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Com a lista dos concorrentes ao Oscar revelada, muitos fãs de cinema se revoltaram com a quantidade de indicações (13!!!) para o filme Emilia Pérez, um musical que, por exemplo, traz um número intitulado La Vaginoplastia, prova de como a agenda woke dominou Hollywood. Essa revolta fica maior para quem descobre que uma opção boa para as grandes categorias da premiação era o filme Maria Callas, já em cartaz nos cinemas brasileiros. Com Angelina Jolie no papel titular, o longa-metragem acompanha os últimos passos da cantora de ópera mundialmente conhecida como La Divina.
A nova película fecha a trilogia do diretor chileno Pablo Larraín sobre mulheres famosas com trajetórias conturbadas. Anteriormente, ele abordou a Princesa Diana e Jackie Kennedy. Os filmes tiveram sucesso na badalada premiação, com indicações a Melhor Atriz para Kristen Stewart e Natalie Portman por viverem Lady Di e a viúva de JFK, respectivamente. Portanto é surpreendente que Maria Callas tenha sido somente reconhecido em uma categoria técnica, a de Melhor Cinematografia. Jolie merecia mais do que isso, pois está acima de suas sucessoras na filmografia do latino.
Para começar, ela fez uma imersão na vida da soprano. Aprendeu italiano, fez aulas de canto lírico e estudou ópera por quase sete meses, segundo a publicação Variety, especializada em entretenimento. Fora que a atriz sintetiza no papel todo o peso dramático do fim da vida da prima-dona.
Em parte, isso se dá pelo engenhoso roteiro de Stephen Knight, o criador da série Peaky Blinders. O filme mostra Maria Callas lutando para reconquistar sua confiança com a voz e voltar aos palcos. Em paralelo, ela luta contra uma série de problemas de saúde, em especial o vício em um remédio chamado Mandrax. Como o medicamento é composto por uma substância que pode causar alucinações, Knight decidiu mostrar a loucura de Callas por meio de conversas entre ela e o remédio, encarnado em um jovem documentarista que pergunta a ela sobre sua vida na arte e no amor.
Mais emoções do que Fernanda Torres
Essa escolha, arriscada e capaz de alienar quem esperava uma cinebiografia mais pé no chão, é o que abre caminho para que Angelina possa correr solta no longa-metragem. Os momentos de “viagem” dela e o drama por perder seu homem, o magnata Aristóteles Onassis, permitem que a atriz transite por mais emoções do que Fernanda Torres no badalado Ainda Estou Aqui, para citar uma das finalistas do Oscar.
Há alguns clichês no caminho, como o uso de cenas em preto e branco para flashbacks ou a dublagem malfeita das cantorias – apesar de Angelina soltar o gogó para valer na trilha sonora, o filme a traz dublando suas próprias gravações ou as de Callas (utilizadas quando a soprano é retratada em seu auge). Mas isso não tira o brilho do trabalho de Larraín, diretor que entrega um filme com visual impecável.
A ausência da atriz e até da direção do chileno no Oscar é estarrecedora, mas reflete o estado da premiação, que hoje é muito mais pautada em campanhas publicitárias do que no próprio valor da arte. Qualquer um que assistir a Angelina interpretando de corpo e alma a canção Vissi D'arte entenderá que uma grande injustiça foi cometida. Paciência. Isso não muda o fato de que o filme continua sendo uma obra que vale a ida a uma boa sala de cinema, onde a trilha sonora deve agradar aos fãs de música erudita pela qualidade apresentada e pelo volume do som.
- Maria Callas
- 2024
- 124 minutos
- Indicado para maiores de 14 anos
- Em cartaz nos cinemas