Se você é adulto, talvez esteja na hora de dar um tempo nos filmes de super-heróis. E principalmente parar de levá-los a sério. Eles não são profundos e nem trazem mensagens subjetivas sobre importantes temas contemporâneos. Em síntese, tendem a se parecer com uma grande e descoordenada explosão de fogos de artifícios, com diálogos pobres e roteiro inexistente. O pior: estão matando o cinema.
Vamos aos dados. Em 2003, 455 filmes foram lançados nos Estados Unidos — 275 independentes e 180 vindos de grandes estúdios. Dez anos depois, em 2013, o número passou para 677: 549 independentes e 128 de estúdio. À primeira vista, parecem números para abrir o champanhe e celebrar a vitória do cinema independente, da diversidade de ideias e visões dos realizadores.
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Ledo engano. Mesmo com menos filmes, os estúdios aumentaram a fatia de mercado que abocanham: de 69% para 76%. “Agora você tem menos estúdios ficando com uma fatia maior do bolo e o dobro de filmes independentes lutando por um pedaço menor. Isso é difícil, muito difícil”, afirmou o diretor Steven Soderbergh (“Onze Homens e Um Segredo”) no 56º Festival Internacional de Cinema de São Francisco.
Isso leva a uma série de problemas. Com menos dinheiro, fica mais difícil para os filmes independentes serem distribuídos e serem financiados. Você pode até pensar: “quem for bom sempre vai dar um jeito”, mas não é bem assim. No mesmo festival, Soderbergh contou a história de um ótimo filme independente que não arranjava nenhum distribuidor. Ele recebeu uma ligação e foi assistir ao filme. “Quando as luzes se acenderam eu pensei, acabou. Acabou. Ninguém quer comprar este filme. É insano.” A obra em questão era Amnésia, de Christopher Nolan, que depois, ironicamente, dirigiria a trilogia “Batman Begins”, “O Cavaleiro das Trevas” e “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”.
Geração Perdida
No site Flavorwire, Matthew Weiner, criador de Mad Men, um dos melhores seriados de todos os tempos, lamentou que atualmente seja quase impossível fazer um filme com um orçamento que varie entre 500 mil e 80 milhões de dólares.
Nessa faixa se concentram justamente os filmes com temáticas originais e arriscadas. Filmes que não se veem mais. No mesmo artigo no Flavorwire, o autor, Jason Bailey, se pergunta: “quantos diretores dos anos 70, 80 e 90 nós perdemos? Quantos bons filmes — quantos ‘Veludo Azul’, ‘Traffic’, ‘Faça a Coisa Certa’ e ‘O Poderoso Chefão’ — não estão sendo feitos graças ao modelo corrente?”
O modelo corrente ao qual Bailey se refere é um tanto bizarro. Os grandes estúdios fazem de tudo para evitar qualquer tipo de risco. Não dá para culpá-los. Em um negócio que movimenta centena de milhões de dólares, se os espectadores pedem por filmes de super-heróis, você dá a eles exatamente o que eles querem. Por isso um filme como “Batman Vs Superman”, que custou assombrosos 250 milhões de dólares, precisa arrecadar no mínimo 800 milhões para não se tornar um fracasso. Se você ainda não fez as contas, isso equivale a 2,5 bilhões de reais.
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Steven Spielberg, um dos mais brilhantes cineastas de todos os tempos e o homem que criou a cultura do blockbuster com “Tubarão”, aposta que a onda dos super-heróis vai acabar, como um dia o mesmo ocorreu com os faroestes. “Chegará o dia em que essas histórias mitológicas serão suplantadas por outro gênero”, disse em entrevista à Associated Press. Neste dia, os adultos, espera-se, poderão falar sobre coisas de adulto.
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