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A tarefa de adaptar um livro para as telonas é sempre arriscada. Além da possibilidade de irritar fãs de determinada obra com um roteiro muito livre, uma versão totalmente fiel ao texto original é capaz de se tornar uma experiência chata e interminável para quem quer tudo resolvido em duas horinhas. Esse desafio nunca foi tão sentido por Hollywood quanto com O Grande Gatsby, obra magna do escritor americano F. Scott Fitzgerald.
Publicado em 1925, o livro nasceu como um grande sucesso que descrevia os excessos da Era do Jazz, período em que os Estados Unidos foram marcados por festas clandestinas durante a Lei Seca e a quebra de Wall Street. Seus personagens imperfeitos e carregados de segredos e vícios são mais do que adequados para a produção de uma película. Graças à essa riqueza, a obra ganhou adaptações singulares em cinco décadas distintas, lançadas em 1926, 1949, 1974, 2000 e 2013.
Embora o primeiro longa não seja muito comentado, pois sua cópia foi perdida, as demais versões encontraram algum público e sucesso, especialmente os Gatsbys blockbusters de 1974 e 2013, que estão disponíveis no streaming brasileiro.
Prós e contras
Na versão dos anos 70, disponível para aluguel no Prime Video e Apple TV+, Robert Redford foi o responsável por encarnar o personagem titular do livro. Embora sua interpretação tenha dividido os críticos à época (notadamente pela falta de qualidade na transição entre as personalidades polida e simples de Gatsby), o roteiro é fiel à obra de Fitzgerald – cortesia do roteirista Francis Ford Coppola.
Já o hit de 2013, dirigido e roteirizado pelo exagerado Baz Luhrmann e presente no HBO Max, captura mais a energia frenética das festas e ambientes descritos em O Grande Gastby. Isso se dá muito pelo próprio estilo flamboyant de Luhrmann, famoso por seu trabalho nos filmes Moulin Rouge e, mais recentemente, Elvis.
Algumas de suas escolhas são bastante questionáveis. A primeira delas foi sua decisão de tentar tornar a história mais próxima da vida contemporânea com uma trilha-sonora repleta de artistas atuais, como Jay-Z, Beyoncé e Jack White – vale dizer que as músicas escolhidas estão longe de serem ruins, mas são responsáveis por quebrar a imersão de quem gostaria de uma produção mais focada nos anos 1920.
Outra característica que hoje, dez anos depois, causa estranhamento é o excesso de cenas utilizando computação gráfica. A visão do diretor para os locais até combina com a suntuosidade de algumas descrições da obra de Fitzgerald, porém o resultado é um longa-metragem muito artificial e cansativo aos olhos.
Redford versus DiCaprio
Por fim, também vale mencionar que a versão de 2013 toma liberdades que prejudicam a percepção de quem nunca leu o livro. De cara, ela apresenta o narrador, Nick Carraway, como um alcóolatra internado. Felizmente, esse tipo de alteração não acontece com a mesma intensidade na versão setentista com Redford, que só mudou alguns cenários para que os figurinos não fossem arruinados por chuva e sujeira.
Com tudo isso em mente, fica difícil apontar qual seria a adaptação ideal de O Grande Gatsby para os cinemas. Todas têm qualidades e defeitos que podem ou não ser ignorados por quem assiste. Um espectador consegue criar uma afinidade maior caso seus artistas favoritos estejam envolvidos em determinada adaptação. Para fãs do estilo de Luhrmann e das atuações de Leonardo DiCaprio, o longa de 2013 é um grande deleite. Já quem valoriza a nobreza de Redford e Coppola nunca trocará o clássico pelo duvidoso.
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