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É bem possível que tenha sido a grande esnobada do Oscar, maior até do que a não indicação de Greta Gerwig na categoria de Direção. Um rápido passeio pelo X na última terça-feira (23), atestava isso: boa parte dos fãs de cinema contava com Natalie Portman concorrendo a Melhor Atriz e Julianne Moore concorrendo a Coadjuvante na próxima disputa de estatuetas. Isso porque as duas estão formidáveis em Segredos de um Escândalo. Se o filme merece ser visto (ele está em cartaz nos cinemas brasileiros e, em breve, chegará na Netflix), é mesmo pelo desempenho de ambas.
O trabalho dirigido por Todd Haynes até foi lembrado em Roteiro Original. Ele conta a história da atriz Elizabeth Berry (Natalie), que parte numa jornada para estudar a história verídica de Gracie (Julianne), mulher que foi presa e enfrentou todo tipo de julgamento da sociedade por, aos 36 anos, envolver-se com um garoto de 13, o estudante da sétima série Joe. A ação de Elizabeth visa montar o quebra-cabeças com o maior número de detalhes para levar o drama daquela personagem dúbia para as telas de cinema. Ironicamente, há até uma cena em que a atriz vivida por Natalie ensaia seu discurso na cerimônia do Oscar, ao ser laureada pelo papel.
Elizabeth conversa com a personagem principal, com o menino que se tornou seu marido, com o marido que foi traído no escândalo, com o filho desse primeiro casamento e com os do atual e vai construindo seu imaginário cinematográfico. Na real, Elizabeth fica obcecada pela história e é isso que deixa o espectador vidrado no longa. Conforme a investigação avança, ela vai pegando os trejeitos de Gracie, sua fala com a língua levemente presa, e virando um duplo em tempo real.
Imoralidades sem respostas
Tamanha obsessão faz Elizabeth invadir espaços que não devia em nome da sétima arte. Ela acaba se envolvendo com Joe e o levando a acreditar que sua adolescência foi desperdiçada em nome daquela história de amor bastante sui generis. Aliás, a invasão vai além do verbal. Em determinado momento da história, o espectador fica sem saber para quem torcer ou o que esperar de uma jornada com tantas trilhas abertas e tantas questões morais sem respostas.
Não é o melhor trabalho de Haynes, que surgiu cintilante com Velvet Goldmine ainda na década de 90, apresentando o universo glam para toda uma geração que não havia vivido a era de plumas e paetês de um certo rock setentista praticado por David Bowie e Roxy Music. Depois, Haynes, encadeou dramalhões redondinhos, muitos deles liderados por Julianne Moore, e cravou sua marca dentro da indústria.
Segredos de um Escândalo é, no máximo, instigante. Mas só um lunático questionaria as performances de Natalie Portman e Julianne Moore. Elas carregam o filme nas costas. Mesmo assim, essa força não foi suficiente para sensibilizar a Academia, que achou vaga até para a eterna "Betty, a Feia" America Ferrera em Barbie, mas não reconheceu o brilho de duas veteranas em atuações típicas de ganhar Oscar. Azar do cinema.