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Simon Schwarz como o nazista Wolfgang Fürstner, comandante da aldeia olímpica | Martin Valentin Menke/Divulgação
Simon Schwarz como o nazista Wolfgang Fürstner, comandante da aldeia olímpica| Foto: Martin Valentin Menke/Divulgação

Quando a tocha olímpica chegou ao Maracanã no dia 5 de agosto de 2016, o mundo viu o cumprimento de uma tradição que começou há mais de 80 anos, quando Joseph Goebbels, chefe da propaganda nazista, fez da Olimpíada de Berlim uma encenação tão perfeita que foi capaz de convencer o mundo de que o ditador Adolf Hitler era, na verdade, um pacifista. Os detalhes da montagem dessa farsa, que deu ao regime a chance de se preparar com calma para atacar quase toda a Europa, a partir de 1939, são revelados no filme, “Der traum von Olympia” (O sonho da Olimpíada), produzido pela TV alemã ARD.

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O filme parte das perspectivas do nazista Wolfgang Fürstner (interpretado por Simon Schwarz) — membro do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães e comandante da aldeia olímpica — e da saltadora judia Gretel Bergmann (Sandra von Ruffin), a melhor da sua geração, banida da Alemanha por ser judia, depois chamada de volta como medida de propaganda, e por fim impedida de treinar e de saltar.

A viagem da tocha

Planejados a partir de 1931, os Jogos corriam o risco de boicote porque tanto o Comitê Olímpico quanto outros países participantes viam Hitler, no poder desde 31 de janeiro de 1933, como um tirano que era uma ameaça para o mundo.

Submetida às regras ditadas pelo Tratado de Versalhes desde a derrota na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha começava a dar sinais de que descumpria exigências de desmilitarização. Com a máquina de propaganda de Goebbels, Berlim conseguiu, porém, convencer o mundo do “pacifismo” de Hitler. Embora o regime continuasse tão racista quanto antes, os truques de Goebbels deram certo.

Nos quiosques, os jornais nazistas foram substituídos pela imprensa internacional. Durante um ano inteiro, foi mostrada na Alemanha uma exposição sobre os Jogos Olímpicos bastante didática, ensinando como funcionava a avaliação, para aumentar o júbilo e a participação popular no evento.

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Para garantir o efeito de show dos Jogos, o primeiro evento esportivo a ser transmitido pela TV, Goebbels introduziu a viagem da tocha olímpica, que percorreu milhares de quilômetros, da Grécia até o estádio olímpico de Berlim, ideia que entusiasmou o comitê e passou a fazer parte do programa oficial de todas as Olimpíadas desde então.

A viagem da pira olímpica é sem dúvida uma ironia da História: símbolo da paz e da união entre os povos, foi concebida por um dos maiores inimigos do mundo no século 20, Joseph Goebbels.

Baseado no livro do historiador Oliver Hilmes “Berlin 1936 — Sechzehn tage im august” (“Berlin 1936 — 16 dias em agosto”), o filme mostra como foi possível a Hitler ofuscar os alemães, que só quando já era tarde demais descobriram como eram conduzidos pelo seu Führer para o precipício. “Berlim, o epicentro de uma ditadura brutal, parecia uma cidade em clima de festa”, diz Hilmes, que no livro mostra os truques de Goebbels para enganar o mundo.

Conhecida até agora, sobretudo pelas imagens de Leni Riefenstahl em “Olympia” (1938), a Olimpíada de Berlim é mostrada no novo filme da perspectiva dos bastidores: como os nazistas conseguiram encenar o espetáculo e desviar as atenções do mundo das suas intenções reais.

Truques publicitários

Exibindo os acontecimentos sob a perspectiva de personagens históricos, como Gretel Bergmann e Wolfgang Fürstner, Oliver Hilmes mostra como o espetáculo foi possível, derrubando um depois do outro alguns mitos dos Jogos de 1936.

Enquanto nas encenações de Riefenstahl a Olimpíada acontece debaixo de um céu azul durante um verão que teria batido o recorde de tanto sol, na realidade, decifrada por Hilmes nos arquivos, o tempo foi chuvoso e o céu estava quase sempre coberto.

Segundo Hilmes, com a ajuda desses truques, ainda hoje usados na publicidade, a competição de 1936 teve para Hitler um efeito político muito mais importante do que se julgava até agora. “Trata-se do primeiro grande evento esportivo que foi instrumentalizado totalmente pela política”, afirma o autor.

Para desviar as atenções das suas intenções reais, Hitler teria ordenado até uma pausa na política antissemita. O ódio contra os judeus continuava sendo um dos principais programas do partido, mas a política racista foi ocultada dos visitantes.

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