Marisa Abela como Amy Winehouse em “Back to Black”, que estreia nesta semana no Brasil| Foto: Divulgação
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Back to Black oferece uma visão alternativa e pouco humanizada da grande cantora inglesa Amy Winehouse (1983-2011). A cinebiografia, que estreia hoje (16) nos cinemas brasileiros, explora em sua narrativa a vida marcada por drogas e excessos da artista, mas por vezes se esquece que aquela foi uma das maiores vozes deste século. Em vez de destacar a complexidade de Amy (vivida pela atriz Marisa Abela), o filme prefere mostrá-la como uma figura trágica, profundamente afetada pelas pressões da fama e do sucesso e, mais do que isso, como uma pessoa extremamente solitária.

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No início, somos apresentados a uma jovem de 20 anos multifacetada, em uma festa na casa da família de seu pai, onde sua voz brilha entre os convidados. Nessa passagem já são introduzidos dois personagens fundamentais em sua vida: o próprio pai e sua avó. Ambos são retratados com muito carinho pela diretora Sam Taylor-Johnson, que escolheu ignorar todas as denúncias de abuso do progenitor na vida real.

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Mitchell, o pai, era uma figura fundamental na vida de Amy, indo com ela a apresentações, reuniões com a gravadora e sendo inclusive o seu motorista em momentos importantes (ele era taxista em Londres). A avó Cynthia tinha ainda mais importância. Tudo na cantora era inspirado na vovó, que também era cantora: seu estilo, seu cabelo e até o seu herdado conhecimento musical. No longa, conhecemos muito mais sobre a relação de carinho entre as duas, até a hora em que Cynthia precisa contar à neta que está com um câncer terminal. O coração de Amy começa a quebrar neste momento.

Outro personagem fundamental em sua vida é o contraditório Blake Fielder-Civil. E aí está uma das maiores falhas do filme. A biografia mostra como eles se conheceram casualmente em um bar, mesmo com Blake ciente de quem era a cantora. Foi uma paixão arrebatadora. Como ela mesmo diz no longa, ele se transformou na própria vida da cantora. Apesar da veracidade dos fatos, o filme isenta o companheiro de qualquer culpa, mostrando uma Amy agressiva, ciumenta e obcecada. Vemos muitos episódios de atritos entre os dois até ele ser preso e resolver se divorciar da cantora.

Reabilitação e morte

Assim começa outro capítulo de sua vida, mais dramático, solitário e triste. Músicas como Back to Black e Tears Dry on Their Own aparecem nessa fase. O sofrimento faz com que ela se entregue novamente a seus vícios. Depois de muitos episódios de adicção, Amy pede ao pai para levá-la a uma clínica de reabilitação (na contracorrente do que dizia o refrão de seu maior hit, Rehab).

O filme provoca ao tratar da morte de Amy, sugerindo a possibilidade de seu coração partido ter sido uma das causas. No entanto, ao mesmo tempo em que aborda sua vulnerabilidade emocional, Back to Black falha em explorar todo o contexto que contribuiu para seus problemas. A obra aborda a pressão constante da indústria musical, assim como o assédio incessante dos paparazzi, mas não deixa claro que a cantora nunca esteve pronta para a fama.

Em uma reflexão sobre o que poderia ter sido a vida de Amy, Back to Black nos leva a imaginar um cenário alternativo onde ela encontraria redenção e cura. Essa especulação, embora poética, destaca o potencial não realizado da artista e nos faz pensar sobre o peso das expectativas e das circunstâncias em sua vida. A atuação de Marisa Abela vale a pena ser ressaltada. Apesar de parecer mais doce do que a retratada, a atriz vai crescendo e se transformando ao longo da história.

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Não deixa de ser uma homenagem a Amy Winehouse, buscando ir além de suas lutas públicas, mas também deixando espaço para uma ponderação crítica sobre as forças que moldaram sua trajetória. E tem a importância de cada canção: pequenas explicações surgem para contextualizar os maiores hits. Ao final de tudo, o que bate mais forte é a ideia de como poderia ter sido sua vida se ela estivesse mais preparada para o sucesso.