María Carolina Geel foi uma escritora chilena que, em 14 de abril de 1955, assassinou seu amante com quatro tiros na cafeteria do luxuoso Hotel Crillon, em Santiago, diante de uma multidão de testemunhas e sem motivo aparente. Foi condenada a três anos de prisão, mas, graças ao perdão solicitado pela escritora Gabriela Mistral e concedido pelo presidente Carlos Ibáñez del Campo, foi libertada mais cedo.
Esta é a surpreendente história contada em No Lugar da Outra, filme que acaba de chegar ao catálogo da Netflix. O acontecimento descrito acima também está ligado a outra tentativa de homicídio de uma escritora chilena – María Luisa Bombal – dez anos antes, no mesmo Hotel Crillon. Tais fatos ajudam a cineasta chilena Maite Alberdi a criar um jogo de espelhos protagonizado por uma secretária judicial que, chocada com o crime e em êxtase pela criminosa, flerta com a ideia de ocupar seu lugar em vida.
Maite Alberdi, que dirigiu dois filmes de destaque (A Memória Infinita e O Agente Toupeira, ambos indicados ao Oscar de Melhor Documentário em Longa-metragem), muda completamente de registro para construir uma ficção muito mais elaborada e intelectual. Mas, é preciso dizer, sem o grau de excelência dos dois documentários. É um filme pouco convencional – e isso é um elogio – que tenta dialogar em diferentes níveis e com diferentes vozes. Há cinema dentro do cinema, há reflexão sobre o escapismo por meio da arte, há retrato de época, há denúncia social e crítica feminista.
O único senão é que No Lugar da Outra tenta amarrar muitas coisas, e usando de um tom entre o irônico e o onírico, o que acaba diluindo um pouco a história. Resumindo: um filme interessante e original, com uma personagem diferente, interpretada com charme pela atriz Elisa Zulueta.
© 2024 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.
- No Lugar da Outra
- 2024
- 95 minutos
- Indicado para maiores de 14 anos
- Disponível na Netflix