O cozinheiro apelidado de Alecrim é um dos grandes papéis do ator João Miguel| Foto: Divulgação Paris Filmes
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Quem acompanha o cinema nacional sem preconceito certamente achou alvissareira a notícia de que haveria uma continuação de Estômago (2007), do cineasta curitibano Marcos Jorge. À parte o universo das comédias populares estreladas pelo finado Paulo Gustavo, por Leandro Hassum e outras figuras que se destacaram na Rede Globo, é muito raro um filme daqui ser tão bem-sucedido ao ponto de ganhar uma parte 2. Podemos citar Tropa de Elite e... Qual mais? No horizonte, temos um segundo O Auto da Compadecida previsto para o fim do ano e mais um Bruna Surfistinha prometido para 2025.

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Estômago 2: O Poderoso Chef entra nesse rol de pouquíssimos similares. Dezessete anos depois, o público ganha a chance de reencontrar Raimundo Nonato (João Miguel), migrante nordestino que no primeiro filme aprendeu a arte de cozinhar no “sul maravilha”, mas acabou indo em cana por conta de um entrevero com uma mulher e, lá no xilindró, conquistou os presos com seu tempero criativo – o que lhe rendeu o apelido de Alecrim. Mas a nova produção serve somente para isso: matar a saudade e se divertir com o olhar curioso do mestre cuca encarcerado.

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A história agora contada faz de Alecrim quase que um coadjuvante no longa-metragem. O protagonista é Don Caroglio (Nicola Siri), um mafioso italiano que pinta para abalar as estruturas da casa de detenção. Parte de Estômago 2 explora essa chegada do preso de luxo e a disputa por território dentro da cadeia com Etcétera (Paulo Miklos). A outra parte narra como o italiano, após fracassar como ator, voltou a trabalhar no restaurante da mãe e, por causa de um rabo de saia, acabou se envolvendo com uma das principais famílias mafiosas do país. Essa segunda trama é chata pra dedéu. E, obviamente, não conta com Alecrim nela.

Segura a onda

Quase nada flui bem nessa sequência, ainda que Marcos Jorge assine direção e roteiro (em parceria) mais uma vez. Paulo Miklos, o cantor dos Titãs que virou ator em O Invasor (2001), aqui tem muito mais tempo de tela, mas isso não resulta em cenas engraçadas como as do primeiro filme. Nenhum dos presidiários que o circundam fazem diferença, com destaque negativo para o rapper Projota, um novato nas telonas. A turma de Caroglio também não tem brilho, bem como os demais funcionários da cadeia. Uma impressão que Estômago 2 deixa é a de que várias piadas que funcionavam no papel simplesmente perderam a graça ao serem transportadas para o cinema.

O que resta é Alecrim. João Miguel mais uma vez arrasa dando vida ao inusitado chef, que se arrisca em receitas sofisticadas, seja para agradar Etcétera, seja para conquistar Caroglio. Numa pelada organizada pelos detentos, ele é escolhido para jogar pelo time italiano e surpreende marcando gols decisivos para a vitória. “É o nosso Paulo Rossi”, celebram os europeus, em alusão à partida da Copa do Mundo de 1982 em que a seleção brasileira foi eliminada graças ao oportunismo do atacante da Azzurra. É um dos melhores momentos de Estômago 2.

Fica a lição para quem está com a expectativa muito alta para O Auto da Compadecida 2. Nada garante que o reencontro com Chicó e João Grilo virá dentro de uma grande história – até porque o autor da obra, Ariano Suassuna (1927-2014), pouco tem a ver com esse segundo filme. Pode ser apenas uma chance de rever esses personagens tão queridos, o que é muito pouco quando o filme original está no panteão de grandes realizações do cinema brasileiro, exatamente como o caso de Estômago.        

  • Estômago 2: O Poderoso Chef
  • 2024
  • 131 minutos
  • Indicado para maiores de 18 anos
  • Em cartaz nos cinemas
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