O veterano ator e comediante Jerry Lewis morreu na manhã neste domingo (20), aos 91 anos, em sua casa em em Las Vegas, nos Estados Unidos. Ainda não foi divulgada a causa da morte, mas a família do artista divulgou um anúncio oficial afirmando que o “Lendário Jerry Lewis morreu de causas naturais” e com “a família ao seu lado”. Há muito tempo, Lewis vinha sofrendo há anos com várias doenças, incluindo ataques cardíacos, problemas pulmonares e dor crônica nas costas.
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Lewis tornou-se o maior comediante do showbusiness durante a década de 1950, numa parceria de sucesso com o ator e cantor Dean Martin, com quem fez diversos longas, como “O Meninão” (1955) e “Farra dos Malandros” (1954). Mesmo com a dupla separada, Lewis protagonizou sucessos e dominou os cinemas nos anos 1960 com “O Mensageiro Trapalhão” (1960) e “O Mocinho Encrenqueiro” (1961).
O ator gostava dos personagens duplos (ou múltiplos), e nada poderia ser mais adequado a esse gosto do que interpretar Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Ou, em versão comédia, o professor Kelp e Buddy Loveem “O Professor Aloprado” (1963). Um é químico genial, feio e desajeitado que inventa um jeito de se transformar num galã.
É sua obra mais genial, em que foi diretor (completo, ele entendia muito disso) e ator. Abordava-se ali o drama de ser humano, de crescer, de falhar que é posto em evidência -é o que o torna mais que um fenômeno passageiro.
Em “Bagunceiro Arrumadinho” (1964), Lewis viveu um enfermeiro que não suporta ouvir falar em doenças. Trata-se, por sinal, de um dos grandes momentos do ator, no tipo que o consagrou como um dos grandes do burlesco: o inapto, o incapaz de se integrar ao mundo, tão americano, dos vencedores. A obra tem talvez a “gag” mais famosa de sua carreira, a da maca que sai enlouquecida sai pelas ladeiras.
Seu humor mais físico foi menosprezado no início entre os colegas americanos, mas o público ia em massa ver os trabalhos do comediante. Ganhou mais prestígio, ironicamente, na Europa, ao ser premiado na França, Itália, Bélgica e Espanha, e ser citado como gênio por diretores de vanguarda na época, como Francois Truffaut e Jean-Luc Godard.
Nos anos 1980, tentou mostrar seu lado mais dramático em “O Rei da Comédia” (1982), filme de Martin Scorsese que foi rejeitado pelos fãs da comédia pastelão de Lewis.
Lewis já havia passado por problemas de saúde ao longo dos anos, antes de sua semi-aposentadoria, em Las Vegas. Passou por uma cirurgia no coração em 1983 e outra para tratamento de um câncer, em 1992.
Passou por uma reabilitação, em 2003, para se curar do vício em drogas legais, teve um ataque do coração em 2006 e possuía fibrose pulmonar, uma doença respiratória crônica que exigia remédios poderosos para ser controlada.
O filme auto-censurado
Além de ter dirigido vários dos seus sucessos cômicos, ter sido indicado o Nobel da Paz de 1977 pelos seus esforços por trás do Telethon, programa pioneiro na arrecadação de recursos via televisão, Lewis também queria o Oscar que apresentou em duas ocasiões (1957 e 1959), mas que nunca venceu como ator ou diretor -ele ganhou o prêmio humanitário em 2009.
Era seu objetivo com o controverso “The Day the Clown Cried”, que fez em 1972 achando que “A Academia não poderá ignorar esse filme”. Mas foi o próprio Lewis que se censurou.
Achando que o resultado final da trama -um palhaço que tenta ajudar os prisioneiros de um campo de concentração ao replicar um espetáculo circense- era um “trabalho pobre”, o diretor e ator colocou o projeto no cofre e nunca exibiu o longa. Uma cópia estaria na Biblioteca do Congresso dos EUA, mas não se sabe qual foi a exigência do artista para a exibição pública.
Dupla com Dean Martin
Ao longo da primeira metade dos anos 1950, Dean Martin e Jerry Lewis estiveram entre as maiores bilheterias do cinema, produziram uma série televisiva de sucesso e se viraram um fenômeno cultural.
A química era simples e forte: o cantor seguro de si e o comediante endiabrado, o polido irmão mais velho e o moleque aloucado.
Nos números ao vivo, Lewis improvisava sem parar, jogava água na audiência ou apagava as luzes da sala, enquanto Martin simplesmente sorria e continuava cantando, com o rosto iluminado pela chama de seu Zippo folheado a ouro.
A parceria acabou uma década depois. Martin, cujo nome vinha em primeiro lugar nos créditos, se cansou de ser “escada”, e Lewis, que cuidava dos negócios da dupla, estava cansado da relutância de seu parceiro em estender o alcance de suas atividades.
Os dois criaram carreiras solo de sucesso, mas Lewis continuou a parecer preocupado, ou até mesmo culpado, por Martin não ter recebido reconhecimento na época.
Em 1976, depois de 20 anos sem se falarem, os dois se reuniram no palco de um programa de TV. Mas uma reaproximação real só ocorreu após a morte de Dino, o filho de Martin, em um acidente de avião em 1987.
“Até a sorte nos separe 2”
Em 2013, Jerry Lewis fez uma participação na comédia “Até que a Sorte Nos Separe 2”, que estreou no maior número de salas da história do cinema brasileiro até então. Para acertar a participação dele, os produtores do filme entraram em contato com uma de suas noras, que é brasileira.
O comediante faz um carregador de malas, papel que já havia interpretado antes no filme “O Mensageiro Trapalhão” (1960), escrito, produzido, dirigido e protagonizado por ele.
À Folha de S.Paulo o ator disse que a dificuldade dos tempos atuais para fazer comédias é a mesma dos anos 1950, quando começou a fazer sucesso. Do começo de sua carreira, diz sentir mais falta do seu parceiro, o também comediante Dean Martin.
“É difícil achar um bom roteiro de comédia, é por isso que eu costumava escrever meus próprios filmes”, afirmou à época. “Para manter sua qualidade, a comédia precisa de um bom roteiro e bons comediantes. Não importa quando ou como.”
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