Lincoln, Roosevelt, Kennedy, Reagan, Bush e agora Trump. Esses são os mais notórios nomes que exerceram o cargo de presidente dos Estados Unidos a sofrerem alguma espécie de atentado. Por mais bizarro que pareça, essa é uma ocorrência que faz parte do imaginário americano há quase 160 anos. O assunto é tão comum que dezenas de filmes e documentários já transformam ocorrências do tipo em entretenimento. JFK: a Pergunta que Não Quer Calar, por exemplo, vem sendo relembrado com frequência desde que o ex-presidente e atual candidato Republicano foi atacado durante um comício na Pensilvânia. Mas outro produto merece mais atenção neste momento: Na Linha de Fogo, de 1993.
Dirigido por Wolfgang Petersen, o filmaço à época indicado a três prêmios Oscar e hoje disponível no Max é um dos poucos a criar uma história original para propor um debate sobre a segurança presidencial. O roteiro acompanha o agente Frank Horrigan (papel de Clint Eastwood), que descobre durante uma investigação rotineira a existência de um homem apelidado “Booth” com planos de matar o presidente americano.
A grande sacada é que o agente Horrigan é um homem traumatizado. Na trama, consta que o personagem seria o único funcionário do serviço secreto presente no assassinato de John F. Kennedy, 30 anos antes. Com maestria, Eastwood transmite para as telas o sentimento de culpa pela morte do político e sua obstinação em proteger o presidente atual (que no filme de 1993 não possui nome).
Eastwood para proteger Trump
Misturando ação e thriller, o filme empolga com o forte clima de suspense e suas perseguições estilo gato e rato, que relembra os tempos de Eastwood como Dirty Harry. O que torna essas cenas ainda mais eletrizantes é a trilha-sonora de Ennio Morricone, maestro consagrado por suas músicas feitas para faroestes à italiana nos anos 1960 e 1970.
Outro destaque é a decisão ousada do roteiro em mostrar como os interesses do FBI, da CIA e do serviço secreto muitas vezes são diferentes e podem travar investigações capazes de proteger a nação. Isso fica evidente quando o longa se aproxima de revelar a verdadeira identidade de “Booth”. Após fugir de Horrigan, o criminoso deixa uma marca que é descoberta pelo FBI. Só que a agência, por sua vez, decide ocultar a informação do agente vivido por Eastwood.
Mesmo que tenha uma história ficcional, Na Linha de Fogo é o melhor filme sobre o assunto justamente por não fugir dessas nuances que podem levar a falhas graves na segurança presidencial. Fora isso, a própria construção da relação entre o agente Horrigan e “Booth” é muito interessante, trazendo elementos que remetem à história dos assassinatos de Lincoln e Kennedy. Talvez seja a hora de Trump conseguir um chefe de segurança que seja mais parecido com o destemido personagem interpretado por Clint Eastwood.