| Foto: Divulgação/Lucasfilms

Este texto contém spoilers.

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A primeira metade de Star Wars: A Ascensão de Skywalker não é boa, e a segunda não é ruim. Depois de onze filmes, o último combustível que resta para a série é a pura nostalgia, mas ao menos o Episódio IX não se esforça para irritar a plateia da mesma forma que fez O Último Jedi. Saí do cinema com uma forte sensação de que o diretor do filme, J. J. Abrams, é a montadora Ford dos cineastas – um titã da mediocridade, um avatar da média, um guardião do lugar-comum. Se ele é um artista definidor de nosso tempo – e eu não estão dizendo que ele não é! –, acho que não dá para falar que estamos vivendo um novo período renascimentista.

Na abertura — “OS MORTOS FALAM!” — descobrimos que nosso falecido amigo Imperador Palpatine, ou alguém agindo em seu nome, está convocando ataques contra os rebeldes a partir de um planeta oculto. O líder supremo Kylo Ren (Adam Driver) resolve localizá-lo e destruí-lo para mostrar quem é o chefe. Palpatine (Ian McDiarmid) é, aliás, chamado “O Imperador Fantasma”, que teria sido um título muito mais interessante para este filme do que o realmente usado (e também faria mais sentido). Suas ordens são, naturalmente, “Mate a garota”. Isto é Rey (Daisy Ridley), a única pessoa boa que usa a força que restou na saga. Junto com o piloto Poe (Oscar Isaacs) e Finn (John Boyega), ela resolve rastrear e exterminar o imperador novamente, porque todos os filmes desta série precisam reciclar pontos anteriores da trama. Mais tarde, quando aprendemos mais sobre a ancestralidade obscura de Rey, há uma cena que repete uma cena de um filme anterior, que por sua vez era uma repetição de uma cena de um filme ainda anterior. Depois, há a repetição mais notável de todas: Carrie Fisher faz uma aparição proeminente, apesar de ter morrido há três anos, antes de o filme começar a ser filmado, através de filmagens não utilizadas de O Despertar da Força anos atrás.

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Créditos a Abrams e ao co-roteirista Chris Terrio por tornar Poe menos agressivamente bajulador do que na última vez, e por sua trama relativamente simplificada, com menos personagens terciários entediantes. Desta vez, não há viagens secundárias bizarras para o Planeta Vegas, nem subtramas baseadas em violações de estacionamento. No entanto, como um grupo, a nova geração de personagens é um tédio; o vilão General Hux (Domhall Gleeson) é apenas um ruivo branquelo no espaço, as piadas de Finn e Poe não têm graça, e Ridley continua a demonstrar apenas cerca de três expressões faciais (as mesmas de Ben Stiller no filme Zoolander). Mas ok, é tudo o que ela precisa em seu papel de moça do espaço forte, feroz, brilhante e agressiva. Alguém precisa lembrar aos roteiristas (masculinos) que: a) são as falhas que tornam as pessoas interessantes e b) as mulheres também as têm.

O desenvolvimento da trama depende muito da coincidência e da sorte, já que nossos heróis se deparam com pistas que os levam cada vez mais perto de um dispositivo de rastreamento que indicará o caminho para o esconderijo secreto do imperador. A certa altura, eles caem em uma caverna onde se deparam com uma adaga cuja borda é coberta por runas que descrevem onde o dispositivo de rastreamento está escondido. Mais tarde, quando vislumbramos as ruínas da Estrela da Morte (o que é bem legal), outra pista acaba por depender de tropeçar aleatoriamente para alcançar uma visão exata do ângulo certo. Uma grande reviravolta na trama é essencialmente um novo arranjo; outra é apenas estúpida.

Não tenho certeza se é o pânico ou falta de atenção que leva Abrams a fazer isso, mas ele tem uma necessidade incontrolável de lançar cenas de ação aleatórias sem sentido a cada dez minutos para garantir que fiquemos entretidos — brigas e perseguições sem nenhuma consequência. Stormtroopers vão atrás dos combatentes rebeldes, desta vez com uma nova habilidade: “Eles podem voar?”, alguém se maravilha. Sim, eles podem voar. Como pombos de barro. Eles continuam sendo o grupo de soldados mais inepto e "matável" desde o exército austro-húngaro. A armadura que eles vestem os protegem de nada, nem mesmo de flechas. Se eles estivessem tentando ser alvejados de propósito, não precisariam fazer nada muito diferente. Depois de ver 11 filmes com eles servindo de folhas para o cortador de grama, não há muito suspense em vê-los se embaralhar mais algumas vezes. Além disso, os poderes de Rey ao canalizar a força agora são tão vastos que são um pouco absurdos. Ela pode explodir naves espaciais agora? Sério?

Na última hora, as coisas pegam um pouco mais. Abrams mantém o hábito desenvolvido em O Último Jedi de ter Kylo Ren e Rey se ligando via Skype-mental, e continua sendo tosco como era antes. Quando eles resolvem enfim ficar juntos no mesmo planeta, finalmente dão um empurrão emocional ao filme, e há algumas cenas fortes construídas em torno de figuras familiares. À medida que os rebeldes se juntam para ser massivamente superados pela Primeira Ordem na batalha final, você provavelmente pode adivinhar a maior parte do que acontecerá se você já viu algum filme anterior de Star Wars. Mas Abrams só quer encerrar o filme sem passar muita vergonha. Tive a sensação de que ele só queria terminar este capítulo de sua vida e seguir em frente. E adivinha? Eu também. Todo mundo. Depois de cinco filmes em quatro anos, é hora de congelar essa franquia em carbonita por um tempo.

Kyle Smith é crítico da National Review.

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© 2019 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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