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Ensina-me a Viver (disponível para locação pela Apple TV e Prime Video) é uma adaptação do romance escrito por Collin Higgins, levado às telas pelo diretor Hal Ashby, em 1971. Inicialmente rejeitada pela crítica especializada, essa inusitada comédia romântica carregada de humor ácido primeiro se tornou cult – apreciada por um seleto grupo de pessoas – para logo após ser considerada um clássico adorado por muitos.
O título original dessa obra, ainda que repleta de nuances, camadas e pontos de reflexão, é bastante pragmático: Harold and Maude. Harold é ainda um jovem de 20 anos de idade, rico, que vive numa bela mansão ao lado da mãe e tem tudo o que o dinheiro pode lhe oferecer. Maude, por outro lado, é uma senhora de 79 anos, mora sozinha, sem ostentação, mas já experimentou praticamente de tudo o que tempo e a idade poderiam lhe permitir. Trata-se, assim, da história de duas pessoas, Harold e Maude, e das probabilidades de um destino que conduz ambos para o mesmo caminho.
Já o título em português Ensina-me a Viver é mais singelo e poético, mas na medida em que vamos conhecendo a história de Harold e Maude, sobretudo as diferenças nada sutis entre eles, percebemos que é um título que quer destacar o ponto de vista de apenas um dos personagens, no caso, o de Harold (Bud Cort). O rapaz pode ter tudo, viver confortavelmente no luxo, mas é um ser infeliz. Pior do que isso: Harold considera sua vida um imenso vazio, que sua existência é irrelevante e, por isso, passa o tempo flertando com a morte. Para provocar e chamar a atenção da mãe dominadora, Harold insistentemente costuma forjar seu próprio suicídio. Seja por excentricidade ou completa morbidez, chega a comprar um rabecão e mantém o hábito de participar de funerais de pessoas as quais ele nem mesmo conhece.
É justamente num desses funerais que ele encontra Maude (Ruth Gordon), uma senhora viúva que, por ter sobrevivido a um campo de concentração nazista, compreende bem o significado da finitude da vida. Não por acaso, costuma repetir que 80 anos é a idade ideal para se morrer (diz ela que “75 é ainda muito jovem e 85 é perda de tempo”). É, portanto, a senhora Maude, de acordo com o título em português, quem tem algo a ensinar sobre viver. Sempre alegre e festiva, Maude aprecia a arte, a música, o canto, a leitura. Eventualmente, diverte-se também furtando carros aleatoriamente, dirigindo em alta velocidade por estradas no campo, apenas para sentir o prazer da liberdade. Essa inconsequência de Maude, que ao mesmo tempo assusta e embriaga, vai aos poucos transformando o jovem Harold.
Logo ele se descobre apaixonado e, ansioso para dar início a um novo capítulo em sua vida, Harold prepara uma festa surpresa para o dia do aniversário de Maude – data em que pretende pedi-la em casamento. O jovem esqueceu-se apenas de um detalhe: a experiente senhora, que irá completar 80 anos de idade, não apenas conhece o conceito de previsibilidade da morte, como também já determinou sua data.