A australiana de 55 anos Cate Blanchett e o alemão de 47 Michael Fassbender em “Código Preto”| Foto: Divulgação Universal
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Com uma vasta e elogiável filmografia, o americano Steven Soderbergh pode entrar num set de filmagens para comandar um trabalho menor e independente, como o que lhe trouxe fama e prestígio em 1989, Sexo, Mentiras e Videotape, ou pode sair de lá com um verdadeiro blockbuster, como a refilmagem de Onze Homens e um Segredo (2001). Em qualquer dos cenários, ele estará bem acompanhado de grandes atores, que fazem fila para participar de algum projeto do cineasta de 62 anos. Código Preto tem mais a ver com suas obras menores, mas isso está longe de significar um longa-metragem desprezível. Bem longe.

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Em cartaz nos cinemas brasileiros, Código Preto é centrado em George Woodhouse, um agente do serviço secreto britânico que precisa investigar o vazamento interno de um software chamado Severus. Cinco funcionários do MI6 são suspeitos, incluindo sua esposa Kathryn, que também é uma superespiã da organização. Para tentar farejar quem é o traíra, ele organiza um jantar em sua casa e sugere um jogo em que os convidados para o convescote são instados a revelarem intimidades. É só o pontapé inicial para uma jornada que envolverá muitas pistas falsas, seduções e promessas de fidelidade.

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O maior deleite de Código Preto é poder acompanhar o casal principal interpretado pelo alemão Michael Fassbender e a australiana Cate Blanchett. Existe alguma dupla mais talentosa atuando no cinema de hoje na faixa dos 45-55 anos? Em cena, eles entram em ebulição. George odeia mentirosos, é meticuloso e completamente devotado à esposa. Kathryn é intensa, sensual e consciente de que não poderia ter encontrado um marido com mais predicados dada as restrições que agentes secretos naturalmente enfrentam para estabelecerem relacionamentos amorosos.

Agente duplo

Quem acompanha A Agência, do Paramount+, pode até pensar que o trabalho de Fassbender foi facilitado em Código Preto, já que na série lançada no ano passado ele também encarna um espião do serviço britânico. Mas há diferenças sutis entre os personagens. Enquanto na série ele vive um profissional em crise, envolvido num caso amoroso complicado e tentando se reaproximar da filha, no filme ele mantém o foco totalmente no trabalho. Até comete um deslize na investigação, comprometendo outra agente e suspeita do vazamento interpretada por Marisa Abela (a Amy Winehouse da malfadada cinebiografia de 2024), mas consegue se recuperar e conduzir a missão até encontrar o judas do MI6.

Como o papo aqui é agente secreto, vale dizer que Pierce Brosnan tem uma ponta na película. O 007 de quatro filmes faz o chefão do órgão e, em determinado momento, também parece estar envolvido com o vazamento do Severus. Os demais atores presentes no tabuleiro são Tom Burke, Regé-Jean Page e Naomie Harris, esta dando vida a uma psicóloga da agência encarregada de cuidar da saúde mental dos seus companheiros – todos fazendo uso de medicações fortes e vivendo romances arriscados dentro do M16. Aliás, a própria psicóloga está num trelelê indevido.

Cate Blanchett vive uma agente suspeita de cometer um vazamento no serviço secreto britânico| Foto: Divulgação Universal

Quem gosta do tema não vai se arrepender de investir uma hora e meia na mais recente empreitada de Soderbergh. Além de dirigir os soberbos Fassbender e Cate, o cineasta assina a fotografia, a montagem e atua como cameraman. É esse o nível do envolvimento do diretor, o que dá uma enorme segurança para o elenco. Com o domínio de tantas etapas, com atores de primeira grandeza à disposição e com uma história interessante para contar (escrita pelo esteta David Koepp, de O Pagamento Final, Missão: Impossível e de diversas parcerias com Steven Spielberg), Soderbergh só poderia registrar mais um tento.

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  • Código Preto
  • 2025
  • 94 minutos
  • Indicado para maiores de 14 anos
  • Em cartaz nos cinemas