Algumas pessoas precisam tomar um tombo até encontrar um caminho para a vida. Mesmo que hoje pareça improvável, esse é o caso de Dallas Jenkins, diretor e criador de The Chosen: Os Escolhidos, que hoje passa a ter dois de seus capítulos exibidos em cinemas da rede Cinemark espalhados por 45 cidades do Brasil. O americano de 48 anos veio ao país para celebrar a ocasião, que marca um grande momento em sua carreira, e bateu um papo com a Gazeta do Povo sobre o seriado – a conversa pode ser assistida e lida ao final da matéria.
Antes de lançar o piloto da série que acompanha Jesus Cristo e seus apóstolos, em 2017, Jenkins estava dedicado a uma carreira como produtor de filmes. Esse era seu foco até o lançamento de A Ressurreição de Gavin Stone, uma “dramédia” cristã, que tinha seu sucesso atrelado à possibilidade de um acordo de dez anos com a Blumhouse, produtora responsável por longas indicados ao Oscar, casos de Whiplash: Em Busca da Perfeição e Infiltrado na Klan.
“Em duas horas, passei de um diretor com um futuro muito brilhante, que finalmente conseguiu sucesso em Hollywood, a um diretor sem futuro”, contou Jenkins sobre a primeira semana de seu longa em cartaz. O fracasso nas bilheterias o fez procurar novas ideias, principalmente por saber que o acordo que garantiria sua carreira em Hollywood até 2027 havia caído por terra. Até que um dia, enquanto assistia televisão, percebeu que não existiam muitos produtos com diversas temporadas que contassem a história de Cristo. Foi aí que nasceu a ideia para The Chosen.
Cinco pães e dois peixes
O pontapé para correr atrás da parceria com a Angel Studios, responsável pela distribuição de The Chosen e do filme Som da Liberdade (previsto para chegar aos cinemas brasileiros em 21 de setembro), veio de algo dito por sua esposa e de uma mensagem de texto recebida de um amigo. Coincidentemente, ambos lembraram Jenkins de como Cristo alimentou 5 mil homens com apenas cinco pães e dois peixes.
“Foi poderoso, como se a voz de Deus se tornasse audível”, relatou Jenkins, em 2019. A partir disso, com a “matemática impossível” na cabeça, encontrou-se com a Angel e entendeu que poderia financiar sua série no modelo de financiamento coletivo, o crowdfunding, sem depender de executivos do cinema americano e tendo total liberdade para sua visão artística.
Sem expectativas, ele conseguiu levantar com a vaquinha 10 milhões de dólares de 16 mil pessoas, fazendo do seriado o maior sucesso da produtora. The Chosen só cresceu e hoje é assistido por 110 milhões de espectadores em 175 países, incluindo o Brasil. O plano é aumentar ainda mais a presença da série ao redor do globo, disponibilizando os episódios em mais de 600 idiomas.
Sua chegada aos cinemas brasileiros é um momento de comemoração para Jenkins que, durante sua entrevista para a Gazeta do Povo, vestia uma camiseta carregando a mensagem dos cinco pães e dois peixes. O diretor falou sobre sua visão de Jesus Cristo e como a série é feita para todos, inclusive não-cristãos. Confira a seguir.
Muitas pessoas elogiam The Chosen por sua versão “divertida” de Jesus Cristo, um reflexo de seu próprio bom humor. O que o motivou a escolher essa abordagem para a série?
O humor é uma parte muito importante do seriado, porque ele é capaz de conectar as pessoas. É um sentimento muito identificável e humano. As pessoas amam rir e a risada é um resultado de surpresa. Então, toda vez que você ri, por definição, isso vem de um lugar de surpresa, que te traz felicidade e lhe aproxima de quem o fez rir. E Jesus era muito assim na Bíblia, ele atraia pessoas. Crianças o amavam e pessoas o seguiam para todo lugar. Na maioria dos filmes, vemos Jesus muito sério, tedioso e distante, o que não faz nenhum sentido para mim. Amamos o humor, porque eu sinto que, além dele aproximar as pessoas de Cristo, o sentimento as leva para perto das histórias. E as pessoas amam rir quando assistem a um programa ou filme. Acho que é uma qualidade que conecta a série com os espectadores.
Uma rápida olhada em suas redes sociais mostra que você também leva desse bom humor para as filmagens. Qual a importância de criar um bom ambiente para os atores e toda equipe?
Acredito que grande parte das maiores atuações e performances dos nossos atores e equipe vêm da confiança. Se uma pessoa se sente confiante e confortável, ela acabará dando sua melhor performance e trabalhará melhor e de maneira inteligente. Então, tento dar um exemplo de relaxamento e leveza. Faço muitas piadas para que todos sintam que eu não me levo tão sério, ou que possa estar estressado. Ter um ambiente livre de estresse não só conecta todos entre si e a mim, mas também os deixa mais confortáveis e confiantes.
Como você sente que a compra de uma propriedade no Texas para recriar a cidade bíblica de Cafarnaum impactou a experiência de gravar a série?
Ter esse tanto de espaço é muito útil. Ela parece Israel em algumas partes, além de permitir que tenhamos nosso estúdio de gravação ao lado da nossa própria vila de Cafarnaum. Isso permite que fiquemos por perto e não precisemos viajar toda hora para filmagens, especialmente no meu caso. Agora, eu moro a 10 minutos do set, o que torna tudo mais fácil para a minha família. Nós amamos o Texas, porque as pessoas de lá e a nossa propriedade parecem muito autênticos para a série.
The Chosen abre seus episódios com um aviso de que, além dos textos bíblicos, algumas cenas foram criadas para completar brechas nas histórias. Você tem algum momento “ficcional” favorito na série?
Oh, é uma ótima pergunta. Eu amo quando no terceiro episódio da terceira temporada, que se passa depois do que você será exibido nos cinemas brasileiros, Jesus volta para sua cidade natal, participar de um jogo com amigos e visitar sua mãe em casa. Vemos Jesus falando com ela e se deitando em sua cama no quarto da infância. É uma das coisas favoritas que já fiz, mostrar que Jesus não era muito bom em esportes.
Você acha que uma pessoa que não é ligada ao estilo de vida cristão pode se apaixonar pelo seriado?
Eu tenho certeza de que pode, porque ouvimos toda hora relatos de pessoas que dizem “não sou religioso ou crente, mas amo essas histórias e a mensagem de Jesus”. Eu amo o impacto emocional de contar uma história. Existem muitas séries e filmes que vejo e não acredito na espiritualidade deles, mas mesmo assim sou capaz de apreciar as histórias e me emocionar com o comportamento humano. Acho que é isso que está acontecendo agora.
Você visitará algum marco religioso durante sua passagem pelo Brasil?
Mal posso esperar para ver a famosa estátua [O Cristo Redentor]. Nunca a vi pessoalmente, afinal nunca estive no Brasil antes. Então, é bastante emocionante.
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