Justin Kemp (Nicholas Hoult) é um jovem que está muito animado com a chegada do primeiro filho. Enquanto sua esposa enfrenta uma gravidez de risco, ele será chamado para fazer integrar o júri de um tribunal. Logo na primeira sessão, Kemp tem de enfrentar um poderoso dilema moral que pode mudar completamente a sua vida. Essa é a premissa de Jurado Nº 2, o novo filme de Clint Eastwood, que ainda não tem data para estrear nos cinemas do Brasil (podendo até mesmo ser lançado diretamente na plataforma de streaming Max), mas que já entrou em cartaz em alguns países.
Este é o 40º filme do diretor de 94 anos. Mesmo assim, ninguém se atreve a dizer que será o último. Ele próprio declarou que não tem intenção de se aposentar. Apesar da pouca confiança que a Warner parece ter no filme, tendo se esforçado muito pouco para promovê-lo nos Estados Unidos e demorado bastante para organizar sessões com especialistas que podem qualificar Jurado Nº 2 para a disputa do Oscar, estamos diante de um drama judicial bastante envolvente.
É um filme bem Eastwood: acabamento clássico, elenco sólido, bom desenvolvimento de personagens (a promotora vivida por Toni Collette é incrível), atuações convincentes e – novamente – um complexo conflito de consciência. O veterano cineasta faz uma aposta muito arriscada porque, nos primeiros quinze minutos, já exibe todas as suas cartas. Ele coloca o problema sem subtramas, sem efeitos especiais ou portas de saída de emergência. Trata-se de um dramático cara ou coroa. Tudo ou nada. E, ainda assim, Eastwood prova que um único dilema moral pode prender o espectador por 120 minutos.
Não há nada mais dramático do que um conflito de consciência. Um conflito que os protagonistas vivenciam – é um acerto mostrar a liberdade e a responsabilidade de cada um deles –, mas que Eastwood também faz o espectador experimentar.
Estamos perante um filme exigente para quem o assiste. É um longa nada complacente, sobre o qual paira o espírito trágico de grande parte da filmografia do premiado cineasta. Mas, diante de tanta narrativa líquida, relativista, superficial e sem limites morais, diante de tanta polarização de sofá, diante de tanto escândalo hipócrita e, sobretudo, diante de tantas mentiras e fachadas, encarar o espelho do drama humano sem anestesia pode ser muito positivo. Diante do entorpecimento moral e da busca pela felicidade plástica, como é bom um pouco de catarse. Ainda que essa catarse doa.
E como é bom assistir a um filme bem escrito, filmado e executado. Um filme que se conecta com os clássicos e que não trata o público como criança. O cinema de Eastwood sempre nos caiu bem. Isso não mudou.
© 2024 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.
Deixe sua opinião