Sertanejo raiz: Chitãozinho & Xororó tem trajetória revista em série nostálgica 

Da história do Brasil aos produtos televisivos, o sertanejo sempre foi parte importante de nossa cultura. “Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar”, escreveu Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas, uma das principais obras da literatura brasileira. E é esse tipo de ideia que permeia a série documental Chitãozinho & Xororó – Uma História de Sucesso, disponível no Globoplay.

Em cinco episódios, os carismáticos irmãos são entrevistados e contam inúmeros causos que vão desde a infância até a comemoração dos 50 anos de carreira da dupla, que começou em 2020 e ainda não parou. Não faltam momentos retratando como os dois se complementam, assim como são suas vozes nos sucessos Fio de Cabelo, 60 Dias Apaixonado, Galopeira e Evidências.

Desde o primeiro episódio, a série não se limita às visões de Chitãozinho & Xororó, incluindo depoimentos de seus outros irmãos e de figuras importantes em sua formação, como um professor da época da escola. Há até falas de filósofos e acadêmicos, como Francisco Bosco e Edvan Antunes, o que soa esquisito dada a natureza da música defendida pela dupla. Mas essa é a tendência em produtos do tipo lançados nas plataformas de streaming. 

Também são apresentados vídeos e imagens de eventos marcantes, como a apresentação deles na Sala São Paulo ao lado de uma orquestra, ou a colaboração com os Bee Gees. O material é vasto e as entrevistas resultam inspiradas, o que faz a série valer a pena.

José e Durval – conforme foram batizados – refletem brevemente sobre a falta de estudo em suas vidas, veneram a ajuda que tiveram dos pais e, acima de tudo, demonstram como a dedicação foi crucial para o triunfo musical da dupla. A cena que traz o hoje sexagenário Xororó aquecendo a voz reforça o cuidado que os cantores sempre tiveram com seu ofício e o respeito pelos fãs.

De Mazzaropi a Silvio Santos

Os irmãos nascidos em Astorga (PR) reforçam a importância que grandes nomes da cultura brasileira das décadas de 1960 e 1970 tiveram para eles. Há destaques para a dupla Jacó e Jacozinho, para o humorista Mazzaroppi e para figuras televisivas, como Silvio Santos e Jô Soares.

A série ainda recupera momentos em que a coisa apertou para os dois. A dupla enfrentou dificuldades financeiras no começo, quando a música não era suficiente para garantir o sustento. Chitão chegou a trabalhar como cobrador de ônibus em São Paulo. Em outra passagem dramática, eles abrem o jogo sobre a saúde mental de sua mãe, Araci, que era bipolar.

Com essa amplitude de temas e fatos, Chitãozinho & Xororó – Uma História de Sucesso funciona como uma boa coletânea de momentos. É um produto capaz de apresentar bons exemplos para toda uma nova geração e despertar a saudade no coração dos que sentem falta de um Brasil que não existe mais.

• Chitãozinho & Xororó – Uma História de Sucesso
• 2024
• Cinco episódios
• Classificação indicativa livre
• Disponível no Globoplay