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Bobi Wine, que almeja chega à presidência de Uganda
O cantor e político Bobi Wine, que almeja chegar à presidência de Uganda| Foto: Divulgação Disney

A cerimônia do Oscar pode já ter ocorrido, mas é bem que difícil que alguém tenha assistido a todos os filmes que entraram na disputa por alguma estatueta. Especialmente nas categorias menos prestigiadas, há muitas obras dignas de serem conferidas e que estão disponíveis no streaming. É o caso de Bobi Wine: The People’s President, documentário produzido pela National Geographic que pode ser visto gratuitamente no YouTube (e também no Star+), que não foi páreo para derrotar 20 Dias em Mariupol e todo o apelo da terrível invasão russa na Ucrânia.

Bobi Wine explora um outro tipo de drama, muito recorrente no continente africano: o do país governado pelo mesmo cidadão há décadas e um povo que não consegue apeá-lo do poder. No caso, estamos falando de Uganda, pequeno território no leste da África, que faz fronteira com Quênia, Congo, Sudão, Ruanda e Tanzânia. Lá, desde 1986, a presidência é exercida por Yoweri Museveni, um ex-líder revolucionário que prometeu que, em sendo eleito, tudo seria diferente. Um ugandense que acreditou no papinho de Museveni foi Bobi Wine, cantor e compositor popular que resolveu se envolver com política na última década.

O artista começou disputando uma vaga no parlamento e aprendendo que o apoio das ruas não seria o bastante para conseguir mudar as coisas no país. Mesmo eleito com folga, Bobi Wine bateu de frente com uma maioria governista, responsável por sua primeira derrota legislativa. A Constituição de Uganda impedia que alguém com mais de 75 anos disputasse a presidência (olha que iniciativa boa para Brasil e Estados Unidos imitarem!), o que deixaria o septuagenário Museveni de fora do último pleito nacional. Mas o governo mandou para o Congresso um projeto cancelando a lei, algo que Bobi Wine tentou barrar inflamando o país pela defesa da Carta Magna, sem conseguir os votos necessários de seus colegas.

Sem internet em todo o país

O jeito foi executar o plano B: ele mesmo entrar na disputa presidencial para tentar destronar Museveni. É nesse ponto que o documentário de Moses Bwayo e Christopher Sharp se mostra verdadeiramente revelador. Se alguém acha que as eleições brasileiras são fraudulentas, precisa conhecer o que se passa em Uganda. A corrida toma a maior parte do filme, com cenas de entusiasmo em Kampala e demais cidades da nação, mas também com forte repressão da polícia e do exército. A campanha de Bobi Wine é obrigada a conviver com prisões arbitrárias, num crescente de tensão que leva o espectador a acreditar que o protagonista não terminará a história vivo.

Na semana da votação, o ambiente fica tão sombrio que o músico despacha os filhos para os EUA por medo de que eles sofram algum tipo de violência. A internet de todo o país vai para o saco faltando 48 horas para o sufrágio e só volta quatro dias depois. Os observadores internacionais desistem de acompanhar o pleito porque Uganda não oferece as garantias democráticas mínimas para receber os visitantes. O povo eufórico nas ruas é insuficiente para concretizar a alternância de poder.

Bobi Wine, em ato político em seu país
Bobi Wine, em ato político em seu país| Divulgação Nat Geo

O desfecho do documentário só não é tão frustrante porque Bobi Wine segue vivo e alimentando as esperanças dos ugandenses. Com o registro audiovisual e a indicação ao Oscar, mais pessoas tomaram e tomarão contato com sua luta, algo fundamental para sua segurança física num lugar em que a polícia prende e mata a torto e a direito, sem esclarecer o motivo. O filme, dessa forma, vira uma espécie de colete balístico para o alegre cantor que entrou nessa de tentar libertar seu país de um tirano. Que um novo doc registre o êxito quando ele se concretizar.

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