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“Para alguns de vocês, sou um herói. Para outros, apenas uma lenda.” A frase narrada por Mel Brooks, 96 anos, dá o pontapé na série A História do Mundo: Parte 2. Ela pode ser um exagero para quem não conhece o autor e cineasta, mas seu currículo com clássicos como Os Produtores e Banzé no Oeste, além dos prêmios Emmy, Grammy, Oscar e Tony na estante, reforçam sua condição de sumidade, de Pelé da comédia.
A nova série, disponível na plataforma Star+, retoma o conceito do primeiro A História do Mundo, filme lançado e estrelado por Brooks, em 1981. Numa sequência de esquetes, o longa se tornou clássico por brincar com importantes momentos da humanidade, casos da Idade da Pedra, da Revolução Francesa e do Império Romano (com o filósofo Comicus, que propaga sua sabedoria em forma de stand-up).
É esse o tipo de humor que retorna na parte 2, agora caçoando de figuras míticas como Rasputin, Stalin, Richard Nixon e até William Shakespeare. Muitas nuances das piadas são baseadas em pequenos detalhes da história. No esquete sobre Shakespeare, por exemplo, Brooks faz graça com a conspiração sobre a autoria dos textos do dramaturgo inglês. Nas piadas sobre a Revolução Russa, o roteirista retrata o ditador Joseph Stalin como um assistente subserviente de Lênin. Áses do humor como Danny DeVito, Jack Black e Seth Rogen dão vida aos personagens.
Tiros para todos os lados
Assim como no longa de 1981, A História do Mundo: Parte 2 faz piadas com religião. Em alguns esquetes mostrando Judas Iscariotes como se fosse um personagem do universo de Segura a Onda (Curb Your Enthusiasm), série de humor da HBO, Brooks beira o desrespeito. Mas resolve a questão ao também fazer troça com sua própria fé – o cineasta possui origem judaicas e não poupa a religião. Lembrando que um dos momentos mais memoráveis do filme original é o trecho “Jews in Space”, que mostra naves espaciais no formato da Estrela de Davi com uma música irônica sobre o tema.
A série é muito bem-vinda nessa época em que piadas parecem ferir mais do que ações. Mel Brooks mostra que, mesmo beirando os 100 anos, não se preocupa em se indispor com o público ou ferir o ego de alguém. Seu único objetivo é proporcionar risadas – e sem se levar a sério. Estaria aí o segredo de sua própria longevidade?