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Em “Crime Verdadeiro”, Clint Eastwood ilustra o papel redentor da verdade
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O enredo de muitos filmes de Clint Eastwood pode ser resumido a uma fórmula: pessoas pouco virtuosas podem agir de forma virtuosa quando se propõem a buscar a verdade. Este é o caso de Crime Verdadeiro (1999), obra relativamente desconhecida do ator e diretor americano.

O filme conta a história de Steve Everett (interpretado por Eastwood), um jornalista de espírito indomável e que faz pouca questão de esconder seus vícios. Everett é escalado de última hora para cobrir a execução de Frank Louis Beechum (Isaiah Washington), condenado por matar uma jovem balconista em uma loja de conveniência. Com todos os seus defeitos, o repórter não pode deixar de notar algumas incongruências no caso, que o levam a duvidar da versão oficial dos fatos e investigar o episódio mais a fundo.

De início, o filme traz poucos modelos de virtude. O protagonista é um mulherengo que demonstra tanta indiferença com a esposa quanto com suas amantes. O chefe do jornal é uma figura inescrupulosa e cínica que pouco liga para a morte de uma de suas repórteres em um acidente. O investigador do caso não parece disposto a colocar suas convicções em cheque. Já o prisioneiro à espera da execução, embora alegue inocência, vive em paz: arrependeu-se dos erros do passado, formou uma família, converteu-se ao Cristianismo e enfrenta uma situação aterrorizante com um estoicismo inabalável. Por isso mesmo, o arco da redenção que guia a história não é o do preso, mas sim do jornalista.

O filme é uma adaptação do livro homônimo de Andrew Klavan, que tem uma sólida carreira como autor de ficção mas hoje também é conhecido como comentarista da plataforma conservadora Daily Wire.

Crime Verdadeiro oferece também uma imersão em um universo que dava os seus últimos suspiros: a redação de um jornal impresso nos anos 1990. A internet estava na infância, os computadores haviam acabado de substituir as máquinas de escrever e os jornalistas mais antigos – como o personagem de Eastwood – ainda relutavam em abrir mão do cigarro em lugares fechados. Os tempos hoje são outros. O Oakland Tribune, retratado no filme, nem existe mais. A mensagem do filme, entretanto, continua atual: a justiça plena exige liberdade para discordar da versão oficial dos fatos.

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