Não são só as eleições presidenciais que ganham repeteco nos Estados Unidos hoje em dia. A última década tem sido marcada por uma praga de remakes em Hollywood (ou, no caso de séries, reboots). Vale explicar a diferença entre ambos: o remake consiste em fazer o mesmo filme, com praticamente o mesmo roteiro, só que em outro tempo, com um elenco diferente e possíveis pequenas adaptações. Já o reboot toma a história como base, mas a conta de um jeito diferente, com novo roteiro e novos personagens.
Às vezes, há razões defensáveis para isso. Mas o simples fato de que esses filmes existem - quando o bom senso simplesmente deveria ter impedido que fossem aprovados - sugere não apenas a vitória do comércio sobre a arte ou o entretenimento, mas também o triunfo de interesses comerciais extremamente curtos e míopes sobre qualquer tipo de ambição ou visão de longo prazo para a indústria do cinema.
As sequências sempre estiveram por aí e a indústria cinematográfica reconta histórias desde sempre. Isso obviamente inclui um bom número de remakes. Como a versão clássica de 1939 de O Mágico de Oz, que foi precedida por mais de dez filmes de Oz, incluindo uma trilogia de longas em 1914, produzidos pela própria companhia cinematográfica de L. Frank Baum, além de mais um longa-metragem em 1925.
Entretanto, essas eram obras sem som e em preto e branco. Quando foram introduzidos áudio e cor, combinados com performances fantásticas e músicas memoráveis, permitiu-se que a versão de 1939 recontasse a história de uma forma que enterrou a memória de todas as adaptações anteriores. O resultado é que esta permaneceu como a versão definitiva do filme, assim como há apenas uma versão definitiva do romance E o Vento Levou, de Margaret Mitchell, ou O Poderoso Chefão, de Mario Puzo.
Mas aqui está o erro: os estúdios não estão mais criando obras para serem a versão definitiva. Nem estão ressuscitando histórias esquecidas do passado. Eles estão tentando atrair de volta pessoas nostálgicas pela versão original. A razão principal para muitos dos remakes e reboots de hoje é explorar um público que acha que a história foi bem contada antes e que, por sorte, retornará de qualquer maneira, como algo que não tem mesmo a pretensão de ser equivalente.
Ou ainda, tem a ver com o estúdio precisar seguir usando a propriedade intelectual para manter os direitos sobre a obra (é por isso que o Homem-Aranha continua voltando para matar o pobre Tio Ben a cada poucos anos). Ou, pior ainda, por alguém achar que o clássico original precisa ser feito com um elenco demograficamente diferente (como na versão das Caça-Fantasmas femininas).
É verdade que um remake inferior pode ser semi-justificado se seguir o caminho de alguns projetos recentes que transformaram uma comédia ou drama em um musical de palco bem-sucedido e popular, e depois filmaram o musical. Mesmo assim, tais projetos tendem apenas a negociar com a boa vontade do original.
Insistir em histórias com um público garantido é, talvez, uma maneira racional de limitar o número de fracassos (embora alguns desses projetos tenham perdido bastante dinheiro). Mas também limita a capacidade de um filme ser um sucesso - e, no final do dia, é isso que realmente paga as contas na indústria cinematográfica.
Além disso, ao apenas negociar incessantemente com a boa vontade de sucessos anteriores, Hollywood está perseguindo retornos cada vez menores sem reabastecer o estoque para a próxima geração utilizar. Como tantas coisas em nossa cultura hoje, isso é uma estratégia nascida do desespero em relação ao futuro (como o colunista do New York Times Ross Douthat gosta de dizer é “fundamentalmente decadente”). Na pior das hipóteses, é como os algoritmos que decidem me mostrar anúncios de produtos que acabei de comprar e que, obviamente, são os menos prováveis que eu compre novamente em breve.
Mesmo que histórias novas e excepcionais estejam em falta, as coisas não precisavam ser assim. Uma solução seria refilmar obras que se encaixam em uma dessas duas categorias: a primeira, obras mal feitas anteriormente. Isso pode parecer contra-intuitivo para os figurões dos estúdios avessos ao risco, que pensam apenas em termos de "se vendeu antes, venderá novamente, e se fracassou antes, fracassará novamente". Mas se um romance foi mal adaptado ou uma ideia inteligente foi arruinada por decisões criativas ruins, esse é o material bruto do qual algo melhor pode ser feito, que se tornará a nova versão definitiva.
A segunda são coisas obscuras ou esquecidas. Filmes muito antigos agora negligenciados, ou obras estrangeiras que não penetraram realmente no mercado cinematográfico mundial. Ambos têm sido boas fontes de material do passado. É uma maneira melhor de fazer filmes, com otimismo, em vez de desespero.
© 2024 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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