Na Barbieland tudo é cor-de-rosa. Lá mandam as Barbies: mulheres perfeitas capazes de governar um país, ganhar um Prêmio Nobel ou administrar uma fazenda sem bagunçar os cabelos. Os homens são mais um acessório, junto com a casa, o carro ou os sapatos. Um dia, nossa protagonista – a estereotipada Barbie – pensa na morte e descobre que tem celulite e pés chatos. A única solução é viajar para o mundo real e conhecer a dona da boneca. Seu namorado, Ken, a acompanha e descobre – para sua surpresa – que os homens podem ser mais do que apenas penduricalhos, então ele retorna determinado a transformar a Barbielândia em um patriarcado.
Greta Gerwig, diretora de Adoráveis Mulheres e Lady Bird: A Hora de Voar, com a ajuda de Noah Baumbach, seu co-roteirista habitual, criou um filme hilário e inteligente da – provavelmente – boneca mais velha e estúpida da história dos brinquedos. A conquista do longa-metragem, em cartaz nos cinemas brasileiros desde a semana passada, é notável. A começar pelas decisões de produção extremamente arriscadas de Greta, que queria construir todos os cenários em escala real. Além de ser uma fantasia visual, esses cenários funcionam maravilhosamente do ponto de vista narrativo. O espectador habita por 1 hora e 54 minutos, literalmente, em um mundo de bonecas.
A esse festival cromático e engraçadíssimo se junta a capacidade de contar uma história divertida com múltiplas camadas. Uma história que começa como uma reivindicação talvez um tanto básica do feminismo, para depois criticar visões excludentes, aproveitar para refletir sobre a crise da masculinidade e valorizar a importância da individualidade e da complementaridade (nem homem nem mulher nasceram para ser acessório de ninguém). Além disso, Barbie dá uma importante apunhalada em forma de sátira na sociedade de consumo e finaliza com uma história de relação entre mãe e filha, muito parecida com a que Greta Gerwig contou em Lady Bird.
Tudo isso em um ritmo alucinante, com doses constantes de humor e ironia e com seu toquezinho woke, diga-se de passagem. Um toque que, como alguns de seus discursos, é calculadamente etéreo para não incomodar. Parte da inteligência da proposta é que, apesar da profundidade de algumas questões, Barbie é um filme capaz de rir de si mesmo e não se levar muito a sério.
É nesse tom certeiro – meio comédia, meio alegoria – que brilham as atuações de Margot Robbie e Ryan Gosling. Não consigo pensar em muitos papéis mais complexos do que o de Gosling em Barbie. E também antes de ver esse filme me parecia impossível juntar Barbie e inteligência na mesma frase. Greta Gerwig conseguiu isso.
© 2023 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.
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