Com um roteiro notavelmente equilibrado e eficaz, que nos convida a pensar na criação da primeira bomba atômica, Christopher Nolan consegue manter o espectador tenso por 180 minutos sem falhar. Em Opppenheimer, que está em cartaz nos cinemas brasileiros desde a semana passada, o diretor britânico adapta o livro americano Oppenheimer: O Triunfo e a Tragédia do Prometeu Americano, pelo qual Kai Bird e Martin J. Sherwin ganharam o Prêmio Pulitzer de 2006 na categoria de biografia.
Nolan absorve o impressionante trabalho de pesquisa do livro e o dramatiza, criando conflitos e um enredo que se assemelha muito aos de Batman:O Cavaleiro das Trevas e Interestelar. A construção dos personagens (os antagonistas voltam a brilhar) é magnífica. Ao contrário dos outros filmes de Nolan, as questões científicas em torno da teoria física são bem compreendidas, o que não acontecia nos anteriores, especialmente em Tenet e A Origem.
A fotografia em 65 milímetros é linda, tanto em cores quanto em preto e branco, que numa sala IMAX reluz mais e melhor. Nolan argumenta que o futuro do cinema de grande orçamento passa por esses tipos de salas especiais – e ele tem razão. Som e música, habilmente misturados ao silêncio em uma montagem que estimula o mistério, realçam o expressionismo de um cineasta fiel a uma linguagem e a um tipo de relato hipnóticos, tendo como protagonistas os dilemas e paradoxos da física quântica.
O trabalho dos atores é excelente, tendo em conta que a fragmentação da história os obriga a fazer um esforço especial para não prejudicar a continuidade nos arcos dos respectivos personagens. A ambiguidade dá a tônica de uma história em que você passa da luz à sombra com facilidade: personagens que te atraem podem te repelir e vice-versa. A ascensão e queda de Oppenheimer, que, além de "muito inteligente, era também muito burro", como apontou seu amigo e colega Isidor Isaac Rabi, é contada com qualidade audiovisual superlativa. Recriar o teste atômico de julho de 1945 sem usar efeitos digitais em locações próximas ao New Mexico Research Center tem um resultado brilhante.
Nolan sabia que a credibilidade do filme estava em jogo no quesito som – e o que ele oferece é avassalador. Embora pareça paradoxal, principalmente para quem não sabe que no cinema se trabalha por contraste e/ou afinidade, o mais genial no filme são seus silêncios ensurdecedores. Nesse sentido, a sequência de abertura é magistral.
Serviços secretos soviéticos
Uma questão instigante e de muito peso na história é a exigência de sigilo nos trabalhos de pesquisa atômica e a presença de espionagem. O filme mostra que a relevância do comunismo e o comprometimento dos serviços secretos soviéticos nos Estados Unidos não podem ser resolvidos com o apelo simplista de uma caça às bruxas. A sombra da Rússia, aliada em 1945 e inimiga durante a Guerra Fria, é longa. Nolan poderia ser criticado por explorar um encontro sexual, mas é sabido que muitos dos recrutamentos de pensadores, cientistas e agentes duplos pelo Ministério do Interior russo, e mais tarde, pela KGB tinham como uma de suas principais âncoras a luxúria e a soberba intelectual que geralmente fica escondida.
O filme é muito ambicioso porque convida o espectador a refletir sobre a ciência e seus limites, a ética da pesquisa aplicada às armas de destruição em massa, o conceito de dissuasão, a influência da personalidade no trabalho em equipe dos cientistas, os efeitos da vida pessoal no campo profissional, a diferença entre físicos de lousa e físicos de laboratório, a relevância das máquinas que permitem verificar modelos teóricos, as decisões políticas sobre o uso da força, etc., etc.
Oppenheimer é um ótimo filme. Fica maior quando você lê sobre cada um dos personagens interpretados, incluindo o presidente Truman, o secretário de guerra Henry Stimson e o general Graves, chefe do Projeto Manhattan. E os físicos ganhadores do Prêmio Nobel Niels Bohr, Enrico Fermi e Ernest Lawrence.
© 2023 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.
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