cinema (duas vezes, por sinal), “Os Homens que não Amavam as Mulheres”, do sueco Stieg Larsson.

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Uma entrevista concedida pela escritora Paula Hawkins ao The Guardian, em abril deste ano, mostra que um dos objetivos da autora foi justamente desfazer alguns conceitos tradicionais, não apenas nos romances literários, mas na vida real. “Tentei escrever sobre pessoas que eram ambivalentes sobre casamento e filhos, e evitar escrever como se um homem e uma criança fossem suficientes para nos fazer felizes. Acho que colocar todas suas esperanças em um relacionamento é, provavelmente, uma péssima ideia.”