“Songwriter” recupera últimas composições autorais de Johnny Cash| Foto: Alan Messer/Universal Music
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Nove anos antes de emplacar a versão de Hurt (música originalmente gravada pala banda de rock Nine Inch Nails), o cantor e lenda da country music Johnny Cash estava em um limbo na carreira. O ano era 1993. Ele tinha encerrado contrato com uma gravadora, não emplacava um hit próprio desde 1976 e, por causa desses tropeços, não sabia para onde ir. O apelidado man in black tentou então sacodir a poeira e registrar um punhado de composições autorais. As onze músicas resultantes desse esforço acabaram sendo abandonadas, até que seu filho, John Carter Cash, recentemente as encontrou e decidiu lançá-las no disco  Songwriter, disponível nas plataformas de streaming desde junho.

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O filho trabalhou ao lado do produtor David “Fergie” Ferguson para renovar a sonoridade rústica das gravações, adicionando novos instrumentos e convidando para o estúdio figuras contemporâneas como o guitarrista Dan Auerbach, da banda The Black Keys. Além disso, os fãs de música country celebram o fato de que o trabalho conta com vocais de Waylon Jennings, outro grande nome do gênero, morto em 2002.  

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“Fomos direto às raízes, no que diz respeito ao som, e tentamos não o modernizar demais. Gravamos como se meu pai estivesse na sala”, disse Carter Cash no material de divulgação. Basta ouvir a música que abre o disco, Hello Out There, para atestar que o som característico da lenda está lá. "Isso não foi pensado para vender Johnny Cash, pois ele se vende sozinho”, completou o herdeiro. 

Ocaso alternativo

O filho de Cash não sabe exatamente o motivo do pai ter registrado as composições no formato demo (quando os arranjos ainda não estão completos e nem todos os instrumentos estão presentes). Uma aposta é que o músico estava sendo altruísta e fez isso para dar dinheiro à Rosie, sua enteada que era dona do estúdio de gravação LSI, na cidade de Nashville, nos Estados Unidos. A outra possibilidade é que Cash preparava o repertório para atrair gravadoras e produtores que pudessem relançar sua carreira. 

Essa última parece ser a mais certa, afinal, ainda em 1993, ele começou uma parceria com Rick Rubin, produtor que o ajudou a gravar seis discos com reinterpretações conhecidos como American Recordings.  Foram esses trabalhos que deram um novo sopro na trajetória de Cash, num período badalado que só foi interrompido por sua morte, em 2003, aos 71 anos.

A emocionante Hurt, sua música mais ouvida em plataformas de streaming, é dessa leva de canções modernas apresentadas a ele por Rick Rubin. Graças à série de álbuns  American Recordings, o veterano passou a ser visto como alguém que fazia covers  improváveis de bandas do cenário alternativo, como Depeche Mode, Soundgarden e Nick Cave and the Bad Seeds.

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Humor, sabedoria e religiosidade  

É por ir na contramão disso que Songwriter acaba sendo tão impactante. Trata-se do primeiro lançamento de canções escritas por Cash, trazendo sua vasta sabedoria de vida, desde 1991. Quem pelo menos assistiu ao filme Johnny & June, longa-metragem que romanceia sua jornada até o estrelato, entende que ele experimentou todo tipo de altos e baixos (alguns, bem baixos). Então, é salutar ouvir os ensinamentos do velhinho. 

Como bem colocado pelo jornalista Grayson Haver Currin, em crítica publicada na conceituada revista de música Mojo, “o poder dos discos  American Recordings resulta da capacidade de identificação de Cash – uma voz preciosa do passado fazendo um jogo hipnotizante de karaokê com canções que talvez você já adore e fique surpreso ao ouvi-lo cantá-las. Em Songwriter, há um reconhecimento do comum, na forma como um sexagenário no ponto mais baixo de sua carreira olha para trás em sua vida para se maravilhar com sua generosidade, passando pela família e o lar até o amor e a sobrevivência.”

Songwriter oferece Johnny Cash para todos os gostos. Há letras sobre o futuro do planeta e Deus, sobre seu amor pela esposa June Carter, além de uma faixa para mães solteiras que gostam da música Sweet Baby James, do cantor James Taylor. Humor, sabedoria e religiosidade se fazem presentes, o que torna o disco imperdível para qualquer fã de country e de boa música em geralSão qualidades que também servem para relembrar que Cash foi muito mais do que só um intérprete de material de outros autores. 

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]