É difícil imaginar alguém escolhendo Camaleões na Netflix e terminando a sessão com o sentimento de ter visto um dos melhores thrillers policialescos do todos os tempos. Por outro lado, não reconhecer as qualidades desse recém-lançado filme seria uma injustiça. E os méritos devem ser repartidos entre um novato e um veterano.
O novato é Grant Singer. Antes de dirigir Camaleões sua fama era restrita ao mundo dos videoclipes. Por suas lentes passaram hits de The Weekend (Can’t Feel My Face, Starboy), Lorde (Green Light, Perfect Places) e Taylor Swift (I Don’t Wanna Live Forever). O suspense da Netflix é sua estreia em longas-metragens e o debutante entrega uma obra sólida, com reviravoltas típicas do gênero, e praticamente nenhuma invencionice no afã de demonstrar estilo autoral. Ele trabalha para o filme, não para ser notado.
Já a contribuição veterana é de Benicio del Toro. Aos 56 anos, o ator porto-riquenho de interpretações brilhantes em filmes como Traffic (2000) e Escobar: Paraíso Perdido (2014) protagoniza Camaleões na pele de um tira (Tom) que ama sua profissão, mas acha que a profissão já não gosta mais tanto dele. A missão de elucidar o assassinato de uma jovem corretora de imóveis parece terminar quando Tom mata o principal suspeito para defender seu parceiro detetive, que vacila num momento crucial da investigação. Mas, como ele é um policial inquieto, seu desejo de seguir montando o quebra-cabeças do caso é mais forte do que a medalha de honra que ele ganha e do que seu afastamento temporário por ter alvejado o suspeito.
Esposa escudeira
Quem dá suporte para as obsessões de Tom é sua esposa Judy, papel de Alicia Silverstone, que também teve um início de carreira no mundo dos clipes, dando cara para as baladas Cryin’, Crazy e Amazing, do Aerosmith, na primeira metade da década de 90. Agora, com 47 anos, a atriz convence como a mulher do policial honesto, dando até algumas ajudinhas para as peças do caso investigado se encaixarem.
Quem brilha um pouco menos no elenco é Justin Timberlake, outro com passado (e presente) musical. O cantor e integrante da boy band NSYNC, que acaba de reunir para uma turnê, vive Will Grady, o marido da corretora assassinada. Ele também é do ramo, herdeiro de uma família que fez fortuna na corretagem, mas sob acusações de ações predatórias entre outras cositas que não podem ser esplanadas para não atrapalhar a experiência de quem ainda não assistiu ao filme.
Quando todas as cartas estão na mesa, Benicio del Toro pega a câmera para si e vira quase que o único ponto de interesse de Camaleões. São seus dilemas profissionais, seu passado comprometedor, o ciúme que sente da esposa, as desconfianças que fareja entre seus pares e a obstinação em ir até o fim num caso que muita gente tem interesse em encerrar logo que prendem o espectador até a cena final. Uma atuação que vale o tempo investido na película.