“Mug”, de Malgorzata Szumowska, teve estreia mundial na 68ª edição do Festival de Berlim, onde concorre ao Urso de Ouro.
A diretora polonesa tem sido frequente na Berlinale. Em 2015 esteve na competição oficial com “Body”, quando dividiu o prêmio de direção com o romeno Radu Jude (“Aferim!”). Em 2011 ganhou o Teddy Award do festival, com “In the Name of”.
Seu novo filme segue Jacek (Mateusz Kosciukiewicz), que trabalha numa construtora, perto da fronteira polonesa/alemã, onde uma estátua de Cristo está sendo construída. Ele leva uma vida tranquila, ama sua namorada, seu cachorro e é fã de música heavy metal. Mas tudo muda quando ele sofre um terrível acidente no trabalho que o desfigura completamente.
Jacek é celebrado como mártir nacional, se torna a primeira pessoa no país a receber um transplante de rosto, mas não se reconhece mais no espelho.
Entre outros, identidade é um dos aspectos desse novo filme de Szumowska, que descreve o angustiante conflito existencial de um homem, que perdeu-se de si mesmo após o radical transplante facial.
Em sua obra, a cineasta polonesa tem mantido o foco em personagens complexos e críveis e em assuntos sensíveis do seu país de fundo político e social: hipocrisia religiosa, persistência da homofobia em comunidades conservadoras e até com a ocasional condescendência de poloneses de mente liberal.
“Mug” é seu sétimo longa-metragem e – como em “Body” – é um retorno às suas raízes após ter tido reconhecimento internacional com “Elles”, estrelado por Juliette Binoche no papel de uma jornalista que faz reportagens com prostitutas.
Mas o tema recorrente da diretora se concentra mais em projetos políticos e filosóficos como este, referente à sua Polônia, através dos dramas, tanto físicos quanto espirituais da sociedade.
Na coletiva com a imprensa, as perguntas se concentraram em torno do viés político do filme, a metáfora por trás da história e muitos elogios sobre a impressionante maquilagem de Kosciukiewicz, que faz o personagem principal.
A diretora disse que o filme é uma referência ao que aconteceu na Polônia em 1989, com o surgimento do movimento que pregava a democratização do País e que ficou conhecido como “Solidariedade”.
“Eu queria fazer algo próximo da fábula, discutindo o poder da Igreja Católica e a postura não reativa da sociedade à realidade política do país”, disse acrescentando que o povo polonês ainda é muito influenciado sobre o que aconteceu no passado.
“Eu estou colocando vários questionamentos no meu filme. E isso é meu dever”, ressaltou, enfatizando o que quis dizer por trás do drama do protagonista.
“A história é uma metáfora sobre o que está acontecendo lá agora. A sociedade tem medo das diferenças”, afirmou complementando.
“Temos muitos problemas e eu não estou escondendo nada. Mas também não estou julgando ninguém”, concluiu Szumowska, que pode ser novamente premiada nesta edição 2018.
Os vencedores dos Ursos de Ouro e Prata serão conhecidos amanhã (sábado, 24) na cerimônia de gala no Palácio dos Festivais.