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Era Uma Vez na América, de Sergio Leone, faz 40 anos em 2024
Elenco jovem de Era Uma Vez na América, clássico de gangsters do diretor italiano Sergio Leone.| Foto: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Um dos grandes filmes da história do cinema está completando 40 anos: Era Uma Vez na América, de Sergio Leone, disponível ao público brasileiro no Star+. Apesar de não ter sido bem recebido na época do lançamento, hoje é um filme adorado por cinéfilos e considerado uma das grandes obras da carreira do cineasta italiano. O que poucos sabem é que Leone nunca conseguiu lançar o filme do jeito que queria. 

Era Uma Vez na América é um épico sobre a vida de um grupo de jovens amigos imigrantes na Nova York dos anos 1920 que se tornam uma das gangues mafiosas mais violentas e temidas da cidade. O grupo é liderado por David “Noodles” Aronson (interpretado jovem por Scott Tiler e adulto por Robert De Niro) e Max Bercovicz (interpretado por Rusty Jacobs e James Woods). 

A ideia de filmar a ascensão de uma gangue mafiosa e contar a história dos imigrantes em Nova York já existia na cabeça de Sergio Leone havia muito tempo. Vinte anos antes, em meados dos anos 1960, Leone leu o romance The Hoods, de Harry Grey, pseudônimo usado pelo gângster Harry Goldberg para escrever esse romance autobiográfico, e ficou louco com a ideia de fazer um filme passado em Nova York. 

Durante quase duas décadas, Leone ficou em conversas com Grey, mas o projeto não andava. Nesse período, o cineasta fez cinco filmes: os três que compunham a “Trilogia dos Dólares” - Por um Punhado de Dólares (1964), Por Uns Dólares a Mais (1965) e Três Homens em Conflito (1966) - e dois filmes de uma trilogia que ele batizou de “Era Uma Vez”: a obra-prima Era Uma Vez no Oeste (1968) e Quando Explode a Vingança (1971). 

Leone passou a década de 1970 trabalhando como produtor, filmando uma cena ou outra de alguns filmes que produziu (e recusando a direção de O Poderoso Chefão). Quando finalmente começou a filmar Era Uma Vez na América, em 1982, não dirigia um filme havia 11 anos. 

Leone tinha planos ambiciosos para o filme. Pediu um roteiro ao autor Norman Mailer, mas as versões de Mailer acabaram sendo mudadas por um comitê de cinco outros roteiristas. Para as funções principais, Leone chamou parceiros antigos: a música ficou com o genial Ennio Morricone, a fotografia com Tonino Delli Colli, que havia trabalhado extensamente também com Pasolini, Dino Risi e Mario Monicelli, e a montagem ficou a cargo de Nino Baragli, com quem Leone havia trabalhado em Era Uma Vez no Oeste

Era Uma Vez na América foi uma produção cara para os padrões de Leone. Era um filme de época, cuja trama começava nos anos 1920 e chegava ao fim da década de 1960. Os personagens principais foram interpretados por dois atores, já que eram mostrados na infância e na vida adulta. As filmagens demoraram dez meses e aconteceram nos Estados Unidos, Canadá, França e Itália.  

Quando terminou a filmagem, Leone tinha nada menos de dez horas de material. A ideia dele era lançar o filme em duas partes de três horas cada, mas a The Ladd Company, produtora do filme, não permitiu, especialmente depois do fiasco de bilheteria de 1900 (1976), de Bernardo Bertolucci, que, com uma duração de 317 minutos, foi exibido em países da Europa e no Japão dividido em dois filmes (e cortado em 70 minutos para exibição nos Estados Unidos).  

Leone aceitou não dividir Era Uma Vez na América em dois filmes, mas sua versão final tinha 269 minutos. Essa versão foi exibida no Festival de Cannes em 1984 e recebeu uma ovação de 15 minutos. Mas nem a empolgação do público do festival comoveu The Ladd Company, que exigiu que Leone cortasse 40 minutos para lançá-lo na Europa.  

Nos Estados Unidos, a machadada foi ainda pior: Era Uma Vez na América foi exibido com apenas 139 minutos, e o estúdio remontou as cenas em ordem cronológica, acabando com a intrincada e lúdica edição de Tonino Delli Colli. Sergio Leone nunca perdoou o estúdio pela chacina cometida contra seu filme. O cineasta morreu cinco anos depois, renegando até o fim a versão que o público norte-americano viu. Felizmente, em 2012, a Film Foundation de Martin Scorsese (sempre ele!) lançou uma versão de 251 minutos, a mais próxima da criada por Sergio Leone.

A versão disponível no Star+, no entanto, é mais próxima da europeia, com 3h44.

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