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No Prime Video

“BlackBerry” conta improvável história do aparelho que foi engolido pelo iPhone

Cena do filme "BlackBerry", do Prime Video
"Blackberry" conta história de ascensão e declínio do primeiro grande smartphone (Foto: Divulgação/XYZ Films)

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Não me lembro onde estava em um momento marcante do início do século XXI: o grande ponto de virada cultural que ocorreu quando Steve Jobs subiu ao palco de São Francisco apresentando a primeira iteração do iPhone. Não sei o que pensei da apresentação dele. Eu certamente não tinha ideia de que a minúscula máquina mudaria tudo repentinamente, muito menos que passaria a ser um agente de perturbação e depressão.

Lembro-me que naquela época eu tinha um BlackBerry. O porquê de eu ter um e de ninguém mais possuir um hoje é o tema de um novo filme com um título admiravelmente simples: BlackBerry, que está disponível no Prime Video. Assim como Air: A História por Trás do Logo, a recente produção de Ben Affleck sobre o cortejo de Michael Jordan pelos vendedores de calçados da Nike, o filme é sobre um grupo de excêntricos motivados que alcançam um improvável crescimento nos negócios. Ao contrário do Air, falta o glamour de Jordan e da NBA, as coberturas verde-escuras da sede da Nike no Noroeste americano e o poder estelar de Affleck e Matt Damon. Em vez disso, o que ele oferece são atores que você achará vagamente familiares gritando uns com os outros nos subúrbios sombrios de Waterloo, Ontário, no Canadá.

Mas há muito o que gostar em BlackBerry. Começamos em 1996, com os melhores amigos e nerds da tecnologia Mike Lazaridis (Jay Baruchel) e Doug Fregin (Matt Johnson, também diretor do filme) apresentando uma proposta para um dispositivo que eles chamam de PocketLink, que combina tecnologia de celular com capacidade de e-mail, por meio de um minúsculo teclado que é amigável para os polegares. Eles entendem de tecnologia, mas os negócios não são seu forte: sua empresa, a Research in Motion, é um paraíso nerd de programação, videogames e noites de cinema de Indiana Jones, com Fregin como um benevolente fanfarrão, enquanto empresas maiores exploram sua ingenuidade e o os empréstimos contraídos por Lazaridis ameaçam vencer.

Nerds canadenses em Nova York

É aí que entra Jim Balsillie (Glenn Howerton), um figurão corporativo de nível médio demitido por ser um pouco predatório, que vê o potencial do PocketLink e, em troca de uma participação na empresa e um título de co-CEO, ajuda os nerds a venderem sua tecnologia na grande e malvada cidade de Nova York, onde o humilde PocketLink é transmutado no célebre BlackBerry. Ao fazer isso, ele inicia o processo de separação de Lazaridis, um grande talento da informática, e Fregin, o nerd mais banal, mas também o personagem mais alegre, cuja estrela está destinada a se firmar à medida que a empresa se torna implacavelmente competitiva.

A partir daí, o filme avança para 2003, quando, para se defender de uma aquisição hostil da PalmPilot, Balsillie tem de empurrar Lazaridis para um novo avanço tecnológico, com ajuda de táticas de contratação não totalmente compatíveis com a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos. E então chegamos a 2007, quando o BlackBerry domina o mundo dos celulares, Lazaridis está mais velho, com um topete branco e perdeu um pouco de sua decência, Balsillie está tentando comprar um time de hóquei americano e transferi-lo para o norte da fronteira, e o iPhone entra como o inimigo californiano de tudo o que eles construíram.

Tal como Air, mas ainda mais, este é um filme sobre empresários do sexo masculino em que a vida doméstica e romântica está notavelmente ausente. Observamos os protagonistas de BlackBerry ao longo de mais de uma década e nunca percebemos que eles têm quaisquer motivações ou compromissos além da competição tecnológica e profissional (juntamente com, sim, o amor de Balsillie pelo hóquei). O material familiar em dramas de ascensão e queda costuma ser proforma e cortá-lo ajuda a agilizar a narrativa, mas você pode sentir sua ausência aqui. Baruchel e especialmente Howerton apresentam desempenhos fantásticos, mas, como o personagem Fregin está marginalizado, eles realmente existem apenas em relação um ao outro, uma jogada de dois homens, com algumas correrias em aeroportos jogadas no meio.

Duas estrelas versus uma constelação

Mas talvez seja essa a questão: que, como empresa, a BlackBerry esteve sempre destinada a ser superada, porque era um par de estrelas contra uma constelação, um aglomerado de talentos provinciais que enfrentavam o poder consolidado do Vale do Silício. (“Você disse que eles eram os melhores engenheiros do mundo!”, Balsillie grita a certa altura, quando sua equipe bate em uma parede. “Eu disse que eles eram os melhores do Canadá”, responde Lazaridis, tristemente.) Inventar um dispositivo temporariamente dominante, mais civilizado que seus sucessores, se não exatamente mais elegante, era tudo o que os garotos dos subúrbios de Ontário poderiam esperar fazer. Já para competir no longo prazo, eles teriam de engarrafar raios todos os anos.

Nos seus momentos mais eficazes, esse é o tipo de elegia que BlackBerry oferece: não o lamento previsível pelas amizades sacrificadas no altar do comércio, mas uma canção sobre o talento provinciano que brevemente fez de Waterloo um centro improvável de poder, antes que o império inevitavelmente contra-atacasse.

© 2024 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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