Bruno Tolentino (1940-2007) foi poeta e teve atuação relevante como crítico cultural| Foto: Divulgação/Edu Simões
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Seis anos após começar sua trilogia de documentários sobre o conservadorismo no Brasil, iniciada em 2017 com O Jardim das Aflições, que conta a história de Olavo de Carvalho, o cineasta Josias Teófilo encerrará sua saga com um longa-metragem sobre Bruno Tolentino, poeta e intelectual brasileiro falecido em 2007.

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O Brasil como Ideia está em fase de montagem e deve ser lançado nos cinemas em agosto – ao menos, é isso que espera Teófilo. A escolha de Tolentino como o objeto de estudo deste novo documentário se deu naturalmente, uma vez que o escritor já havia aparecido de alguma forma em O Jardim das Aflições Nem Tudo se Desfaz, o segundo documentário da trilogia que foca nos anos entre as manifestações de 2013 e a eleição de Jair Bolsonaro.

“Bruno Tolentino foi um poeta imenso e teve uma atuação bastante relevante como crítico cultural. E isso se deve ao contexto em que viveu: passou quase trinta anos fora do Brasil e, quando voltou, encontrou um país completamente diferente, e culturalmente decadente”, diz o cineasta, em entrevista à Gazeta do Povo. “Ele trouxe um sopro de renovação não só para a nossa poesia, mas para a cultura brasileira como um todo – apontando o que é ruim, fazendo novas conexões com o passado, valorizando artistas pouco conhecidos.”

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Direita ignorou a cultura 

O documentário pretende apontar, a partir da visão crítica de Bruno Tolentino, como a cultura brasileira foi dominada por grupos de influência que se pautam somente por eventos como a Semana de 22, a Tropicália e o Modernismo, ignorando todo o resto da produção cultural. O objetivo deste encerramento para a saga de documentários é justamente trazer a cultura para o centro dos debates.

“A direita, especialmente o governo de Jair Bolsonaro, ignorou solenemente a cultura. A esquerda usa a cultura para impor pautas identitárias, ou seja, fazer propaganda. É preciso pensar a cultura para entender o Brasil, a nossa identidade, o que temos de comum. Um país não se mantém sem cultura, sem identidade cultural”, afirma Teófilo.

A poesia produzida por Tolentino será destacada no filme. Teófilo cita a obra As Horas de Katharina como uma das principais do autor. “Poucas vezes, a arte brasileira chegou tão longe, ou tão alto – é uma obra profundamente religiosa, em que o drama do pecado, da morte e da salvação está presente”, exalta. Os ensaios do escritor também devem se fazer presentes, principalmente O Mundo como Ideia, que inspirou o título do novo filme.

Essa apresentação, além de incentivar o pensamento crítico da nova direita, também pode ajudar a levar o conjunto da obra do pensador a novos leitores. “Lembro quando, após o lançamento de O Jardim das Aflições, o editor da Vide me disse que o livro homônimo teve picos de venda. Certamente, o documentário vai trazer atenção à poesia de Tolentino”, espera o cineasta.

Depoimentos de peso 

Para a montagem do documentário, Josias Teófilo está utilizando imagens de arquivo e entrevistas realizadas com alguns dos principais pensadores da direita no Brasil. Os nomes confirmados até agora pelo diretor são Jayro Xavier, Dante Gallian, Wagner Carelli, Erico Nogueira, Ronald Robson, Stella Caymmi, Pedro Sette-Câmara, Joel Pinheiro da Fonseca, Georgiana Arca, Rodrigo Duarte Garcia e Alexandre Soares Silva.

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Com exclusividade, Teófilo também já divulgou o pôster do filme, feito a partir de uma fotografia dele do Mosteiro de São Bento, em Olinda. A escolha ocorreu pela arquitetura barroca do local, que tem como característica a “contradição entre corpo e espírito e a exuberância”, citadas pelo cineasta como características da poesia de Bruno Tolentino.

O pôster do documentário "O Brasil como Ideia"| Foto: Divulgação/Josias Teófilo

A ideia é que, antes da chegada do documentário em plataformas de vídeo sob demanda, haja sessões especiais com debates. Com sorte, Teófilo não deve encontrar a mesma resistência de quando 
apresentou O Jardim das Aflições na Universidade Federal de Pernambuco, em 2017. “Espero que não ocorra um infortúnio como esse, mas essa possibilidade existe. Inclusive, eu diria que a censura está mais presente hoje do que quando lancei O Jardim das Aflições. Inclusive, tentam torná-la institucionalizada com a PL 26030. A esquerda ficou ainda mais intolerante nos últimos anos.”