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Felicty Jones, protagonista de “Rogue One”: apesar do sucesso das personagens femininas, mulheres seguem longe da direção | Divulgação/
Felicty Jones, protagonista de “Rogue One”: apesar do sucesso das personagens femininas, mulheres seguem longe da direção| Foto: Divulgação/

Quando Kathleen Kennedy assumiu a franquia “Star Wars” no ano passado, ela se tornou um importante caso teste em uma indústria com poucas mulheres executivas.

Um grande pressuposto subjacente a conversas sobre diversidade e inclusão não apenas em Hollywood, mas no mundo dos negócios em geral, é o de que colocar mulheres e pessoas de cor em posições de poder afeta quem acaba sendo contratado e quem recebe oportunidades de promoção. Mas, embora Kennedy tenha dito ano passado que estava ansiosa para contratar uma diretora mulher para capitanear um episódio da franquia, mesmo após ter contratado uma porção de homens, isso está se mostrando complicado.

Kennedy agora está sob fogo cerrado em virtude de uma entrevista concedida à revista Variety a respeito de “Rogue One”, o mais recente filme de “Star Wars”, na qual ela disse a Brent Lang que estava tendo dificuldades para realizar essa ambição em particular.

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“Queremos ter certeza de que quando trouxermos uma diretora mulher para fazer ‘Star Wars’, seu sucesso esteja garantido”, ela disse. “Eles são filmes enormes, e você não pode vir para dirigi-los sem nenhuma experiência. (...) Queremos realmente começar a prestar atenção em pessoas com quem adoraríamos trabalhar e ver que tipo de coisas elas estão fazendo para subir na escada agora, e então trazê-las na hora certa.”

Kathleen Kennedy, produtora da franquia “Star Wars” Gage Skidmore/Creative Commons

A ideia de que não há mulheres, ou pessoas de cor, ou atores com deficiências, ou... seja lá o que com a expertise exigida para dirigir um filme, ou para carregar um filme com a força de seu próprio estrelato, é uma das mais antigas mentiras nessa conversa em particular. É enraivecedor porque transfere o ônus da responsabilidade, absolvendo uma indústria que tem consistentemente fracassado em aproveitar as oportunidades de nutrir talentos vindos de comunidades sub-representadas e sugerindo que o problema na verdade está com os indivíduos com currículos pouco desenvolvidos.

Como Scott Mendelson, da revista Forbes, aponta, essas preocupações dificilmente emergem quando um jovem diretor do sexo masculino ganha uma oportunidade em um filme de grande orçamento e fortes expectativas corporativas.

“Walt Disney deu ‘Tron: Legacy’, com um orçamento de 170 milhões de dólares, a Joseph Kosinski, que não tinha nenhuma experiência em longa metragem”, escreve Mendelson. “Ditto Robert Stromberg foi contratado para dirigir ‘Malévola’ sem qualquer experiência, ainda que o filme tivesse de vir a ser resgatado por meio de refilmagens dirigidas por John Lee Hancock. Rupert Sanders teve a oportunidade de fazer sua estreia em longa metragem com ‘A Branca de Neve e o Caçador’, da Universal, em 2012, enquanto Marc Webb, Colin Trevorrow e Josh Trank ganharam cacife para grandes franquias depois de um filme bem avaliado de baixo orçamento.”

Espaço de manobra

É verdade que quanto maior o orçamento mais complexo o filme. Lidar com mais pessoas significa mais agendas, mais acréscimos, mais pedidos de serviços artesanais complexos e mais egos. Mais sequências de ação significam mais logística, mais riscos, mais dublês e mais efeitos especiais e físicos. Estourar seu orçamento em poucos pontos percentuais é mais impactante quando seu filme custa 150 milhões de dólares do que quando está orçado em 30 milhões. E no contexto de uma franquia, na qual um filme com mau desempenho pode dar luz ao pânico, pode haver menos espaço de manobra para mudanças dramáticas em tom ou apostas que não recompensam.

Mas essa é precisamente a razão por que grandes franquias podem ter mais espaço de manobra para assumir riscos com diretoras mulheres (ou diretores não brancos) com currículos promissores mas curtos.

“Eles são filmes enormes, e você não pode vir para dirigi-los sem nenhuma experiência. (...) Queremos realmente começar a prestar atenção em pessoas com quem adoraríamos trabalhar e ver que tipo de coisas elas estão fazendo para subir na escada agora, e então trazê-las na hora certa.”

Kathleen Kennedy produtora da franquia “Star Wars”

Filmes de “Star Wars”, Marvel e DC quase certamente têm alguma audiência garantida, o que significa que qualquer diretor que assuma o leme conta com ao menos alguma tolerância, seja do público americano ou internacional. (Ambos “Esquadrão Suicida” e “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” tiveram mais sucesso no exterior do que em casa).

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Também há restrições criativas em grandes franquias que limitam os riscos em alguma medida. O presidente dos Estúdios Marvel, Kevin Freige, supervisiona cuidadosamente o tom e o arco geral da história da franquia Marvel. Kennedy deve desempenhar um papel semelhante com “Star Wars”. Pessoas como John Mahaffie, o diretor da segunda unidade em “Os Vingadores”, “Thor: O Mundo Sombrio”, “Vingadores: Era de Ultron”, “Homem-Formiga” e “Spider-Man: Homecoming” (ainda sem título em português), criam um estilo de ação coerente que atravessa diferentes franquias e aliviam um pouco a pressão sobre diretores que podem ter menos experiência com o clímax de blockbusters. Filmes de franquia podem ser maiores que filmes independentes, mas em algumas maneiras envolvem muito menos espaço de manobra criativo e muito mais supervisão.

Em outras palavras, chefes de franquias como Kennedy podem na verdade estar na melhor posição para dar a diretoras mulheres exatamente o tipo de experiência com direção de grandes filmes de ação que esperam que essas mulheres adquiram em outros lugares. Esperar e observar não é uma maneira de ajudar mulheres e terem sucesso. É uma maneira de se esquivar da responsabilidade.

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