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É cada vez mais difícil encontrar uma comédia ou um drama romântico que ofereça uma visão minimamente profunda e lúcida do homem e da mulher, investigue com elegância os altos e baixos do amor e leve o espectador ao riso, às lágrimas ou ao impulso de melhorar. Pois tudo isso é exatamente o que entrega Amor à Primeira Vista, um dos destaques do momento do catálogo da Netflix. Trata-se do primeiro longa-metragem da cineasta britânica Vanessa Caswill, diretora de seis curtas e das minisséries televisivas Thirteen (2016), Little Women (2017), Snatches: Moments from Women’s Lives (2018) e O Golpe do Amor (2019).
Baseado no romance de Jennifer E. Smith, o roteiro de Katie Lovejoy segue os passos de Hadley (Haley Lu Richardson), uma jovem americana, caótica, fissurada por livros e muito afetada pelo divórcio dos pais. Apesar disso, ela decide viajar para Londres para o segundo casamento do pai. Mas perde o voo em Nova York e precisa esperar para embarcar na próxima aeronave. Nesse intervalo, Hadley conhece por acaso Oliver (Ben Hardy), um jovem londrino, ordeiro e inteligente, que estuda probabilidades em Yale (uma das melhores universidades dos Estados Unidos) e está retornando à Inglaterra para o funeral da mãe, uma atriz de teatro.
A primeira coisa que conquista o espectador é a química entre Haley Lu Richardson e Ben Hardy, duas verdadeiras descobertas, que exalam uma veracidade cativante, conseguindo que suas réplicas irônicas soem naturais. Rolam até alguns duelos literários, tendo William Shakespeare e Charles Dickens como principais referências. Esse frescor de ambos é transmitido em cena graças à habilidade da diretora Vanessa Caswill, cuja pegada realista é quebrada com breves inserções de um divertido realismo mágico, protagonizado por uma espécie de cupido em versão feminina, que no processo permitem leituras transcendentes da combinação singular da liberdade humana com o acaso, o destino, a providência divina ou como você quiser chamar.
A cereja do bolo é uma abordagem surpreendentemente profunda da doença, da morte e do luto, marcada por uma visão luminosa das relações familiares – especialmente das relações entre pais e filhos –, da amizade, do arrependimento e do perdão. Em outras palavras, Frank Capra, Ernest Lubistch, Leo McCarey, Howard Hawks, William Wyler, Nora Ephron, Roger Michell, Josh Radnor e John Carney certamente aprovariam Amor à Primeira Vista.
© 2023 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.