Para ao menos três milhões de brasileiros, o título “A Forja: O Poder da Transformação” tem um significado. O filme do diretor Alex Kendrick foi um sucesso de bilheterias no país, surpreendendo a todos, inclusive seu próprio criador, pela capacidade de fazer muitas pessoas irem aos cinemas para assistir a uma história sobre fé e religião. “O Brasil tem sido maravilhoso, todos têm sido incrivelmente receptivos com um filme sobre discipulado”, celebrou o americano, em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo.
Ao lado do irmão, o roteirista Stephen, Alex Kendrick esteve em solo nacional em setembro, aproveitando o lançamento do longa-metragem. Na ocasião, A Forja ia bem na bilheteria, mas ainda não tinha virado o fenômeno que virou. “O filme teve o dobro do faturamento esperado, o que nos ajudou a atingir o breakeven”, explicou durante a conversa. Esse termo, utilizado pelo cineasta, designa o ponto de equilíbrio financeiro de uma película. Para a indústria cinematográfica, quer dizer que o trabalho faturou o equivalente a 2,5 ou três vezes mais do que custou para ser feito.
Com a cifra, o Brasil trouxe aos irmãos Kendrick seu maior lucro com o filme mundialmente, o que explica agora a atenção redobrada com nosso país. E, se alguém tem dúvidas disso, o cineasta acaba de revelar um de seus próximos passos: ele está "rezando” e planejando a produção de um filme em terras brasileiras.
Para saber desses e outros planos do diretor, além de suas ideias sobre cinema, religião e cultura, confira a seguir a entrevista na íntegra.
Gazeta do Povo — Qual foi a sua inspiração para escrever a história de A Forja?
Alex Kendrick — Em todos os filmes que fizemos, ficamos meses rezando por eles antes de começar a rodá-los. E, enquanto rezava por A Forja, senti Deus me dizendo que eu deveria focar no discipulado. Se você ler as escrituras, há muitos versos sobre esse tema. Mas quando as estava lendo, um deles saltou ao meu rosto, em que Jesus diz: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me.” Esse verso vem de Lucas 9:23. Isso me fez pensar sobre as maneiras que me nego para honrar a Deus e quais formas eu carrego a minha cruz diariamente, o que significa que sou capaz de morrer por minhas vontades e desejos para poder seguir ao Senhor. E eu aprendi na vida que, apesar de difícil, vale muito a pena ser um discípulo. Nunca vou passar pelo que Jesus passou quando ele foi crucificado por nós. Ele foi zombado, açoitado, agredido, rejeitado, crucificado, mas ainda nos ama. Então, quando estava trabalhando nesse filme, pedi a Deus que Ele me ajudasse a contar uma história que mostrasse como homens podem inspirar outros homens a adora-Lo, mesmo quando as coisas estão difíceis.
Você acredita que as pessoas estão captando essa mensagem?
Centenas de pessoas nos procuraram para dizer “sei mais sobre discipulado agora do que pensei que sabia”. Elas foram aprendendo enquanto assistiam ao filme. E houve muitos casos de pessoas que continuaram nas salas de cinema, após o final do longa, rezando e cantando juntas, pedindo a Deus que as usasse em suas comunidades, seus bairros e igrejas. Sou muito grato, pois um cristão morno não possui nenhum poder. Com morno, me refiro àqueles que meio que amam a Deus, meio que o servem e meio que rezam, mas não fazem nada para valer. Isso me fez perceber que, se sou for um cristão morno, não refletirei o poder do Santo Deus que servimos.
Os profissionais que trabalham em seus filmes, sejam atores ou da equipe técnica, são todos cristãos?
Eu diria que cerca de 90% ou mais das pessoas que nos ajudaram são cristãs. Mas permitimos que quaisquer trabalhadores venham a nós, estejam eles cuidando da luz, do áudio ou da música. E eles são muito bons! Quando eles vêm, queremos ministrá-los e abençoá-los. Em A Forja, e praticamente todos os filmes que fizemos, sempre tivemos pelo menos uma pessoa que veio nos ajudar e acabou se convertendo. Tivemos até mesmo um milagre em A Forja. Um dos nossos trabalhadores, um senhor de idade que nos auxiliava com o design do set, estava passando por maus bocados. Três semanas após o começo das filmagens, ele foi ao médico, realizou um exame e descobriu que estava com câncer em estágio três. Ele estava visivelmente preocupado e perguntei o que estava acontecendo. Paramos as filmagens, ficamos ao redor dele e rezamos. Todo o elenco e equipe estavam lá. Depois de uma semana ou duas, ele voltou ao médico para saber quais seriam os próximos passos do tratamento, contando que estava se sentindo mais disposto. O doutor realizou outro exame e perguntou “onde está o câncer?”. Hoje, esse senhor está muito bem. Foi muito radiante assistir a Deus fazer isso por um dos nossos.
Fiquei com a impressão de que A Forja é um filme que pode funcionar com o público jovem graças ao seu protagonista, Isaiah. Isso é intencional?
Sim! Nós acreditamos que qualquer um que queira conquistar muito a nova geração vai conseguir. E o mundo quer os corações e as mentes da próxima geração. Nos Estados Unidos, se você for a nossas universidades, perceberá que há uma agenda que está tentando convencer jovens nos seus 20 anos a acreditar em coisas woke. Então, todos os cristãos que amam a Deus devem se esforçar para alcançar essa próxima geração e introduzir nossa fé.
Qual é a similaridade entre seu trabalho como cineasta e sua atuação como ministro em uma igreja?
Como ministro, meu desejo é honrar a Deus e ajudar pessoas a se aproximarem Dele e entenderem a Bíblia. Como cineasta, penso basicamente da mesma forma. Não faço filmes para eu ficar famoso ou ganhar prêmios. Faço para atingir milhões de pessoas com a verdade. E, se consigo contar uma história que entra em seus corações e mentes, fazendo com que pensem sobre seu relacionamento com Deus, então isso é meio que a mesma coisa que atuar como ministro. Não tenho nenhum interesse em Hollywood. Visitei lá muitas vezes, mas o estilo de vida deles é exageradamente autocentrado. Eles querem ser celebridades, querem ser ricos e ganhar prêmios. Eu até entendo isso, mas não é a minha motivação. Eu e meu irmão buscamos contar histórias que ajudem as pessoas a crescer. Estamos de olhos naqueles com vinte e tantos anos e até os trintões. Eles precisam ouvir histórias inspiradoras e diretas.
Vocês já estão trabalhando em um novo filme?
Sim! Já temos três projetos. Estamos desenvolvendo um agora e o outro queremos rodar no Brasil. Então agora estamos em uma temporada de orações, estudando e pesquisando para saber em qual direção seguir. Estamos pedindo a Deus para que ele indique qual projeto quer que façamos primeiro. Ainda não tenho uma resposta, mas ficaria honrado e animado para filmar um longa no Brasil. Acho que Deus vai fazer algo poderoso no Brasil. Acredito que Ele vai elevar alguns cineastas muito habilidosos para fazer filmes desse tipo em todo o país e em Portugal. Sinto que isso está chegando e espero conhecê-los e fazer parte disso. Acho que nos próximos dois ou três anos, vocês verão mais filmes de alta qualidade saindo do país, de cineastas muito talentosos que desejam honrar o Senhor.
Acredita que ainda há uma resistência de parte do público comum para assistir a filmes religiosos?
Sim, é muito duro, pois algumas pessoas simplesmente não gostam da fé cristã de qualquer forma. Então elas não querem apoiar filmes sobre fé. Outras enxergam os filmes cristãos como muito fracos, porque ainda estamos aprendendo e começando a fazer bem – além de não sermos muitos fazendo. Há quem também diga que eles são muito bregas. Acho que quanto mais filmes bem-feitos sobre o cristianismo forem feitos, melhor será a recepção do público.
Além de A Forja, outro grande sucesso aqui no Brasil é a série The Chosen. O que acha dela?
Sabe, eu conheço o Dallas Jenkins [diretor de The Chosen] e ele está tentando fazer uma série televisiva que deixe as pessoas com vontade de lerem a Bíblia e saberem mais sobre Jesus. Entendo quem debate o fato de que o seriado usa muita criatividade em apresentar essas histórias sobre Jesus, com diálogos extras e coisas do tipo. Mas acredito que, se um filme ou série faz as pessoas lerem a Bíblia, esse é um bom resultado. Até eu já peguei minha Bíblia depois de assistir a um episódio e me perguntei “o que as escrituras dizem sobre tal evento?”. Sei que The Chosen interessou muitas pessoas no cristianismo e na palavra de Deus, então enxergo o bem disso.
O que você mais gostou no Brasil durante sua visita em setembro?
Quando fomos ao Rio, estava com a minha filha, Anna, de 24 anos. Nós fizemos um passeio de helicóptero ao redor do Cristo Redentor e foi espetacular. É um monumento lindo e muito emocionante de se ver com os próprios olhos. Também conseguimos subir ao topo do Pão de Açúcar. Isso foi divertido, mas os restaurantes... A comida brasileira é incrível e provamos muitas coisas novas que adoramos. Como se chamam aqueles pequenos pãezinhos que são comuns em todo o Brasil? [Kendrick confirma que estava pensando em um pão de queijo]. Sim! Esse mesmo! É uma delícia e não temos nos Estados Unidos.