Fargo (2014, disponível no Prime Video) é uma série que, assim como seus personagens, parece deslocada do seu ambiente. Enquanto boa parte das produções de hoje é original, ela se baseia em um cultuado filme (Fargo, 1996, também presente no catálogo do Prime). O cenário é o Centro-Oeste americano, que parece não decidir se quer ser interior ou metrópole. E Noah Hawley, criador e roteirista, gosta de trilhar caminhos diversos: a disputa entre o bem e o mal, a providência e, nesta mais recente temporada, o perdão entra em cena.
Depois de duas temporadas iniciais quase perfeitas, a terceira foi satisfatória, especialmente com a dupla atuação de Ewan McGregor. Já a quarta perdeu a qualidade ao tratar do tema racial, estrelando Chris Rock. Mas essa quinta, finalizada no começo do ano, é brilhante.
Quem conhece Fargo sabe que seus inícios te pegam pelo pescoço. Normalmente, há muita ação e o final deixa uma série de perguntas não respondidas. Na atual temporada, vemos a protagonista Dorothy Lyon, interpretada por Juno Temple, envolver-se numa confusão em uma reunião de pais. É neste singelo evento que nos surpreendemos com sua coragem desproporcional, capaz até de se embrenhar numa luta com um policial.
Em casa, ela foge das perguntas do marido e tenta desviar o assunto para o foco da sua vida: sua filha. Porém, o ocorrido deixa marcas e o passado sombrio cobra a conta: dois homens encapuzados invadem a residência de Dorothy e ela, numa espécie de Esqueceram de Mim mais violento, consegue se livrar de ambos.
Um dos invasores é Ole Munch, um assumido niilista (filosofia que é confrontada durante a temporada). Esse personagem acredita em nada ou, pelo menos, em alguma coisa? Munch e seu parceiro estão a mando de um ex-marido abusivo da protagonista, o xerife Roy Tillman, interpretado por Jon Hamm, o eterno Don Draper de Mad Men (também disponível no Prime).
História real?
Todos os episódios de Fargo, e também o próprio filme, começam com o surpreendente aviso: “essa é uma história real”. Os não familiarizados estranham, mas os mais atentos podem fazer uma indagação interessante. Certamente, nada do que acontece no universo de Fargo é real, no sentido de ser factual. Mas o realismo de Fargo opera de forma diferente. Em vez de querer se aproximar da realidade, a câmera se afasta e projeta um fundo branco, em que a neve confere um tom atemporal a tudo.
A quinta temporada honra a inventiva criação dos talentosos irmãos cineastas Joel e Ethan Coen. O humor está presente, seja nos diálogos ou nas escolhas das músicas, que compõem uma trilha sonora que se destaca. Há personagens secundários muito bons, como Lorraine Lyon, a sogra de Dorothy, com seus comentários sarcásticos. E a violência doméstica é tratada com sensibilidade e inteligência, sem cair nos reducionismos do politicamente correto.
O último episódio amarra bem uma temporada muito sólida e que coloca Fargo de volta nos trilhos. Nele, a palavra Cristo é pronunciada pela primeira vez, depois de Deus ser dita tantas vezes, quase sempre antes de uma imprecação. Depois de uma oração, um pão é dividido e um personagem, que espantosamente também nos representa, ganha o perdão.
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