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Rustin

Filme produzido por casal Obama mirou no Oscar mas deve morrer na praia

Por sua interpretação de Bayard Rustin, o ator Colman Domingo foi indicado ao Oscar de Melhor Ator (Foto: Netflix/Divulgação)

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Pela terceira vez, a família Obama estará presente na cerimônia de premiação do Oscar, marcada para 10 de março. Donos da produtora Higher Ground Productions, Barack e Michelle já tiveram uma vitória na premiação, em 2020, com Indústria Americana (Melhor Documentário),e acumulam quatro indicaçõesA dupla tomou gosto pela coisa e vem investindo em projetos feitos sob medida para agarrar mais algumas estatuetas. Esse é o caso de Rustin, longa da Netflix estrelado por Colman Domingo, indicado ao prêmio de Melhor Ator.

O filme é sobre Bayard Rustin, um conselheiro do pacifista Martin Luther King Jr., que ajudou a organizar a Marcha sobre Washington, em 1963, aquela do famoso discurso “I have a dream...”. O movimento foi importante para reforçar a igualdade entre brancos e negros, uma vez que os Estados Unidos ainda se recuperavam do triste período de segregação.

Ao retratar esse acontecimento, o roteiro recupera a atuação do personagem Rustin, que não teve o mesmo impacto de Luther King e acabou esquecido pelo tempo. O projeto dos Obama justifica que isso aconteceu pelo fato do conselheiro ser negro e gay, inclusive criando uma cena que suja a imagem de Luther King: ele demite seu parceiro político apenas pela questão da sexualidade.

Um dia de Domingo 

Apesar de bem escrito, o texto força a barra e usa desse tipo de artifício para defender que Rustin foi vital e, talvez, até maior do que Luther King.  Esse é um aspecto que transforma a produção em algo conhecido como Oscar bait, que pode ser traduzido como “isca para Oscar”. Ao reescrever a história com um bom roteiro (e excessivamente progressista), o filme ganha pontos na Hollywood atual, em que tudo é sobre política.

Esse oportunismo também resvala na interpretação de Domingo. O ator não faz feio e justifica a indicação ao prêmio de Melhor Ator, algo que ajuda a cimentar sua carreira, marcada por bons papéis em A Voz Suprema do Blues, A Lenda de Candyman A Cor Púrpura. Porém, sua versão de Bayard Rustin soa um tanto caricata. Ele quis provar ser um ótimo ator em vez de se aproximar da personalidade real. Isso se comprova em qualquer entrevista em vídeo de Rustin nos anos 1960 ou 1970. O ajudante do líder pacifista tinha um jeito completamente diferente de se portar e falar do que a versão trazida à vida por Domingo.

Comparando o seu trabalho ao do ator irlandês Cillian Murphy, indicado ao mesmo prêmio por sua interpretação do físico J. Robert Oppenheimer, dá para dizer que há um abismo entre os dois. Murphy levará a estatueta sem derramar uma gota de suor – desde que a Academia não decida o resultado por um viés mais político.

Rustin é muito bem-feito, mas não foge de uma questão que assombra a maioria das películas biográficas: nem tudo é verdade. Mesmo que o conselheiro tenha tido um papel no movimento dos direitos civis, ele não foi tão essencial quanto os Obama tentam provar. O projeto do casal vai morrer na praia em 2024.

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