O ator Sebastian Stan caracterizado como Donald Trump em “O Aprendiz”| Foto: Rich Spirit/Reprodução
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Chamava-se O Aprendiz o reality show que, entre 2004 e 2017, mostrou Donald Trump como o juiz de uma competição entre empresários na tevê por assinatura (com exceção da última temporada, apresentada por Arnold Schwarzenegger). O programa foi essencial para a vitória de Trump nas eleições presidenciais de 2016, nos Estados Unidos. E também se chama O Aprendiz o filme sobre esse personagem, que há uma semana ocupa várias salas de cinema no Brasil. 

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Depois de passar pelo Festival de Cannes e enfrentar entraves legais, o lançamento chega em um momento adequado, durante a campanha eleitoral do político, que busca seu segundo mandato como chefe de estado americano. O longa-metragem não analisa o Trump presidente ou apresentador de tevê, mas sim sua versão anterior: um Donald trintão, vaidoso e ambicioso, porém eclipsado pelo pai e ameaçado pelo risco de perder a empresa familiar.  

O Aprendiz foca o início do relacionamento de Trump com o advogado maquiavélico Roy Cohn, figura obscura que se tornou seu mentor e com quem aprendeu três importantes “leis” que se refletem em uma das cenas mais expressivas do filme. “A primeira: ataque, ataque e ataque; a segunda: sempre negue tudo; a terceira: não importa o que aconteça, diga que você ganhou”. Esse é um bom resumo do mantra do trumpismo, que hoje já é adotado por políticos de diversos matizes ideológicos. 

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O roteirista da obra é o jornalista americano Gabriel Sherman, autor de uma biografia de Roger Ailes, fundador da Fox News, que posteriormente inspirou a série A Voz Mais Forte – O Escândalo de Roger Ailes. Sherman conheceu Trump quando o futuro presidente trabalhava no setor imobiliário. O jornalista estava começando sua trajetória no New York Observer. Mais tarde, Sherman cobriu a campanha do Partido Republicano em 2016, quando Trump já era uma estrela da televisão. Ele decidiu investigar a relação entre Trump e Cohn e queria ter um diretor estrangeiro para dar vida à sua visão. O escolhido foi o iraniano radicado na Dinamarca Ali Abbasi, diretor dos excelentes Border e Holy Spider.

O principal interesse de O Aprendiz é o de conhecer a relação de Trump com o seu mentor e alguns aspectos da biografia do bilionário. Do ponto de vista formal, o tratamento visual que simula os anos 70 e 80 e a trilha sonora eclética com músicas como Yes Sir, I Can Boogie, de Baccara, ou Always on my Mind, na versão do Pet Shop Boys, funcionam muito bem. Os arcos de transformação dos protagonistas são bem contados e Jeremy Strong, estrela de Succession, ostenta uma atuação sólida como Roy Cohn. Sebastian Stan interpretando Trump é um tanto mais plano, mas a complexidade do personagem está presente. 

De qualquer forma, o filme não se sobressai nem como cinema político, nem como sátira, nem como estudo de personagem. Ele é adequadamente posicionado no meio do caminho. Do ponto de vista cinematográfico, O Aprendiz pode ser cobrado por uma falta de profundidade ética e pelo excesso de obscenidades para refletir a imoralidade dos personagens. Por outro lado, a sombra do oportunismo político paira sobre o filme, devido ao momento escolhido para seu lançamento, com uma inevitável batalha judicial soterrando qualquer análise mais precisa sobre a produção. 

© 2024 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol

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  • O Aprendiz
  • 2024
  • 123 minutos
  • Indicado para maiores de 18 anos
  • Em cartaz nos cinemas
Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]