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"Os Colonos" reúne um mercenário americano, um mestiço chileno e um tenente britânico
A expedição pelo sul do continente reúne um mercenário americano, um mestiço chileno e um tenente britânico| Foto: Divulgação Mubi

O Chile marcou presença no último Oscar. O sensível A Memória Infinita (disponível no Paramount+) concorreu na categoria Melhor Documentário em Longa-metragem e o satírico O Conde (atualmente na Netflix) conseguiu indicação em Melhor Fotografia. Mas o que o país desejava mesmo era que Os Colonos fosse lembrado em Melhor Filme Internacional. A estreia do diretor Felipe Gálvez, destaque nos maiores festivais do planeta e muito comparada – pela temática – com O Assassino da Lua das Flores, não disputou a estatueta, porém merece ser assistida por fãs de faroeste.

Disponível na plataforma Mubi, Os Colonos se passa em 1901, quando a Terra do Fogo ainda era um território reivindicado por chilenos e argentinos. A erma região, que ainda é pouco povoada, hoje é conhecida por turistas do mundo todo, que baixam lá, seja do lado chileno ou do argentino, para curtir as geleiras e os parques naturais patagônicos. O que poucos visitantes aprendem quando passeiam por aquelas terras é que elas foram dominadas na base do extermínio de povos originários, inclusive com a ajuda de capatazes meio brancos, meio indígenas.

O angustiado Segundo representa um desses mestiços que cooperaram para o desbravamento do extremo sul do continente. Com o sonho de comprar um cavalo e depois construir sua vida ao mar da ilha de Chiloé, Segundo é recrutado para uma expedição que almeja criar um caminho até o Oceano Atlântico para que o mandão local exporte a lã de suas ovelhas. Lidera a trupe o tenente britânico Alexander MacLennan, auxiliado pelo mercenário americano Bill. O trio de cavaleiros vaga por dias e noites para cumprir a missão, dizimando indígenas e se virando para sobreviver no árido território.

Por um punhado de pesos

Parte da tensão que sustenta Os Colonos reside na relação de Segundo com os gringos. Bill, com experiência em conflitos entre americanos e mexicanos, não confia em mestiços. Já MacLennan reconhece em Segundo um grande atirador e, desde o início da jornada, demonstra não temer ser traído pelo chileno. A traição se dá por meio de outro personagem, numa passagem em que o trio cruza com um outro comando no lado argentino da zona. Este, aliás, é o ápice filme, que segue para um terceiro ato mais didático, sem tiros de espingarda, apenas com violência psicológica.

Para quem não perde um western, gênero tão escasso em produções contemporâneas, Os Colonos vale a pena por mostrar como a realidade e as paisagens patagônicas não divergem tanto das disputas nas planícies do interior dos Estados Unidos. Gálvez opta por takes abertos, que exibem a vastidão daquelas paragens no começo do século passado. Também há a típica brutalidade dos filmes de faroeste, com mortes inesperadas, mulheres abusadas e homens sendo humilhados diante dos seus.

Uma crítica que pode ser feita é que a saga contada em Os Colonos não é exatamente a que se aprende nos livros de história chilenos. O revisionismo é algo que fascina artistas, mas só tem o seu valor quando encarado como uma visão complementar ao que já está consagrado, não como substituto. De qualquer forma, o filme de Gálvez entretém até quem não quer saber de nada sobre a formação do Chile, só quer ver um bangue-bangue com sujeitos impiedosos, movidos pela honra e um punhado de pesos.

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