Documentário “From the River to the Sea” reflete sobre embate entre Israel e Palestina| Foto: Brasil Paralelo/Divulgação
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Há pouco mais de um ano, no dia 7 de outubro de 2023, jovens dançavam e se divertiam em um festival ao ar livre em Israel. Na rave, como são chamadas as festas de música eletrônica, cerca de 3.500 pessoas preocupavam-se apenas com temas como paz, amor e união. De repente, membros do Hamas invadiram o evento, matando 364 pessoas e fazendo pelo menos 40 reféns. Esse dia marcou o início da atual guerra entre Israel e os grupos terroristas do Oriente Médio. A data também serve como o pontapé de From the River to the Sea, o novo documentário da Brasil Paralelo. 

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“Eu vou morrer como uma judia no Holocausto”, foi o que sentiu a brasileira Rafaela Treistman, que estava presente no festival e foi entrevistada para o longa-metragem. Em sua participação, ela relata a crueldade dos integrantes do Hamas: eles jogavam granadas dentro de bunkers com inocentes para tirá-los da proteção e atirarem contra eles. “Na minha infância inteira como judia, escutei sobre o Holocausto. Você se encontra num espaço pequeno, com gás, cheio de judeus… A primeira coisa que vem na sua cabeça é isso.” 

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O depoimento dela é chocante. Não só por relatar as agruras que iniciaram a guerra, mas por trazer o impacto causado pelo embate entre Israel e Palestina para perto do Brasil e do Ocidente. E, infelizmente, esse não é o único momento triste do documentário. 

Com uma equipe in loco, a Brasil Paralelo entrevistou vítimas, membros das Forças de Defesa de Israel, historiadores e até ex-terroristas, como Mosab Hassan Yousef, filho de um dos fundadores do Hamas. É a partir desse material que surgem histórias terríveis sobre torturados com pregos e até de recém-nascidos degolados. 

Parcialidade parcial

From the River to the Sea tem duas horas e dezoito minutos de duração e se revela um dos produtos mais abrangentes sobre o assunto. A ideia da empresa era justamente reunir o máximo de histórias sobre o tema. “A gente começou a ver que muito do que estava sendo discutido era com base numa tremenda falta de informação. E que poucas pessoas estavam indo, de fato, para lá e ouvindo as pessoas que foram criadas nessa cultura”, explicou Filipe Valerim, um dos fundadores da Brasil Paralelo, durante evento de estreia do documentário em São Paulo.  

A ideia de Valerim e do streaming também era a de oferecer um produto imparcial, sem necessariamente escolher lado. Isso é cumprido em boa parte do documentário. Porém, próximo ao fim, ele toma totalmente o partido de Israel, amontoando explicações não tão detalhadas sobre a diferença entre xiitas e sunitas e sobre o envolvimento de países como o Irã no conflito.

O rabino Oury Amos Cherki entre os fundadores da Brasil Paralelo, Lucas Ferrugem e Filipe Valerim| Foto: Brasil Paralelo/Divulgação
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A escolha dos depoimentos de encerramento também constrói um discurso que dá a sensação de que grande parte dos muçulmanos são perigosos. “No mundo muçulmano, há uma expressão chamada Jihad Hashaket. Que significa que, quando um muçulmano se encontra em um país ocidental liberal, ele continua pensando: nossa arma é o ventre das nossas mulheres", crava Eliyahu Yossian, um ex-membro da inteligência militar israelense.  

Ouvir isso sem um contraponto de um palestino ou até de um especialista, como é apresentado em From the River to the Sea, reforça a aversão ao islamismo que a película acaba causando no espectador. Mas basta uma rápida busca pelo termo “Jihad Hashaket” no Google para descobrir que não há nenhuma outra menção a isso, a não ser no próprio site da BP.

(O streaming procurou a reportagem e explicou que o termo adotado é uma '"transliteração" do termo "جهاد هادئ", disponível no idioma fuṣḥā, uma variante do árabe que é utilizada no Corão. Uma possibilidade de tradução é "luta silenciosa".)

Barriga de terrorista 

Não que “Jihad Hashaket” seja uma falácia, afinal existem inúmeros relatos sobre a “jihad sexual”, prática em que mulheres simpatizantes do extremismo se voluntariam como "barriga de aluguel", por assim dizer, de terroristas. “As autoridades disseram ter prendido um número grande de mulheres e meninas nas cidades de Chaambi [na Tunísia], muitas delas acusadas de ter relações sexuais com os militantes, em uma suposta campanha para elevar a moral dos combatentes”, relata o jornalista egípcio Ahmed Maher, em um texto publicado pela BBC. Ou seja, há um fundo de verdade na fala de Yossian, mesmo que a falta de outras fontes coloque uma pulga atrás da orelha.

Já outro entrevistado do documentário, o rabino Oury Amos Cherki, afirma que essa “é uma guerra decisiva na grande luta entre o bem e o mal", vendendo a ideia de que a guerra talvez seja muito mais uma questão de “certo e errado” entre judaísmo e islamismo. Essa simplificação da questão do Oriente Médio não parece ser intencional, mas fruto da escolha de lançar o material denso como um documentário longuíssimo em vez de uma minissérie com mais contrapontos. É por isso que a tal da “imparcialidade” acaba caindo por terra. 

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Apesar desse vacilo, o longa-metragem da Brasil Paralelo, que já coleciona mais de dois milhões de visualizações no YouTube (onde foi disponibilizado em seis idiomas), é um ótimo material de propaganda antiguerra. É impossível assisti-lo e sentir que a situação deve continuar como está, pois dezenas de fatos apresentados fazem o estômago de qualquer pessoa revirar. From the River to the Sea também serve para ressaltar que Israel não poupa esforços para encerrar o embate, desde que sua existência não seja posta em xeque. 

  • From the River to the Sea
  • 2024
  • 138 minutos
  • Indicado para maiores de 18 anos
  • Disponível na Brasil Paralelo e no YouTube
Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]