Lembra quando o diretor Martin Scorsese lançou seu filme O Irlandês na Netflix? Uma das principais reclamações foi sobre a duração de 3 horas e 48 minutos, com um comentário recorrente de que aquele trabalho deveria ser uma minissérie. Bom, Scorsese não deu bola para isso, mas seu colega Baz Luhrmann parece mais antenado com os novos tempos ao entregar um novo corte para seu longa-metragem Austrália, lançado originalmente em 2008.
O diretor australiano lançou em novembro, exatamente 15 anos após a estreia nos cinemas, a minissérie Bem-Vindos à Austrália, versão estendida em pouco mais de uma hora de seu filme sobre a história do país entre 1939 e 1942. Em vez de esperar que o espectador ficasse quase quatro horas assistindo ao longa-metragem estrelado por Nicole Kidman e Hugh Jackman, Luhrmann cortou sua película mastodôntica em seis episódios que vão de 25 a 51 minutos de duração. Assim, a produção que não foi tão bem de crítica e bilheteria à época ganha nova vida na plataforma de streaming Star+.
O roteiro acompanha a chegada de uma aristocrata inglesa, vivida por Nicole, à Austrália. Sua missão é vender uma fazenda de gado de 400 mil hectares chamada Faraway Downs – que também é o nome da minissérie em inglês. Mas ela acaba enrolada em histórias que envolvem amor, monopólio, aborígenes e, por fim, a Segunda Guerra Mundial. Tudo isso era abordado de uma maneira muito corrida, embora inteligível, no longa-metragem de 2008. Agora, a calma para contar a história em seis episódios beneficia os personagens e acontecimentos sem deixar o espectador tão cansado quanto no Austrália original.
Final ajustado
Luhrmann teve a ideia de fazer uma nova versão do seu filme durante a pandemia, quando a produção de seu filme Elvis precisou ser pausada. Contribuiu também o fato do cineasta ter ficado arrasado pela bilheteria de 50 milhões de dólares nos Estados Unidos, sua menor no país, e pela fala de Tom Rothman, ex-executivo da Fox (produtora da película), que criticou o filme pouco antes de sua estreia, afirmando que parecia ter "sete finais ou algo assim”. Um apontamento justo.
Outro problema, na cabeça do diretor, foi o final feliz que o estúdio forçou goela abaixo para a versão de 2008. Drover (o personagem de Jackman) deveria morrer na última sequência, em um sacrifício para salvar a vida de Nullah, o menino aborígene que vira o protegido da aristocrata vivida por Nicole. “Quando encontrei o corte preliminar da cena final, lembrei que ela não era apenas sobre a tragédia, mas ali você também conhece algo sobre Drover que não é dito durante todo o filme”, contou Luhrmann, em entrevista recente à revista Vulture. “O que ele pede que ela faça nos momentos finais é muito importante.”
Desconsiderando esse novo encerramento, Bem-Vindos à Austrália não passa por nenhuma outra alteração tão grande. No entanto, as novas cenas ajudam a diluir a sensação do longa-metragem ser excessivamente flamboyant – como costuma ser o caso em trabalhos de Luhrmann, mente por trás de hits exagerados como Moulin Rouge – Amor em Vermelho, O Grande Gatsby e Romeu + Julieta.
Em uma das sequências incluídas logo no primeiro capítulo, por exemplo, tanto o espectador quanto a aristocrata encarnada por Nicole conseguem entender melhor como as crianças aborígenes eram tratadas no país, justificando ainda mais o fato dela decidir “adotar” Nullah lá na frente. São essas pequenas adições que melhoram um produto originalmente fracassado e trazem um entendimento mais profundo da motivação dos personagens.
A questão dos “vários finais” apontada por Rothman persiste, mas parece muito mais natural quando se pensa no roteiro em formato de série. Os cortes dos capítulos são precisos e despertam interesse no que acontecerá no próximo episódio. Se você nunca viu Austrália, melhor já se jogar de cabeça em sua versão de minissérie, nitidamente superior e mais afinada com a visão de Luhrmann.
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